sexta-feira, 25 de maio de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XXX

O Pantera Negra
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Árvore centenária do Jardim Botânico
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Há algumas semanas deu uma coisa má ao Pantera Negra.
O país e o mundo (lá estou eu a plagiar o Rodrigo Guedes de Carvalho) ficaram preocupados. Mas os lisboetas ficaram mais. Porque o Pantera Negra pode pertencer ao país e ao mundo, mas desculpem lá, é um bocadinho mais nosso. E por isso os alfacinhas ficaram todos um bocadinho murchos.
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E eu lembrei-me, enquanto o via já fresco que nem uma alface na entrevista com a Judite, do dia em que, há uns 7 ou 8 anos atrás, tive o incrível privilégio de trabalhar com o Pantera Negra.
Não percebo nada de futebol, mas quando vejo imagens antigas na TV percebo que estou a ver alguém a criar arte com uma bola entre os pés. É ele e o Pelé. Algumas vezes também o Figo. De resto não percebo nada.
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Fomos filmar um anúncio no Estádio da Luz, sob um sol abrasador de Maio. Havia duas frases para decorar, que levaram uma tarde inteira para conseguirem ser gravadas de forma decente. O realizador italiano (um ganda maluco) corria dum lado para o outro com o seu altifalante, como se estivesse a filmar uma obra-prima da Cinecitá. E eu fui incumbida de ir ajudar o Pantera a decorar o texto. Fui encontrá-lo sentado numa cadeira, na base das escadas de um dos acessos ao balneário, debruçado sobre o papel, nervoso, a pingar suor debaixo do fato completo obrigatório para a gravação.
Perguntei-lhe se precisava de ajuda, mas a minha timidez de pouco adiantou. E fiquei ali, meia apatetada, enquanto observava um dos maiores ídolos do planeta a lutar com a porcaria de duas frases que eu tinha escrito. E a repetir incessantemente "Eu consigo! Eu consigo!”, com uma convicção enternecedora.
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O Pantera Negra sobreviveu a tudo naquela tarde. Ao calor insuportável, ao fato e gravata asfixiantes, à bodega das minhas frases que se lhe entaramelavam na língua vezes sem conta e ao italiano doido e histérico, que corria de um lado para o outro com o megafone irritante e a boina à Felini ridícula.
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No final da tarde, quando já estávamos todos de rastos e prontos para estender os pés, apareceu no relvado subitamente uma excursão de miúdos espanhóis que vinham ver a "Catedral". Levaram de bónus e olhos arregalados com o Pantera Negra.
Eusébio despiu o casaco, arrancou a gravata incómoda, aliviado, e correu para ir dar toques com os putos e marcar-lhes golos nas balizas imaginárias. Estava fresco que nem uma alface e, agora sim, feliz que nem um puto.
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E eu, nesse dia, descobri dois dos segredos do Pantera Negra - humildade e determinação.
E enquanto via a entrevista da Judite, no momento em que Eusébio recordava como enquanto os seus colegas iam comer, ele continuava a treinar sózinho e sem apanha-bolas remates à baliza e livres, recordei-o sentado na cadeira a lutar sózinho com as minhas duas frases ridículas e percebi o terceiro segredo do Pantera Negra – um Pantera é sempre um Pantera, dentro ou fora do campo.
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