DKºÇD
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"Oh dear! Oh dear! I shall be too late!" Rabbit em Alice no Pais das Maravilhas
DKºÇ
Gosto de estafetas.
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Gosto de estafetas.
São todos marados. Têm todos uma panca do caraças. Nunca vi nenhum que não tivesse e quando não têm é porque não têm dentro de si o verdadeiro espírito de Mercúrio.
Tem que haver panca. Eles andam sempre tão depressa, que o tempo deles é diferente do nosso. Andam mais à frente. Falam mais à frente. Partem ou chegam atrasados, sempre atrasados (como o coelho da Alice) e por isso o tempo deles é diferente do nosso. É o tempo dos Mercúrios de Lisboa.
DKºÇD
São uns esgrouviados simpáticos. Têm asas nos pés. Aquilo não são rodas. São asas de 200 e 300 cilindros (não sei, não percebo nada de motas nem de cilindradas).
Às vezes perdem-se e andam a leste e irritam-se. Outras vezes caem e espatifam-se todos, coitadinhos. Quando não se espatifam, fazem verdadeiras acrobacias espaciais para dobrar o tempo. Por isso o espaço dos Mercúrios também é diferente do nosso. E a temperatura. Andam sempre cheios de calor, por baixo dos capacetes que às vezes nem tiram (porque dá trabalho e para quê?, se daí a 5 minutos vão ter que os pôr outra vez?) e daqueles blusões de pele cheios de zips e botões e bolsos onde guardam os cartões, e o dinheiro e os papelinhos e os telemóveis e …
DKºÇD
É por isso que os Mercúrios de Lisboa são esgrouviados. Eles movem-se num tempo e num espaço diferente do nosso, como se andassem por aí numa dimensão paralela, mas visível. É difícil apanhá-los, é difícil entendê-los. Eles lá se entendem entre eles, e as suas motas e os seus capacetes.
Uma vez estava a fumar no corredor e ouvi uma voz cavernosa dizer-me "Não devia fumar. Fumar faz mal." Assustei-me. Parecia que a voz vinha de dentro de um túnel. Virei-me, à espera de ver o Darth Vader a respirar ruidosamente para cima do meu ombro. Mas não. Era só um estafeta que não tinha tirado o capacete.
DKºÇD
Um dia, há uns 3 anos atrás, tive o imenso privilégio de partilhar um momento "pause" com um Mercúrio de Lisboa, que por acaso era brasileiro. Estes momentos de "pause" inter-dimensionais são raridades absolutas e, por isso, guardo-o com tanto apreço como o outro do Darth Vader.
Tem que haver panca. Eles andam sempre tão depressa, que o tempo deles é diferente do nosso. Andam mais à frente. Falam mais à frente. Partem ou chegam atrasados, sempre atrasados (como o coelho da Alice) e por isso o tempo deles é diferente do nosso. É o tempo dos Mercúrios de Lisboa.
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São uns esgrouviados simpáticos. Têm asas nos pés. Aquilo não são rodas. São asas de 200 e 300 cilindros (não sei, não percebo nada de motas nem de cilindradas).
Às vezes perdem-se e andam a leste e irritam-se. Outras vezes caem e espatifam-se todos, coitadinhos. Quando não se espatifam, fazem verdadeiras acrobacias espaciais para dobrar o tempo. Por isso o espaço dos Mercúrios também é diferente do nosso. E a temperatura. Andam sempre cheios de calor, por baixo dos capacetes que às vezes nem tiram (porque dá trabalho e para quê?, se daí a 5 minutos vão ter que os pôr outra vez?) e daqueles blusões de pele cheios de zips e botões e bolsos onde guardam os cartões, e o dinheiro e os papelinhos e os telemóveis e …
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É por isso que os Mercúrios de Lisboa são esgrouviados. Eles movem-se num tempo e num espaço diferente do nosso, como se andassem por aí numa dimensão paralela, mas visível. É difícil apanhá-los, é difícil entendê-los. Eles lá se entendem entre eles, e as suas motas e os seus capacetes.
Uma vez estava a fumar no corredor e ouvi uma voz cavernosa dizer-me "Não devia fumar. Fumar faz mal." Assustei-me. Parecia que a voz vinha de dentro de um túnel. Virei-me, à espera de ver o Darth Vader a respirar ruidosamente para cima do meu ombro. Mas não. Era só um estafeta que não tinha tirado o capacete.
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Um dia, há uns 3 anos atrás, tive o imenso privilégio de partilhar um momento "pause" com um Mercúrio de Lisboa, que por acaso era brasileiro. Estes momentos de "pause" inter-dimensionais são raridades absolutas e, por isso, guardo-o com tanto apreço como o outro do Darth Vader.
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Era Natal. A nossa árvore estava montada na entrada. Era grande e bonita.
Ele chegou. Chegam sempre em modo fast forward, a pairar alguns milímetros acima do chão para não perderem o andamento. Mas tinha que esperar um bocadinho porque o CD para a gráfica ainda estava a acabar de gravar. Eles odeiam esperar. Perde-se muito tempo, percebem?, e não é só isso - perde-se o balanço. E para quem anda sempre à média de cento e tal à hora no mínimo, é complicado abrandar de repente e até mesmo parar ou poisar (nunca repararam que um estafeta nunca está quieto, mesmo quando fica à espera que assinemos o papel?)
Ele chegou. Chegam sempre em modo fast forward, a pairar alguns milímetros acima do chão para não perderem o andamento. Mas tinha que esperar um bocadinho porque o CD para a gráfica ainda estava a acabar de gravar. Eles odeiam esperar. Perde-se muito tempo, percebem?, e não é só isso - perde-se o balanço. E para quem anda sempre à média de cento e tal à hora no mínimo, é complicado abrandar de repente e até mesmo parar ou poisar (nunca repararam que um estafeta nunca está quieto, mesmo quando fica à espera que assinemos o papel?)
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O ideal para eles seria nós entregarmos as coisas tipo estafeta olímpica dos 4x100. Eles passavam, nem saíam das motas (nenhuma desculpa para tirar o capacete, fixe!), a gente passava-lhes a encomenda e vuuuuuichhhhh!!! lá iam eles, sem parar, sempre sem parar, deixando a flutuar atrás de si os papelinhos das entregas.
Mas às vezes atrasamo-nos (nas agências de publicidade é tudo para ontem ou para anteontem, nunca para amanhã e pronto ... também é complicado mas isso é outra história), encontramos um erro à última da hora que ninguém detectou na porcaria do folheto e temos que gravar o CD outra vez e os CD's demoram a gravar porque as coisas são pesadas.
Mas às vezes atrasamo-nos (nas agências de publicidade é tudo para ontem ou para anteontem, nunca para amanhã e pronto ... também é complicado mas isso é outra história), encontramos um erro à última da hora que ninguém detectou na porcaria do folheto e temos que gravar o CD outra vez e os CD's demoram a gravar porque as coisas são pesadas.
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Convidei-o a sentar-se (uma ousadia enorme da minha parte ... um Mercúrio sentar-se??!!!!). Mas era Natal. Talvez tenha sido por isso. Ele sentou-se na cadeira ao pé da árvore, meio deslocado porque os Mercúrios não estão habituados a mais nenhum tipo de acento a não ser os selins das motas.
Depois disse, numa voz doce e cheia de saudade:
"É bonita a árvore.”
"Gosta?", sorri.
"É ... eu tava olhando pra ela e tava lembrando da árvore da minha mãe, lá no Brasil. É grande, assim.”
E ficou ali sentado, a descansar do tempo Mercuriano, com aquele olhar doce, a descrever a árvore da mãe, num momento inédito que ficou em "pause" para sempre na minha memória.
kglfkgçl
Depois disse, numa voz doce e cheia de saudade:
"É bonita a árvore.”
"Gosta?", sorri.
"É ... eu tava olhando pra ela e tava lembrando da árvore da minha mãe, lá no Brasil. É grande, assim.”
E ficou ali sentado, a descansar do tempo Mercuriano, com aquele olhar doce, a descrever a árvore da mãe, num momento inédito que ficou em "pause" para sempre na minha memória.
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Depois o CD acabou de gravar e lá foi ele, cheio de pressa, já tão atrasado, pô! tão atrasado ...
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