domingo, 1 de março de 2009

MURMÚRIOS DE AVALON V

O Cientista Romântico
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O cientista dormia dentro do seu tubo de ensaio. Era um minúsculo ser humano, mais pequeno que o próprio tubo e eu percebi imediatamente que ele tinha sentido de humor.
"Olá."
"Olá."
"Sabes o que venho perguntar-te, não sabes?"
"Ouvi dizer que andavas à procura duma palavra."
"Quem te disse?"
"O Astronauta que sofre de vertigens."
"Ah. Tenho saudades dele ..."
"Eu sei que sim. Éramos giros, nessa altura, não éramos?", e sorriu, mas não melancolicamente. Sorriu como se isto fosse apenas um facto da vida, perfeitamente encaixado e resolvido.
"Muito. E autênticos."
"Sabes quem eu sou, não sabes?"
"Sei. És o que eu poderia ter sido, quando hoje em dia me lamento por não ter seguido a área das ciências."
"Exactamente. Física quântica."
"Foi difícil?"
"Sim e não. Foi um desafio. Houve alturas em que quase desisti. Mas depois, quando se ultrapassa aquele ponto de não retorno e se entra no fluxo, acabam-se as dúvidas."
"O fluxo?"
"Quando falares com o biólogo, vais perceber."
"E então, tens algo para mim?"
"Planetas, estrelas, buracos negros, galáxias, luz, electrões, fotões, quarks, cores, sabores, escolhe.", e sorriu de novo, como se fosse um vendedor de fenómenos estelares e me estivesse a mostrar um catálogo do Universo.
"Qual é a linguagem das estrelas?"
"A mesma que a dos quarks e a dos seres vivos. A linguagem universal. A matemática.", e levantou as sobrancelhas, sabendo que a palavra "matemática" era quase sempre uma complicação para quem quer que fosse o seu ouvinte.
"Suponho que seja bela, a matemática."
"É verdadeiramente bela. E complexa. Mas muito simples, na verdade."
"Consegues reduzir-te a uma equação?"
"Bem, isso gostávamos nós. Procuramos há anos a Teoria de Tudo ou a Equação de Tudo. Sabes o que é?"
"Uma equação que concilie finalmente a teoria quântica com a teoria da relatividade."
"Exactamente. Mas o impasse dura há décadas. O problema todo está na gravidade. Não há maneira de a conseguirmos incluir. É torcida, a menina.", e riu-se com a sua piada astronómica.
"Portanto, andas como eu. Em busca da equação."
"Sim, e não te posso ajudar. Uma palavra é como uma equação, suponho."
"Agradeço-te por não teres dito que seria mais fácil."
"Nem me atreveria a tal. Imagino bem a complicação que deve ser."
"O que pensas tu da minha linguagem?"
"Penso que é necessária. O ser humano precisa de poesia."
"Mas achas que é retrógrada, ultrapassada?"
"Talvez. Caminhamos sempre para o mais simples. E o mais simples são os números. Apesar de parecerem mais complicados."
"E existe poesia nos números?"
"Quando os números conseguem descrever uma explosão de supernova, a gravidade à superfície de um buraco negro ou o princípio da incerteza ao nível quântico e a possibilidade da existência de mundos paralelos ... sim, então há poesia nos números."
"Que número me sugeres, nesse caso?
"O zero. É o número que possibilita quase todos os outros. É o princípio de tudo. É a ausência. O antes e o depois. O início e o fim."
"Deixo-te a dormir a sesta. Boa sorte, cientista."
"Boa sorte para ti também."

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