segunda-feira, 2 de março de 2009

PALAVRAS ESTÚPIDAS 51

Preto
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Não gosto de escrever com preto.
Gosto de azul, azul claro, azul escuro e azul céu. Gosto de lilás, ocasionalmente cor-de-rosa, dourado e prateado, às vezes bordeaux, raramente cor-de-laranja, jamais com encarnado, amarelo e verde.
Não gosto de escrever com preto. Gosto de preto, preto no écran não me faz confusão, carvão de lápis adoro, canetas pretas não mas ponham à frente!
Também não gosto de escrever com ponta fina.
Ponta grossa, ok. Ponta média é o ideal.
Lápis têm de estar sempre muito bem afiados, claro.
Detesto borrachas cor-de-laranja e azuis, daquelas que em vez de apagarem, pintam a folha de cor-de-laranja e azul ...
Já tive a minha fase de canetas de tinta permanente, mas acabou aos 20 anos. Detesto borrar folhas, dedos e mangas.
Prefiro sempre papel pautado a liso e não me ponham quadriculado à frente que eu tenho um ataque de apoplexia!
Se escrever em papel liso, a minha escrita é embriagada para cima e para a direita.
Escrevo sempre de lado.
Tenho um calo no dedo médio da mão direita que já foi muito maior. Com o advento dos computadores parou de crescer.
Não escrevo muito de manhã, escrevo às vezes à tarde e escrevo muito à noite.
Às vezes os melhores textos nascem às 4 da manhã e tenho que acender a luz e escrevê-los logo.
Escrevo depressa e às vezes consigo estar a olhar para outra coisa qualquer e escrever ao mesmo tempo.
Às vezes é fácil escrever. Outras vezes dói como o caraças. Outras ainda é como arrancar picos dos dedos. Às vezes flui como água suave e límpida. Outras vezes é uma latrina de dejectos e borrões.
Ter um cigarro na boca ou na mão esquerda ajuda, não sei porquê.
Quando o calo dói, é bom sinal.
Escrevo em blocos, post-its, bocados de papel, costas de envelopes, maços de cigarros, guardanapos, cadernos, na mão, dentro da cabeça.
Também escrevo na areia, no colo, na cama, no autocarro, em pé, sentada e deitada.
Escrevo no trabalho, à espera do autocarro, no metro, no comboio, a ouvir música, em bares, enquanto vejo um filme, na praia, a passear, em aviões, em restaurantes, a dormir.
Escrevo para mim, para os outros, para ninguém e para toda a gente.
Escrevo a minha vida, a dos outros, a dos que invento e a dos que não existem.
Escrevo o passado, o presente, o futuro e o paralelo.
Escrevo o que me pedem, o que me obrigam, o que me pagam e o que quero.
Escrevo o que acho que não consigo, o que sei que consigo e o que não sei se vou conseguir escrever.
Escreveria com as unhas se tivesse que ser. Com o meu sangue se a isso fosse forçada. Esvair-me-ia a mim própria para ter tinta para escrever.
Não me peçam é para escrever com preto!

1 comentário:

Dry-Martini disse...

Minha cara,

Com textos como estes quem é que repara na cor .)

XinXin