quarta-feira, 28 de novembro de 2007

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 10 (cont.)

Capítulo 3. O MUNDO ERA TÃO RECENTE QUE MUITAS COISAS AINDA NÃO TINHAM NOME


Ficou de tal modo entusiasmado que julgou ver um movimento no canto do olho. Virou a cabeça bruscamente. Mas eram apenas sombras, claro. Manchas de cor avermelhada, que por vezes "via" na sua escuridão eterna.
Era estranho, sem ser estranho. Agora que vivia sempre de noite, era como se tudo fosse possível, sempre. À noite tudo parece possível.
Não tinha sido durante a noite que aquela ideia lhe tinha surgido, mas durante uma tarde em que tentava ler a porcaria dum livro em Braille. Não conseguia nem queria atinar com aquilo e arremessou o livro contra a janela, num acesso de raiva que lhe valeu um vidro partido e uma visita do Dr. Apple para lhe prescrever mais uma caixa de Valium.
O Valium não tinha apenas por objectivo mantê-lo mais calmo. Havia as dores nas costas, que às vezes se tornavam insuportáveis devido à posição que mantinha todo o dia na cadeira. Apesar da remota hipótese de recuperação que qualquer pessoa teria certamente agarrado desesperadamente, havia-se recusado a fazer fisioterapia. Era simples. Não queria durar muito mais tempo naquela situação. Queria morrer. Mas desde a última vez que tentara e falhara, adiara a prossecução do seu objectivo. Entretanto, o Valium fora racionado por Clara, depois da tentativa de suicídio, o que lhe dificultara bastante as coisas.
Sentou-se na cama. Era patético. Nem conseguia pôr fim à vida.
Percebeu pelos ruídos da casa que as primeiras horas da madrugada já tinham chegado. Clara levantava-se sempre muito cedo. A empregada já tinha saído para as compras e o motorista já andava na garagem a remexer em ferramentas.
Só assim conseguia perceber as horas. Pelos movimentos dos outros. A sua cegueira era total, caso raro. As manchas que via não se deviam à luminosidade exterior, mas por vezes confundiam-no, quando se esquecia disso. Às vezes julgava ver movimentos onde não havia nada para ver.
Wolf entrou no quarto e saltou-lhe para cima da cama, lambendo-o.
"Tu és o único que provavelmente me entende …"
Acariciou-lhe o dorso repetidas vezes.
"Tu sabes exactamente aquilo que eu sinto. Hein, Wolfy."
O setter lambeu-o novamente e aninhou-se nos seus braços. No passado teria querido brincar. Mas percebera ao fim de pouco tempo que o dono não podia brincar como no passado e resignara-se.
"Hoje vais conhecer a Emily."
Wolf ganiu e fixou o dono, mas não obteve reacção, a não ser um aperto no focinho.
Com o cão podia dar-se ao luxo de ser ele mesmo, não sabia muito bem porquê mas sempre fora assim. Era irónico que o único ser que assistia sistematicamente à verdadeira revelação da sua personalidade livre de qualquer censura auto-infligida, fosse um ser desprovido de consciência de si próprio e, por consequência, sem capacidade para oferecer realidade a essa mesma revelação.
Muitas vezes interrogava-se sobre o que pensariam as pessoas se o vissem como ele era com o cão. E outras vezes interrogava-se sobre o que pensaria o cão, se soubesse distinguir a diferença entre estar sozinho com ele e acompanhado por outras pessoas e se, de alguma forma, o animal teria capacidade para sentir algum tipo de alteração no seu comportamento.
Quando estava com Wolf não era arrogante, mimado, frio, calculista ou sarcástico. Mas assim que entrava em contacto com outra pessoa, todas essas características emergiam como por magia negra, sem que ele pudesse fazer nada para o controlar. E o acidente só viera exacerbá-las ainda mais, como se tivesse também servido para enterrar ainda mais qualquer hipótese de salvação de uma alma atormentada e encerrada em si própria.
"Vamos ver se ela nos consegue ajudar, hein?"
O dia passou devagar. Tentou ouvir um pouco de música na sala, mas desistiu. Depois do almoço refugiou-se na biblioteca, junto à janela com Wolf, que chegou a adormecer no seu colo, por baixo da manta verde.
Quando ouviu o batente na porta, percebeu que tinha adormecido também e que tinha tido o sonho sem imagens novamente. Acordou assustado, transpirado e com falta de ar.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

PALAVRAS EMPRESTADAS 29




çlfºçdlfºçd

"Don't Need A Gun”
lgçlfdgç
A human heart goes out tonight
Yes a red hot love on a red stop light
klgçlfkg
I see a scene so cold it echoes in blue
Oh those twisting tongues they are after you
klgçlfkg
Wop bop a lu bop Son you gotta move up
Flip flop fly
Lawdy Miss Clawdy
Of what a story dreams to buy
Don't need a knife to violate my life
It's all so insane
klgçlfkg
When the other man has none
You don't need a gun
Yes a Russian roulette no fun
I don't need a gun
I just need someone
I don't need a gun
klgçlfkg
Blood red lights a domination street yeah
Just need your love and I feel that heat yeah
You can drive me through
That red stop light
With a whiplash smile
klgçlfkg
Wop bop a lu bop Son you gotta move up
Flip flop fly
Lawdy Miss Clawdy
Of what a story dreams to buy
Don't need a knife to violate my life
It's all so insane
klgçlfkg
When the other man has none
You don't need a gun
Yes a Russian roulette no fun
I don't need a gun I just need someone
I won't need a gun Oh yeah
klgçlfkg
You will always be crying yeah
Oh you will always be dying
Oh you will always be dying
klgçlfkg
Elvis a fight the dying light
Johnny Ray he's always crying
Gene Vincent he cried who slapped John, John, John.
klgçlfkg
Yes and me, I'm movin', movin', movin', movin' on.Yeah to be someoneI don't need a gun.

kjklfjg

Billy Idol

domingo, 25 de novembro de 2007

EM BUSCA DE PALAVRAS 1

Assassinos e Frangos
ldkçldk
Estou a ser invadida por um personagem. É uma sensação entusiasmante. Há personagens que ficam connosco anos e não atam nem desatam (há 3 anos – o tempo passa depressa, chiça ... que ando a incubar um escritor de meia idade às voltas com uma leitora intrometida, um personagem que quer sair e o seu inconsciente, que não o deixam em paz, e o raio do homem não se decide o que quer fazer e anda-me a dar a volta aos miolos). Há outros personagens que pura e simplesmente saem, sem traumas, naquilo que se pode chamar de um parto normal.
Este foi assim, ou está a ser assim. Uma noite estava a pensar em morte e a ideia surgiu assim do nada. E ele apareceu. Pensei que era uma ideia engraçada e julguei que ia incubar durante alguns meses, como é costume. Mas qual quê? Népias. No dia a seguir o tipo já estava a querer sair com a força toda. A exigir que eu o escrevesse. Eles nunca são mal-criados, diga-se. São doces e firmes, exactamente como este foi. “Escreve-me”, dizia ele. E eu comecei a escrevê-lo. Não há nada a fazer. Nem sequer vale a pena lutar contra isso. Eles é que mandam, sempre. Quem escreve sabe do que estou a falar.
Agora, o que acontece é que este personagem é nada mais nada menos do que um assassino contratado. O que significa que eu vou passar os próximos meses mergulhada em espingardas automáticas com mira de longo alcance, assassínios a sangue frio e outras coisas muito interessantes, que vêm mesmo a calhar nesta altura do Natal. Mas pronto.
Isto tudo para explicar que passei uma tarde inteira a fazê-lo falar (leia-se, a criar diálogos entre ele e uma outra personagem que está a sair de forma mais tímida) e depois lembrei-me que tinha de ir tratar de um frango. Ora bem. Quem me mandou a mim comprar um frango cru inteiro? Já sabia que o tinha de lavar, mas ... e lá dentro? Telefonema de urgência à mãe – é para isto que as mães existem, certo? “Tens que lhe tirar os pulmões.” Pulmões? Os frangos vêm com pulmões?!!!!!! “Como é que eu sei o que são os pulmões?” “São essas duas coisas encarnadas de lado, lá dentro ao fundo, meio esponjosas.” Esponjosas?!!!! Ninguém me falou em coisas esponjosas quando comprei o frango. “Não estou a ver nada.” “Apalpa e quando sentires umas coisas esponjosas, são os pulmões.” “ Eu tou de luvas. Não sinto nada esponjoso.” “Ah tás de luvas. Pois assim não sentes.” “Espera lá, quer dizer que tu metes as mãos aqui dentro sem luvas?!!!!” “Sim, filha, vá experimenta lá.” Oh meu deus! Lá acabei por encontrar as tais coisas esponjosas que tive que literalmente arrancar enquanto esguichava sangue por todo o lado. Depois havia uma coisa tipo feijão minúsculo lá pendurado no meio. “Ah isso deve ser um ovo.” “Um ovo???!!! Mas estas coisas vêm grávidas para a mesa das refeições?” Oh mãe, falhaste na tua educação, nunca me falaste das vísceras de um frango, caraças! Arranquei o potencial franguinho que não viveu o suficiente para ver a luz do sol e jurei para nunca mais. Eu, que quando o canário dos meus pais está postado na sala-de-jantar enquanto comemos frango, me faz olhar para o prato 3 vezes antes de meter a primeira garfada à boca ...
Escusado será dizer que quando acabei de lavar a pobre criatura, tive que ir a correr para a casa-de-banho virar o barco. E eu que sou daquelas que diz que não lhe faz a mínima impressão a cena dos miolos do Hanibal Lecter ... Claro que não faz, não tou com as mãos neles ... pudera ...
Serve a presente história para concluir o seguinte – a experiência do frango deu-me uma ideia genial. Pensei no meu assassino contratado. E vi-o a correr para a casa-de-banho depois de ter que arranjar um frango para assar. E virar o barco. É que um assassino contratado trabalha à distância, percebem? E também tem direito a ter um estômago de franguito. Tem a sua piada ... :)

sábado, 24 de novembro de 2007

WINGS OF WILL XXIV......................................... Quem disse que o homem não consegue voar?

Já tive a felicidade e o incrível prazer de os ver ao vivo :)
kjgflkjg
Voltam para o ano, salvo erro.
kjgflkjg
Fenomenais! São a prova de que as boas ideias não precisam de muitos apetrechos. Umas latas, uns bons sapatos e umas pernas e pés incrivelmente talentosos. Et voilá! We have an amazing show. Chamam-se Tap Dogs.
kjgflkjg
fkgçlfkg


sexta-feira, 23 de novembro de 2007

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 9 (cont.)

Capítulo 3. O MUNDO ERA TÃO RECENTE QUE MUITAS COISAS AINDA NÃO TINHAM NOME

Olhou para o relógio. Cinco e meia. Tinha que se apressar. Senão punham-na no olho da rua, sim, mas por chegar atrasada logo à primeira sessão. Mas que tonta! Como é que se esquecera de tal coisa? Os nervos, os malditos nervos. Tinha o estômago feito num oito mas, e até tinha vergonha de admitir, o facto de ele ser cego tirava-lhe um peso enorme de cima dos ombros. Não tinha que se preocupar com o seu aspecto. Não tinha que parecer mais bonita do que era. Não tinha que enfrentar os olhos inquisidores e avaliadores de um desconhecido, ainda por cima homem e bem parecido, pelo que pudera aperceber-se por baixo dos óculos escuros e apesar da penumbra do quarto. E também por causa do nervosismo. Os únicos olhos com que tinha de se preocupar eram os da Nº 5, mas parecia-lhe que ela ali não tinha muito a dizer, afinal de contas.
Durante a viagem tentou fazer alguns exercícios de respiração que se lembrava de ter lido numa revista, mas aquilo só contribuiu para lhe deixar o coração aos saltos e desistiu. De mais a mais, se ele a tinha contratado, por alguma razão fora e de certeza que não tinha sido por causa dos seus lindos olhos.
Faltavam cinco minutos para as seis quando saiu do metro. Teve que percorrer a distância que a separava da casa a passo de corrida. Quando chegou à porta tinha a respiração acelerada e o coração aos pulos e teve que se encostar ao parapeito, enquanto fazia soar o batente.
lkfçldkf
Sonhou naquela noite. Foi um sonho estranho. Sonhou com uma voz que o perseguia por toda a casa e que ressoava nos cantos, como uma enorme onda que rebentava por cima da sua cabeça. Mas o sonho não tinha imagens, o que o deixou aterrado. Depois do acidente, era a primeira vez que sonhava sem imagens. De facto, não se lembrava nunca de ter tido um sonho que não tivesse imagens. Ele sabia que estava em casa, mas não via nada. Era uma sensação estranha. Tão estranha e aterrorizadora que acordou alagado em suor e teve que afastar violentamente os lençóis do corpo. Esperou que a escuridão começasse a desaparecer e que as silhuetas do quarto fossem ficando cada vez mais perceptíveis. Mas a escuridão deixou-se ficar, teimosa e silenciosa, como um manto negro de veludo pesado e sem contornos, infinito.
kdgjklfdg
" 'Eles flutuam,' cantarolou a coisa na sarjeta, numa voz espessa e cacarejante. Segurou o braço de George no seu aperto grosso e verminoso, puxou George para aquela terrível escuridão onde a água corria e rugia, enquanto carregava a sua carga de destroços da tempestade em direcção ao mar. George estendeu o pescoço para longe daquela escuridão final e começou a gritar para a chuva, a gritar irracionalmente para o céu branco outonal que curvava sobre Derry naquele dia no Outono de 1957. Os seus gritos eram penetrantes e lancinantes, e de cima a baixo da rua Witcham vieram pessoas …" (16)
kjgkld
Fechou o punho e atingiu o colchão vezes e vezes sem conta, tantas vezes que acabou por ficar com o pulso dorido, quase sem dar por isso. Só reparou que estava a gritar ao mesmo tempo, quando outra voz se elevou acima da sua.
"John! John! Pára com isso!"
Clara nunca se aproximava. A única vez que lhe tocara durante a idade adulta fora quando lhe pregara o tal par de estalos, numa noite semelhante àquela.
Parou, arfante, gotas de suor escorrendo-lhe pela cara abaixo. Depois começou a praguejar num murmúrio, batendo com o punho suavemente no colchão.
"Sai do meu quarto! Não vês que não tenho pijama?"
Não queria chorar à frente dela.
"Não acendi a luz. Não vejo nada."
"A sério?", começou a rir-se, "Não me digas! Qual é a sensação? Bem-vinda ao Clube dos Ceguinhos. Ainda não viste nada!", e continuou a rir-se histericamente, "Também não há muito para ver, deixa lá. O John Jr. anda um bocado em baixo, sabes."
Ouviu a porta fechar-se, suavemente, o que o pôs de novo fora de si. Não queria pena. Pena era a última coisa que queria. Ou indiferença.
"Não te atrevas a ter pena!!", berrou.
Ouviu nova porta fechar-se, a porta do quarto de Clara.
"Que ninguém se atreva a ter pena.", a frase descaiu até um murmúrio abafado pelo esforço físico.
Tentou fixar um ponto na escuridão. Mas a única coisa que lhe apareceu à frente foi o suposto rosto da rapariga.
"Emily … Não te atrevas tu também a teres pena de mim, senão ponho-te um par de patins já amanhã."
fdgfg
"Ele era um velho que pescava sozinho num barco na corrente do Golfo e já tinham passado oitenta e quatro dias sem ter pescado um único peixe. Nos primeiros quarenta dias tinha tido a companhia de um rapaz. Mas após quarenta dias sem apanhar peixe os pais do rapaz disseram-lhe que o velho era final e definitivamente “salao”, que é a pior forma de infelicidade, e o rapaz fora por ordem dos pais embarcar noutro barco onde apanhou três bons peixes na primeira semana. O rapaz ficava triste cada dia que via o velho vir no seu barco vazio e ia sempre ajudá-lo a transportar o rolo da linha ou o gancho e arpão e a vela que estava enrolada no mastro." (17)
klgçlfkg
Era má ideia. O melhor era desistir. Que raio de ideia era aquela? Onde raio é que pensava que se estava a meter? O que é que lhe tinha passado pela cabeça? Amanhã teria que lhe dizer que desistira.
"Peço desculpa pelo incómodo."
Peço desculpa pelo incómodo? Que estupidez. Enviaria Clara como embaixadora. Era um presente oferecido de bandeja. Clara, a demolidora-mor, ia adorar a oportunidade de poder pôr a pobre rapariga no olho da rua, mesmo antes de ter começado. Clara ia adorar ter razão, apesar de não ter partilhado consigo mais do que aquele desabafo em forma de pergunta.
"Mas que ideia é essa?"
Mas que raio de ideia é essa, fora o que ela quisera dizer, claro. Mas, ao contrário do seu nome, Clara não era uma pessoa que dizia exactamente o que pensava.
Não podia desistir. O pesadelo pusera-o naquele estado. Estupidamente vulnerável. Logo se veria. Ao menos tinha que dar uma hipótese à rapariga. Deixá-la vir amanhã e ler um pouco. Sorriu na escuridão. Sabia muito bem o que é que lhe ia dar a ler. Soltou uma gargalhada abafada, como um miúdo que ri à sucapa, para não ser ouvido enquanto pensa na partida que vai pregar. E que bela partida ele lhe tinha reservado. Claro que não podia desistir, quanto mais não fosse pelo prazer de poder pregar aquela pequena partida.

ldgkfçl
(16) It - Stephen King; (17) O Velho e o Mar - Ernest Hemingway

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

Golfinho (Roaz-Corvineiro ou Nariz de Garrafa)
dlºçdlº

-s.lSD
Esta espécie de golfinhos é a mais conhecida e famosa. Vivem em águas tropicais, subtropicais e temperadas de todo o mundo, incluindo Portugal (no estuário do Sado).
As fêmeas dão à luz uma única cria, num período de gestação que dura 12 meses. A língua da cria está adaptada à captação de leite à distância, que a mãe esguicha para o exterior do mamilo. As crias acompanham a mãe até aos 4,5 anos de idade e atingem a maturidade sexual entre os 6-8 anos (fêmeas) e 10-12 anos (machos). Podem viver até aos 45 anos.
çdlºçdl
Os roazes-corvineiros são animais gregários, viajando normalmente em grupos de 2 a 4 animais, até várias dezenas ou mesmo centenas.
Possuem corpos aerodinâmicos, em forma de torpedo e uma estrutura cutânea que provoca uma deslocação laminar da água (sem remoinho), o que lhes permite deslizar rapidamente através da água, sendo um dos animais marinhos mais rápidos, chegando a atingir a velocidade de mais de 40 km/hora e saltando até cerca de 4 metros sobre a água.
A forma da sua boca faz com que pareçam estar constantemente a sorrir, o que os torna, a par com o facto de serem extremamente comunicativos, gregários e inteligentes (encontram-se ao mesmo nível dos chimpanzés, por exemplo, sendo capazes de reconhecer figuras e cores) em animais extremamente populares e utilizados até em terapia.
ldkçldk
Os golfinhos comunicam entre si utilizando um complexo sistema de guinchos e assobios. Podem realizar cerca de 1.000 tipos de sons por segundo e manter duas conversas ao mesmo tempo e cada golfinho tem um assobio peculiar, que constitui uma espécie de assinatura perante os outros membros do grupo. Utilizam ecolocalização para localizarem objectos e presas. Os sons que produzem viajam através da água, regressando ao emissor para revelar a localização, tamanho e forma do alvo.
Durante a Guerra do Vietname, a Marinha dos EUA utilizou-os como sentinelas na Baía de Conranh, para afastar sabotadores.
Os radares de ultra-som utilizados por embarcações militares têm o efeito de uma explosão nos ouvidos destes mamíferos, que podem morrer por hemorragia interna ou chegar a suicidar-se por não aguentarem a dor insuportável.
djkldj
Lenda: Diz-se que os golfinhos são os únicos mamíferos que conseguem dar “tareia” nos tubarões, mas trata-se de um mito que nasceu devido à enorme publicidade dada a um incidente peculiar ocorrido no Aquário de Miami em 1950. Quando um tubarão mostrou um maior interesse pelo nascimento de um bebé golfinho, 3 dos adultos machos rodearam o tubarão e “pontapearam-no” nas guelras até à morte. Este comportamento foi depois mitificado através da famosa série de televisão Flipper.
Na realidade, tratou-se de um acontecimento raro, uma vez que normalmente os golfinhos e os tubarões se mantém afastados uns dos outros.
Durante a década de 60 a marinha norte-americana treinou golfinhos para atacarem tubarões, atingindo as suas delicadas guelras, no entanto, e apesar do treino, os golfinhos recusaram-se a atacar espécies de tubarões maiores, o que sugere que possuem uma classificação própria e muito prática para os seus inimigos - “perigoso” ou “não perigoso”.
De resto, são encontrados mais restos de golfinhos nos estômagos de tubarões do que o oposto.
dlkçdlk
Os golfinhos encontram-se em extinção devido à captura para obtenção de comida, utilização da gordura como isco em certos tipos de pesca ou porque os pescadores acreditam que os golfinhos competem com eles por alimento. Também a captura acidental em redes de pesca e a captura intencional e indiscriminada para cativeiro ameaçam o golfinho.
lkfçldkf
kjfkldjf
Venho dos confins do universo onde o som é um eco vazio sem fundo e sem fim. Sou um sopro de infinito cortando o espaço à velocidade da luz, desde os primórdios das estrelas até ao presente. Anseio por outros lugares, lugares onde algumas civilizações chegaram o mais longe que se pode chegar. Anseio por chegar lá e poder descansar nesse espaço sem som, sem humanidade, onde o som vem dos primórdios e termina de novo nos primórdios, sem precisar do espaço para se propagar. Aí sou embalada por guinchos suaves e maternais que me dão as boas-vindas, enquanto me guiam até ao seu seio e me rodeiam de prazer e conforto. Todas as vezes a melodia é diferente. Sei descrevê-los porque aqui lhes chamam golfinhos. Sei que vivem num meio aquoso, que é diferente do sólido ou do gasoso, onde viajo. Ouvi inúmeros especialistas no assunto. Gosto de os ouvir. Mas este planeta atrai-me por outros motivos alheios à minha vontade. Se pudesse articular sons, dir-lhes-ia, aos cientistas humanos, que não vale a pena preocuparem-se com assuntos que os transcendem. Contar-lhes-ia como tão subitamente quanto surgiu (eu ouvi o primeiro som articulado de um símio), a humanidade desaparecerá numa lenta agonia alheia à consciência e dará lugar a outros que nasceram antes e lhe sobreviverão. Seres possuidores da mais virtuosa sabedoria - a da sobrevivência aliada à inteligência. Seres que não caminham sobre patas, nem escrevem poemas mas cujo guincho primordial existirá muito depois de tudo acabar.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

PLIM! X (Palavras Loucamente IluMinadas)

É uma casa, abandonada. Entaipada pela câmara. Numa esquina de uma zona da cidade onde passei centenas de vezes. Porque morei lá perto, tão perto, durante anos, sem saber. Sem saber que os passos dessa Pessoa tinham calcorreado esses passeios dezenas de anos antes de mim. Sem saber que os olhos dessa Pessoa tinham espreitado pela janela dezenas de vezes e visto vista parecida, muito antes de mim. Sem saber que a Pessoa que tantos anos mais tarde me faria tanto bem à alma, morou tão perto de mim, há muito tempo atrás.
ºçdlºçdl
A câmara pretende manter a fachada ... E eu acho que essa Pessoa lhes diria algo como "Mas isso é só fachada ..."
fkjklfj
Fernando Pessoa morou aqui. Há muitos anos atrás. No segundo andar. Deveria ser um museu, onde pudéssemos sentar-nos na sua cadeira, apalpar a sua secretária, tocar nos seus cadernos, nas suas penas, nos seus objectos. Em vez disso é apenas uma fachada entaipada e abandonada ...
dlkçlf
kfjklfj
"Não sei que diga. Pertenço à raça dos navegadores e dos criadores de impérios. Se falar como sou, não serei entendido, porque não tenho Portugueses que me escutem. Não falamos, eu e os que são meus compatriotas, uma linguagem comum. Calo. Falar seria não me compreenderem. Prefiro a incompreensão pelo silêncio."
çfdlºfç
Escritos Autobiográficos, 1929-30
fçlfºçl
(como te entendo ...)
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Av. Almirante Barroso - Antiga casa de Fernando Pessoa

terça-feira, 20 de novembro de 2007

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 8 (cont.)

Capítulo 3. O MUNDO ERA TÃO RECENTE QUE MUITAS COISAS AINDA NÃO TINHAM NOME
çlfdºçfl

"Mas como é que podes gostar disto? Esta cidade é tão impessoal, tão vazia. As pessoas não se conhecem. Sabe-se lá que pessoas é que andam por aqui. Vê lá com quem te metes. Ainda no outro dia no jornal vinha uma notícia sobre um desses assassinos não sei das quantas."
O namorado não percebia. E ela não se importava, porque tanto lhe fazia que ele percebesse ou não.
"Assassinos em série."
"Quando é que voltas?"
Ficava a olhá-lo e a tentar perceber se ele realmente ainda acreditava que ela ia voltar, ou se valia a pena dizer-lhe o que pensava.
"Não sei. Agora estou aqui."
Normalmente abanava a cabeça ou desligava-lhe o telefone na cara e depois voltava a telefonar horas mais tarde.
"Emily … Não te percebo … Sinto a tua falta. Esse lugar não é o teu."
Como explicar-lhe que, apesar de tudo, era feliz assim? Que preferia viver assim a regressar a casa? Como explicar-lhe que já se habituara de tal forma ao barulho do trânsito à noite, que não seria capaz de adormecer em casa sem se sentir terrivelmente sozinha no meio daquele silêncio profundo do campo?
"Como está o meu pai?"
"Bem. Fui visitá-lo ontem. Perguntou por ti."
Mas não te falará nunca mais, porque da última vez que haviam trocado palavras fora apenas para lhe comunicar que o ia deixar sozinho, entregue à memória da mãe.
Sabia que nunca mais poderia voltar porque aquele mundo já não lhe pertencia. Mas também sabia que por enquanto, este mundo também ainda não era seu. Orbitava entre dois mundos, num vazio límbico que a assustava mas que a mantinha mais viva do que nunca.
Por enquanto, o único mundo que já poderia chamar seu era o do pequeno gabinete onde todos os dias inseria fichas no computador da biblioteca da faculdade e onde, de vez em quando, trocava impressões com alguns dos professores e alunos que por ali gravitavam e a quem procurava desesperadamente mostrar que não era só mais uma provinciana sem nada na cabeça.
Cedo descobriu que, apesar de toda a cultura que bebiam horas a fio e talvez por causa disso, os mesmos professores e alunos davam mais atenção à curvilínea e oca Amanda com a sua voz esganiçada e a sua propensão para atropelos linguísticos abomináveis.
O que Emily certamente não entendia era que Amanda, apesar de toda a futilidade, era autêntica, enquanto que ela não passava de um potencial de qualquer coisa que ninguém conseguia perceber e que os deixava instintivamente desconfiados, sem sequer darem por isso.
Agora, porém, o seu interlocutor mostrara verdadeiro apreço pela sua voz e, mais importante ainda, estaria realmente interessado no que a sua voz diria porque a escolha era dele.
A partir de hoje, pensou, enquanto inseria a quinquagésima sexta ficha do dia na base de dados, estava nas suas mãos, ou por outra, nas suas cordas vocais, manter esse interesse.
ddçkdkld
"Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que o pai o levou a conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e cana, construídas na margem de um rio de águas transparentes que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas ainda não tinham nome …" (14)
dkkldçld
Às quatro da tarde Emily começou a olhar para o relógio com sinais de ansiedade. Estava a ficar nervosa. Nada de anormal. Ela era uma pessoa nervosa. Às quatro e meia já havia percorrido a escala completa até ao nível do pânico. Às quatro e quarenta e cinco o pico descera vertiginosamente para uma apatia que a fazia querer subitamente desistir de tudo. Telefonaria a dizer que afinal não queria aceitar o trabalho. Nem precisava de telefonar. Simplesmente não apareceria. Cinco horas. A campainha tocou. Começou a arrumar as suas coisas e demorou mais tempo do que o costume. Quando chegou à rua já passava um quarto das cinco. Tinha que se decidir. Caramba …. Onde é que se fora meter? E agora? Mas porque é que se fora meter numa situação daquelas?
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"Normalmente, dava bons conselhos a si própria (embora muito raramente os seguisse), e às vezes ralhava consigo tão asperamente que as lágrimas lhe marejavam os olhos; e uma vez pensou puxar as próprias orelhas por se ter enganado a si própria numa partida de cróquete que estivera a jogar consigo mesma, pois esta criança tão especial gostava muito de fingir que era duas pessoas." (15)
lfºdçlfd
Arrastou o passo na direcção do metro. Ainda tinha tempo para desistir. Quando chegasse à entrada da estação tinha que decidir duma vez por todas. Olhou-se subrepticiamente no reflexo do vidro de uma montra. Estava uma lástima. O que é que ele ia pensar do seu vestido e dos seus sapatos usados? E nem valia a pena mencionar o casaco … Provavelmente o melhor era mesmo desistir. Mas onde é que estava com a cabeça? Como é que ela alguma vez podia ter lugar numa casa daquelas, com gente daquelas? Soltou uma gargalhada abafada e triste. Se a visse naquele estado, de certeza que era ele quem a poria pessoalmente no olho da rua.
Chegara ao princípio das escadas que davam acesso à estação do metro. Um idoso cego pedia esmola sentado no primeiro degrau. Emily puxou da carteira e tirou uma moeda. E então, subitamente, teve um princípio de ataque de riso que só não se concretizou porque o velho "olhava" para ela como se a conseguisse trespassar com o olhar. Como ele o fizera na tarde anterior. Porque também era cego e onde é que ela estava com a cabeça?

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(14) Cem Anos de Solidão - Gabriel García Márquez; (15) As Aventuras de Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XLIX

Estepes Nos Teus Olhos - Parte IV
Roleta Russa

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Parque das Nações - Interior da Escultura sonora "Horas de Chumbo"
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Julgo que Vladimir é um homem doente. Talvez seja por isso que caminha tão devagar e os seus movimentos sejam tão rígidos. A semelhança com Harvey Keitel ainda está lá, mas cada vez mais vaga. Há pouco tempo sentou-se ao meu lado e não moveu um único músculo durante toda a viagem, fazendo-me parecer uma autêntica hiperactiva por comparação, eu que também pouco me mexo. E a sua imobilização só me fazia ter vontade de me mexer ainda mais. Mas penso que hoje algumas peças encaixaram finalmente no puzzle. O que explicará também o seu português perfeito e o seu conhecimento da geografia lisboeta - alguém lhe perguntou uma informação enquanto esperávamos na paragem e Vladimir respondeu prontamente, sem hesitações, como um autêntico nativo.
glkfjgl
Naquela manhã, Vladimir sentara-se à minha frente, e de frente para um manganão que trazia a música do telemóvel bem alto, para que todos pudéssemos partilhar a alegria de uma kizomba à martelada. Spunk. Spunk. Spunk. Vladimir entreabriu as suas estepes, cemicerrou-as e tentou fulminá-lo, mas sem êxito. O silêncio durou apenas os momentos de mudança de banda sonora e o manganão retornou à carga. Vladimir cerrou as suas estepes e foi nessa altura que dei por mim preocupada. Aquela reacção tão insonsa era estranha.

çdlçºdl
Foi então que reparei nos dois personagens sentados atrás do príncipe das estepes, como duas sentinelas discretas mas óbvias, e nessa altura tudo encaixou.
O do lado esquerdo andaria pelos 60 e muitos anos, vestia um blaser com padrão axadrezado cor de tijolo e uma camisa azul clara, do mesmo tom que os olhos pequenos. Chamar-lhe-emos Smith, porque o seu rosto aristocrático e britânico não deixa margem para dúvidas - Smith está ao serviço de Sua Majestade. Um tufo branco de cabelos decora-lhe o crâneo, de testa muito alta e muito redonda. Os ombros estão levemente inclinados para a frente, como se estivesse permanentemente quase a levantar-se. Ostenta um ar firme, mas gasto pelas dezenas de missões realizadas ao serviço do MI6. Ainda pertence à velha guarda, ao tempo da Guerra Fria, e podia passear-se com o maior à vontade por entre as páginas de um qualquer romance de John Le Carré. O blaser e a camisa já fazem parte da sua pele e guardam o odor de muita pólvora disparada à queima-roupa.
O personagem do lado direito, sentado junto da janela, é árabe. Talvez sírio ou turco. Claro que isto pouco importa, porque reporta à Mossad, nem mais. Perguntar-me-ão, como é possível um árabe trabalhar para a Mossad. E eu respondo-vos que coisas bem mais estranhas já aconteceram neste mundo. E que a polícia secreta israelita recruta os melhores dos melhores, pouco se importando com a sua proveniência. Meia estatura, atarracado, forte e muito moreno, é mais novo que Smith e Vladimir, andará pelos 40 e poucos anos e ostenta um bigode concentrado e bem aparado. Veste um blaser castanho escuro e uma camisa aos quadrados pretos e brancos. Olha pela janela, mas a sua atenção não está lá fora. Chamar-lhe-emos Hassan.

kfdçlkg
Portanto, e bem vistas as coisas, o que se passa é o seguinte: Vladimir está a morrer envenenado, mas antes que essa fatalidade aconteça, deverá passar todas as informações que possui para as mãos dos seus colegas, antes que seja demasiado tarde. O local da troca foi o autocarro e tudo correu como se esperava, sem surpresas. Hassan levantou-se, pediu licença a Smith como se não o conhecesse de lado nenhum e passou por Vladimir, sentado à sua frente, para se dirigir à porta de saída, raspando-lhe ao de leve o braço esquerdo cuja mão se encontrava enfiada dentro do bolso do casaco de ganga. Smith permaneceu no seu posto para se certificar que a troca decorria sem percalços e lá continuou depois de sairmos. Não sei nem quero saber o conteúdo dessa troca, até porque se soubesse, um deles teria de me matar. E quem ficaria para contar a história? Mas presumo que seja um microfilme de qualquer espécie com informações cruciais sobre mísseis algures no Médio-Oriente.
dçlºçdl

Apetece-me seguir Vladimir. Mas como seguir um espião-duplo russo do KGB sem que ele nos "cheire" e nos corte a goela num movimento rápido, implacável e tecnicamente perfeito? Claro que eu sei que Vladimir gosta de mim. Digamos que ele acha piada àquela miúda (para Vladimir, que tem pelo menos mais uns 10 anos que eu, eu ainda sou uma miúda) que o observa subrepticiamente sempre que partilhamos a mesma carreira. Afinal, até um espião-duplo russo tem sentimentos. Mas se tiver que ser, também sei que ele não hesitará. E seguirá um velho lema do antigo KGB: "Qualquer um pode cometer um assassínio, mas é preciso um artista para cometer um suicídio."

domingo, 18 de novembro de 2007

WINGS OF WILL XXIII......................................... Quem disse que o homem não consegue voar?

Ah... se a vida pudesse ser como os filmes de Hollywood e os primeiros-ministros ingleses pudessem responder como lhes apetecesse aos presidentes americanos prepotentes ...
dkçldk
Primeiro, haveria a resposta inesperada e arrojada ...
dhkjd

dkjlkdj
dklçdk

Depois ... a dança da vitória ... em privado ... :)
kjdkdj

sábado, 17 de novembro de 2007

MAGIC MOMENTS 20




lfºçdlgºçf
lkgçlfkg
O rosto de Kevin Bacon em todos os momentos de The Woodsman, filme intenso, controverso e tocante sobre um pedófilo em recuperação.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 7 (cont.)

Capítulo 3. O MUNDO ERA TÃO RECENTE QUE MUITAS COISAS AINDA NÃO TINHAM NOME
ldkçldkf
"'Eu sou um computador HAL Nove Mil Número de Produção 3. Tornei-me operacional na Fábrica Hal, em Urbana, Illinois, em 12 de Janeiro de 1997. A veloz raposa castanha ataca o cão preguiçoso. A chuva em Espanha é sobretudo na planície, Dave … ainda estás aí? Sabias que a raiz quadrada de 10 é 3 vírgula 162277660168379? O logaritmo de 10 na base e é zero vírgula 434294481903252 … correcção, isso é o logaritmo de e na base 10 … O inverso de 3 é zero vírgula 333333333333333333333 … dois vezes dois é … dois vezes dois é … aproximadamente 4 vírgula 101010101010101010 … Parece-me que estou em dificuldades … O meu primeiro instrutor foi o Dr. Chandra. Ele ensinou-me a cantar uma canção, que é assim: 'Daisy, Daisy, dá-me a tua resposta, sim. Estou meio maluco com o amor que há em mim.' " (11)
klgfçlkg
Sempre gostara de ler. Desde pequena que devorava livros, como outros devoram pacotes de amendoins ou batatas fritas. Gostava tanto de ler, que lia em voz alta porque o som da sua voz lhe ampliava o poder e o conteúdo das palavras enroladas na saliva como manjares deliciosos, deglutidos e depois libertados em estalares e crepitares e ronronares e sibilares desconcertantes. Ao longo dos anos fora aperfeiçoando este jeito, quase sem dar por isso, primeiro porque começara por imitar os pivots dos telejornais, depois porque na adolescência se transformara numa apaixonada de teatro e passara a frequentar as salas onde os actores projectavam as suas vozes para além da última fila, em cadências emotivas limadas pela técnica.
Infelizmente, os seus limites culturais nunca lhe haviam permitido saborear verdadeiramente o que lia ou ouvia. A forma parecia interessá-la muito mais que o conteúdo e continuara a interessá-la muito mais, mesmo quando já amadurecera e aprendera o suficiente para compreender e reflectir sobre o que lia. Por um qualquer motivo inexplicável, Emily nascera com um estranho dom, que ela própria desconhecia. O dom de cativar através do som da sua voz. Mas a única pessoa que cativara até então fora ela própria. Guardava este segredo para si, na privacidade de quatro paredes, longe de ouvidos estranhos. Por vezes, sonhava com uma audiência que lhe bebesse as palavras recitadas, mas era apenas um sonho.
kgjklfjg
"Amigos, romanos, conterrâneos, emprestem-me os vossos ouvidos;
Venho para enterrar César, não para o louvar.
O mal que os homens fazem vive depois deles;
O bem é frequentemente enterrado com os seus ossos;
Assim seja com César. O nobre Brutus
Disse-vos que César era ambicioso.
Se assim fosse, seria uma séria falta;
E seriamente respondeu César por isso.
Aqui, com permissão de Brutus e do resto-
Porque Brutus é um homem honrado; …" (12)

jglkfjlg
Desde pequena que os seus horizontes se haviam alargado muito para além da pequenez da vila onde habitavam os seus limites existenciais. Desde pequena que sabia que não ficaria ali fechada, a não ser o tempo necessário para crescer e se escapulir do casulo de larva para voar o seu vôo de borboleta.
Mas para onde desejava a crisálida voar? Não parecia ter certezas sobre nada.
Quando vira o anúncio, decidira-se a concorrer apenas por descargo de consciência, mas com a secreta ambição de que a sua voz treinada subtilmente ao longo dos anos, fosse capaz de sobressair. Mesmo assim, fora apanhada de surpresa. Sobretudo porque aquele mundo daquela casa era um mundo tão distante do seu e aquele homem sentado naquela batedeira eléctrica era um homem tão diferente de todos quantos conhecera até então.
Olhou para o quarto que alugara há uns meses, um minúsculo quarto decadente que o parco salário da biblioteca da faculdade lhe permitia alugar. O quarto que o namorado olhara com horror e nojo quando finalmente a viera visitar, ao perceber que aquilo não era um desaire momentâneo de adolescência tardia.
"Eu vou ficar. Gosto de estar cá."
lkgfçldk
“Nova Iorque era um espaço inesgotável, um labirinto de passos intermináveis; mas independentemente da distância que percorresse, independentemente de se ter familiarizado com as vizinhanças e ruas, ficava sempre com a sensação de estar perdido. Perdido, não apenas na cidade, mas também dentro de si. Sempre que dava um passeio, sentia-se como se se deixasse a si próprio para trás, e entregando-se ao movimento das ruas, reduzido a um olho que se vê, conseguia escapar à obrigação de pensar, e isto, mais do que qualquer outra coisa, trazia-lhe uma certa paz, um salutar vazio interior. O mundo estava no exterior de si, à sua volta, perante si, e a velocidade com que o mundo mudava impossibilitava-o de se prender por muito tempo a uma única coisa. O movimento era a essência, o acto de pôr um pé diante do outro e seguir a errância do seu próprio corpo. Todos os lugares se tornavam semelhantes caminhando assim sem destino, e deixava de ter importância o sítio onde se encontrava. Nos seus melhores passeios, conseguia atingir o sentimento de que não estava em sítio algum. E isto, afinal, era tudo o que pedia às coisas: não estar em sítio algum. Nova Iorque era esse nenhures que havia construído à volta de si mesmo, e apercebeu-se de que não tencionava abandonar aquela cidade, nunca.” (13)
flkdçlf
(11) 2001 Odisseia no Espaço - Arthur C. Clarke; (12) Júlio César - William Shakespeare; (13) A Trilogia de Nova Iorque – Cidade de Vidro – Paul Auster

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

FALCÃO PEREGRINO
LGFºÇLG

kgçlfkh
Os falcões peregrinos são caçadores formidáveis, que atacam as suas presas (outros pássaros e morcegos) em pleno vôo. Após avistarem a sua presa, mergulham num vôo inclinado e veloz que pode alcançar os 320 kms/hora.
ÇLGºFÇLG
Os falcões peregrinos habitam todos os continentes, excepto a Antártica. Preferem espaços abertos e o litoral, mas podem ser encontrados em todas as paisagens, desde a tundra ao deserto. Podem ser encontrados até em pontes e arranha-céus em grandes metrópoles, como Nova Iorque, por exemplo.
ÇGLFºÇLG
Estas aves podem viajar grandes distâncias quando não estão em época de nidificação e muitos migram. Há falcões que viajam mais de 25.000 kms por ano. No entanto, o seu instinto impressionante leva-os a recordarem com exactidão os locais preferidos de permanência. Alguns locais de nidificação têm sido usados pelos falcões peregrinos durante centenas de anos, ocupados por gerações sucessivas.
ÇGLFºÇLG
Os falcões peregrinos encontravam-se em acentuado declínio em meados do século XX e tornaram-se até espécie em perigo de extinção em alguns países como os EUA. Mas as populações conheceram um boom significativo desde que a utilização de DDT e pesticidas passou a ser menor. Os programas de procriação em cativeiro também ajudaram a travar a extinção dos falcões peregrinos. Na realidade, em alguns locais do mundo, parece haver até maior número de falcões
peregrinos do que havia há 50 anos atrás.
çlfºçdlf
Se encontrares o senhor dos céus
Tenso e preparado para atacar
Não há como escapar ao seu cirúrgico olhar
Se te queres safar, pequeno, é melhor aprenderes a voar
çdfkdçklf
É bom que os teus reflexos sejam imbatíveis
É bom que as tuas pernas sejam firmes
Ou então conta os teus últimos segundos
E reza para que na próxima vida
Um falcão renasças neste mundo
khçlgk

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

PALAVRAS ESTÚPIDAS 4

Quando era pequena tinha um sonho – ser muda. É um sonho estranho para uma criança ter, eu sei. Mas eu era uma criança estranha. Invejava os mudos, que não eram obrigados a falar porque pura e simplesmente não podiam mesmo que quisessem fazê-lo e podiam gesticular ou, maravilha das maravilhas, escrever o que lhes ia na alma.
çdlfºçdlf
Sempre fui muito melhor a escrever do que a falar. A falar as palavras enrolam-se-me, saem completamente distorcidas, não são absolutamente fiéis àquilo que estou a pensar ou a sentir e, pior que tudo, as pessoas têm que estar a olhar para mim enquanto o faço, o que só agrava ainda mais todos estes problemas. Quando escrevo parece-me sempre que o que sai cá para fora é muito mais fiel ao que está lá dentro, tenho tempo para pensar e repensar todas as palavras e tenho até timing suficiente para dizer piadas, que é uma coisa que me é muito difícil conseguir se estiver a falar com estranhos (quando estou à vontade com as pessoas tenho momentos de puro brilhantismo parvo ...).
Claro que com o tempo e a idade, lá me habituei a falar e hoje safo-me relativamente bem. Com a experiência e mesmo com a escrita, desenvolvi até uma razoável capacidade de me exprimir comparada com muito boa gente que conheço.
kflkd
Mas ficou sempre aquela melancolia por aquele desejo de criança que me perseguia e atormentava. Sempre que me perguntam qual o sentido que não me importava de perder, respondo prontamente – a fala. Eu sei que não é um sentido, mas é como se fosse.
Em vez disso, sempre fui caixa de óculos até aos 20 e poucos anos. E sofri com isso, como sofrem todos os caixas de óculos. Ou sofriam. Hoje em dia é charmoso usar óculos. No tempo em que eu era criança, usar óculos era o mesmo que ser deficiente mental. Pior que usar óculos, só mesmo ser gordo, ter borbulhas e usar óculos. Isso era a desgraça total. Felizmente sempre fui um palito (em parte graças ao exercício implacável da dança) e nunca sofri de acne, senão acho que me tinha suicidado antes de chegar aos 14 anos.
çglºçflg
Mas adiante. A minha relação com a fala era de tal modo complicada, que havia pessoas que pensavam que eu era muda. E eu achava piada e ria-me interiormente. Porque sabia que as pessoas que me achavam muda eram precisamente aquelas com as quais não valeria nunca a pena perder tempo a falar. La Palisse.
ºçg~ºfçg
Serve este texto para quê? Para constatar uma coisa triste – raramente há pessoas que ouvem realmente o que estamos a dizer. Normalmente as pessoas estão só à espera que acabemos de dizer seja lá o que for que tenhamos para dizer (que não deve ser nada de interessante, de qualquer das maneiras), para que elas possam começar o seu blá blá (esse sim, de um interesse fulcral para a nossa pessoa). Como sempre fui boa ouvinte (por vezes, demasiado até), faz-me impressão isto.
gkfçlg
Faz-me muita impressão que andemos todos a falar sozinhos.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

PLIM! IX (Palavras Loucamente IluMinadas)

"Saber que será má a obra que se não fará nunca.
Pior, porém, será a que nunca se fizer.
Aquela que se faz, ao menos, fica feita.
Será pobre, mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada.
Essa planta é a alegria dela, e também por vezes a minha.
O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste.
Tanto me basta, ou me não basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
ldkfçdlk
Livro do Desassossego - Autobriografia Sem Factos

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 6 (cont.)

Capítulo 2. E A TUA VOZ TAL RIQUEZA
kjfglkjg
Na realidade foram os passos, em primeiro lugar, que lhe puseram o coração aos saltos. Johann não era boa pessoa, nem ansiara nunca sê-lo, mas reconhecia uma quando a via ou, neste caso, a ouvia. Emily era boa pessoa e a sua voz viera confirmá-lo. Johann também não sentia nenhuma atracção especial por boas pessoas, mas a experiência, sobretudo com mulheres e dos seis meses que passara num escritório de advogados até se cansar de trabalhar, haviam-lhe ensinado que era bem menos complicado conviver com elas. Depois, as boas pessoas eram mais facilmente convencidas a praticar actos solidários em prol dos fisicamente diminuídos. Para além do mais, e mesmo que não o tivesse querido admitir a si próprio, precisava de companhia, diferente da seca e rígida Clara e dos ocasionais "amigos" que o vinham visitar de três em três meses.
Se houvera algo que o chocara alguma vez na vida, fora o súbito desaparecimento desses supostos amigos, especialmente porque a maioria possuía fortunas ainda maiores que a dele. As mulheres, essas, compreendia-as. Afinal, estavam apenas a zelar pelo seu bem-estar vaginal, como qualquer mulher que se preze, e esse departamento encerrara subitamente por falta de fundos. Mas os homens … parecera-lhe que um pequeno pormenor como eram duas pernas inúteis e um par de olhos apagados não conseguiriam ser mais fortes que a camaradagem masculina. Enganara-se …
Clara abriu a porta. Havia alguém específico para esse serviço, mas ela fazia questão de examinar as candidatas desde que entravam até que saíam, apesar de ter plena consciência que não tinha qualquer voto na matéria, e mesmo que tivesse, faria questão em não o dar a conhecer.
"Venho por causa do anúncio."
Era inacreditável como quando um sonho se cumpre a sensação seja de déja vú absoluto. Ele não fora um homem com muitos sonhos, pura e simplesmente porque não houvera nenhum sonho que não tivesse podido concretizar, até à data. Tivera o privilégio de se encontrar no topo da escala das necessidades da humanidade e, para além disso, de ser dotado de inteligência e de um desejo de adquirir conhecimento, apesar de ser um filho da mãe. Nem sequer sonhara com o regresso dos pais, desde o momento que percebera que esperar por eles não era uma alternativa mas uma condição da sua vida. E agora não sonhava sequer com qualquer recuperação, porque o seu sentido prático o impedia de perder tempo com esperanças inúteis. Portanto, fora com uma certa surpresa que acolhera aquela nova e inusitada sensação.
gkfjglkf
"Ninguém respondeu. A campainha para o almoço tocou, mas continuaram todos calados. Frodo lançou um olhar a todos os rostos, mas não estavam voltados para ele. Todos os membros do Conselho se encontravam de olhos baixos, como se meditassem profundamente. Apoderou-se de Frodo um grande medo, como se aguardasse o pronunciamento de uma sentença que previra há muito tempo, mas que, apesar disso, esperava em vão não fosse pronunciada. Encheu-lhe o coração um desejo avassalador de descansar e ficar em paz ao lado de Bilbo, em Rivendell. Por fim falou, com dificuldade, e admirou-se de ouvir as suas palavras, como se outra vontade se estivesse a servir da sua fraca voz:
- Eu levarei o anel - disse -, embora não saiba o caminho." (10)

klgçlfkg
Esperara tanto por aquela voz que nem sequer lhe encontrou defeitos dignos de nota. Era a voz com que sonhara, desde que a ideia se começara a formar no fundo do seu subconsciente. Mas era mais do que isso. Era um brinquedo novo. Moldá-la-ia como barro. Refiná-la-ia. Retocá-la-ia. Até atingir a perfeição.
A porta fechou-se e os passos foram apagados pela alcatifa fofa do hall de entrada. Ouviu Wolf disparar pelas escadas acima, as unhas arranhando o chão num frémito nervoso e excitado.
Suspirou fundo. E pediu, para sua própria surpresa, que o perfume dela não fosse um atentado às narinas.
A porta abriu-se e Clara anunciou a nova candidata, a última.
Não se voltou logo, claro. Fê-la esperar. Porque gostava sempre de fazer saber quem mandava ali, porque gostava do mistério que a sua condição, ironicamente, lhe proporcionava, porque desejava que o choque fosse suficientemente grande para lhe dar oportunidade a ela de desistir e porque, depois de tanta expectativa, se sentia ansioso.
Franziu o sobrolho. Ansiedade era uma palavra talvez demasiado forte para descrever o seu estado de espírito. Apreensivo. Era compreensível.
Ela tossiu. Um estratagema barato para fazê-lo falar. Mas estava desculpada. Deixou-a esperar mais uns instantes, enquanto finalizava os retoques na imagem mental que dela compusera.
Baixa, morena, magra, talvez tivesse cabelos pelos ombros e olhos castanhos ou azuis. Inspirou o perfume. Suave, nada agressivo. Frutado e fresco. Mais um pouco e talvez conseguisse ouvir o coração a bater desenfreadamente no seu peito. Como seria o peito?
"Emily …"
Quis e não quis que o nome se lhe soltasse dos lábios. Foi quase involuntário, mas nem por isso. Gostava do nome. Quase todas as Emilys que conhecera costumavam ser bem fornecidas na zona toráxica. Talvez se devesse às curvas do nome.
"Sutherland. Emily Sutherland."
Ela supôs que ele quisesse saber o seu apelido. Decidiu acabar com o sofrimento da criatura. Estava a tornar-se patético. Girou a cadeira na sua direcção. A última frase permitira-lhe posicioná-la exactamente no local certo da sala. Travou a cadeira e fixou-a o melhor que pôde. Era raro falhar. E soube que não tinha falhado, quando nem sequer lhe sentiu a respiração.
A porta abriu-se e Clara anunciou o médico. Respondeu-lhe levemente irritado, porque a interrupção fizera-o perder uma sensação qualquer que não sabia precisar. Nem um ruído, mas nem um ruído era mais estranho do que qualquer ruído.
Foi então que ela soltou um soluço e ele percebeu que talvez houvesse algo que lhe tivesse escapado.
"Quer um copo de água?"
Apanhou-a de surpresa e percebeu que o que tinha à sua frente era alguém com vontade de fugir dali para fora o mais depressa possível. Provavelmente era melhor não ser capaz de lhe ver a expressão do rosto. Não a censurava. Ele próprio já o teria feito há mais tempo, se a situação se invertesse. Mas Emily precisava do dinheiro, ou não estaria sequer ali …
"Surpreendida?" E fez-lhe o discurso da praxe. Achava que já a tinha feito sofrer o suficiente. De resto, não queria ouvir mais a sua voz daquela maneira, manchada pela incompreensão e pela surpresa.
Ela protestou. Apeteceu-lhe abaná-la para a silenciar e devolver-lhe a compostura. Cala-te, por favor! Nunca mais haverá terror na tua voz, se isso depender de mim.
Acreditava em Deus, mas Deus por vezes desiludia-o. Como quando colocava a perfeição na mais impura das imperfeições.
Saiu. Não te atrevas a fugir, ou terei de te ir buscar ao fim do mundo.
jgkljfg
(10) O Senhor dos Anéis - JRR Tolkien

domingo, 11 de novembro de 2007

PALAVRAS EMPRESTADAS 28


kgjfkljg
I get up in the evening,
and I ain't got nothing to say
I come home in the morning,
I go to bed feeling the same way
I ain't nothing but tired,
man I'm just tired and bored with myself
Hey there baby, I could use just a little help
çkgçlfkg
You can't start a fire,
you can't start a fire without a spark
This guns for hire
even if we're just dancing in the dark
gfkçlfkg
Message just keeps getting clearer,
radio's on and I'm moving round my place
I check my look in the mirror
I wanna change my clothes my hair my face
Man I ain't getting nowhere I'm just livin' in a dump like this
There's something happening somewhere
baby I just know that there is
klgçlfkg
You can't start a fire,
you can't start a fire without a spark
This guns for hire
even if we're just dancing in the dark
klgfkg
You sit around getting older
there's a joke here somewhere and it's on me
I'll shake this world off my shoulders
come on baby this laugh's on me
lfkgçflkg
Stay on the streets of this town
and they'll be carving you up alright
They say you got to stay hungry
hey baby I'm just about starving tonight
I'm dying for some action
I'm sick of sitting round here trying to write this book
I need a love reaction
come on now baby give me just one look
jgkfjkg
You can't start a fire,
Sittin' round crying with a broken heart
This gun's for hire even if we're just dancing in the dark
You can't start a fire what about your little world falling apart
This guns for hire even if we're just dancing in the dark
kjkldjf
Bruce Springsteen (Dancing in the Dark)

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 5 (cont.)

Capítulo 2. E A TUA VOZ TAL RIQUEZA
flkçlfkçflk
A questão financeira era negligenciável, uma vez que o pequeno Johann era o único herdeiro de uma fortuna considerável que o sustentaria o resto da vida sem precisar de fazer nada. Clara já havia provado há muito tempo ter o carácter necessário para poder tomar conta da situação até Johann atingir a maioridade, com a respeitosa supervisão distante do advogado da família. E todos suspiraram de alívio.
Para Johann, Clara preencheu naturalmente o lugar da mãe ausente, uma vez que o pouco contacto que tivera com os pais não deixara espaço para traumas profundos. Fora uma criança desapegada, crescera como um adolescente mimado pelo dinheiro e pela falta de autoridade e tornara-se no típico adulto frio e calculista, mulherengo e suficientemente abastado e bem parecido para poder sê-lo com estilo e sem preocupações.
HGJHJH
"Mas ninguém, a partir dos cinco anos - nem mesmo a ama -, tinha a mais pequena autoridade sobre ele. O imperador era divino. Não se podia ralhar com ele ou castigá-lo. Apenas podia ser aconselhado com toda a deferência a não tratar mal eunucos inocentes e, se lhe apetecesse disparar os chumbos da espingarda de pressão contra eles, era sua prerrogativa.
Talvez os ataques de crueldade do jovem Pu Yi proviessem da sua impaciência por não ter qualquer privacidade. 'Cada vez que ia para o meu quarto de estudo para estudar, ou saía para dar uma volta pelo jardim, era sempre seguido por um grande séquito', escreveu ele.
'À frente, ia um eunuco cujas funções eram mais ou menos as de uma buzina: caminhava cerca de dois ou três metros adiante do grupo e fazia um ruído para avisar alguém que andasse pela vizinhança que devia afastar-se. Depois, seguiam dois eunucos-chefes, que andavam como dois caranguejos de cada lado do caminho; dez passos atrás deles vinha o centro da procissão. Se me levavam numa cadeira, iam dois eunucos juniores sempre a meu lado para alguma coisa de que eu precisasse; se eu fosse a pé, amparavam-me. Depois vinha um eunuco com um enorme dossel de seda, seguido por um grande grupo de eunucos, alguns sem nada nas mãos, outros transportando toda a espécie de objectos: um assento, para o caso de eu querer descansar, mudas de roupa, chapéus-de-chuva e guarda-sóis." (8)
HGHJG
Quando o seu carro se despistou a alta velocidade numa auto-estrada, todos abanaram a cabeça e disseram que já esperavam algo semelhante. Clara foi a única que esteve lá todos os dias no hospital, enquanto ele esteve em coma durante duas semanas, sempre sentada na cadeira ao pé da cama, atenta ao mais pequeno sinal. Parecia uma estátua de cera, com largos círculos negros em volta dos olhos.
Havia quem dissesse, ele sabia, que ela estava preocupada com o destino da herança. Havia até quem dissesse, ele também sabia, que ela não largava a sua cabeceira nem por um instante, na esperança de poder rectificar um imaginário testamento a favor da sua pessoa. É claro que quem dizia estas coisas não imaginava sequer que há muito que o destino da sua herança tinha ficado definido, com a ajuda da própria Clara. Johann só amara uma coisa na sua vida – livros. E os muitos milhões dos pais seriam distribuídos por inúmeras bibliotecas do país e do estrangeiro. Fora essa a sua vontade e Clara ajudara-o na complicada tarefa que envolvera a escolha, a listagem e o estabelecimento de todos os contactos necessários. Aliás, fora ela quem tratara de quase tudo. John limitara-se a assinar papéis e a visitar os locais, mas as visitas faziam parte da sua rotina de viagens e da sua paixão.
Clara foi também a única pessoa que não desistiu dele e que lhe pregou o único par de estalos da sua vida, quando o encontrou espalhado no chão do quarto uma noite, a seguir à recuperação do coma, tentando encontrar na escuridão os comprimidos que acabariam com a humilhação e o sofrimento.
Dissera-lhe apenas:
"Deixa-te de lamúrias."
E a sua vida continuara, porque ela assim o decidira.
"Mas que ideia é essa?", e os seus dedos tamborilavam no antebraço cada vez com mais força.
"É uma ideia. Os fisicamente diminuídos também têm ideias, ou não sabias?"
Silêncio sepulcral.
"Se queres companhia feminina, arranja-se."
Teve um ataque de riso que só acabou muito tempo depois de ela ter batido com a porta.
"Mulher estúpida … NÃO SABES QUE O JOHN JÚNIOR CONSEGUIU MORRER, AO CONTRÁRIO DO JOHN SÉNIOR?!!!"
Ela ouviu o berro, enquanto olhava pela janela da sala de estar. E, pela primeira vez em trinta anos, uma lágrima rolou-lhe pela cara abaixo, seguindo a pista de uma pequena ruga no canto do olho.
E a odisseia começara. Durante um mês as candidatas entravam nos seus saltos altos, perfumadas até à medula, algumas até se roçavam nele e voltavam a sair, deixando-o cada vez mais determinado a provar a Clara que a sua ideia não era apenas um arrufo de doente convalescente.
Pela primeira vez na vida queria levar algo até ao fim. Nem que fosse apenas para lhe provar a ela que afinal de contas quem mandava ali era ele. Mesmo que o cheiro de tanta mulher já o enjoasse e tivesse que tomar dois comprimidos para dormir, todas as noites.
GFGFG
"Muita mulher tem beleza,
nenhuma a tua magia;
e a tua voz tal riqueza,
que nem a da melodia
por sobre as águas do mar:
quando, num encantamento,
sonhando adormece o vento
e a onda pára um momento
e desfalece, a brilhar …
LFKGÇFLKG
E a lua no céu fiando
A sua teia, a sorrir;
E o mar brandamente arfando
Qual criancinha a dormir:
Assim, dentro da minha alma,
Eu me inclino, ao encontrar-te,
Me suspendo, a escutar-te,
Me curvo, para adorar-te:
Com funda emoção, mas calma." (9)
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(8) O Último Imperador - Edward Behr; (9) Estâncias Para Música - Lord Byron

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

OS ANIMAIS DE ANDRÓMEDA

EFÉMERA

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As efémeras, como o seu nome indica, são ... efémeras, ou seja, vivem apenas algumas horas quando atingem a maturidade - dependendo da espécie, varia entre apenas 30 minutos ou 24 horas. A sua presença neste mundo restringe-se a partir da idade adulta à reprodução e postura de ovos para a geração seguinte, sem se alimentarem.
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Habitam zonas próximas de corpos de água doce parada ou de curso lento. Esta espécie é essencial para a ecologia dos seus habitats, devido à importância das ninfas na cadeia alimentar de que fazem parte. Graças à sua sensibilidade às condições fisico-químicas do meio, as efémeras são um dos grupos mais utilizados em programas de biomonitorização de qualidade da água. Se houver efémeras a esvoaçarem, isso significa que a água é de boa qualidade, inclusivamente para ser bebida sem precisar de ser fervida ou destilada.
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As ninfas das efémeras vivem na água, em geral escondidas sobre rochas. A maioria das espécies alimenta-se de detritos ou matéria vegetal, mas algumas são predadoras. Ao contrário do adulto, as ninfas vivem várias semanas ou até mesmo anos. Por vezes acontece que num único dia, todas as efémeras de uma determinada população atingem a maturidade ao mesmo tempo, o que faz com que em determinados locais se vejam dezenas de efémeras a esvoaçarem dançando em redor umas das outras.
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Quanto tempo dura um dia?
O tempo de uma vida
O tempo de uma dança
O tempo da esperança
Quanto tempo iremos durar?
O tempo de respirar
O tempo de amar
O tempo de regressar
Neste tempo que vivemos
Seremos eternamente efémeros

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XLVIII

O Olhar do Sith

Parque Expo - Pavilhão de Portugal

Voltei a vê-lo, antes de ir de férias. O Jedi caído. O Sith. Costumo vê-lo na rua, arrastando os seus sacos cheios de velhos recortes de jornais onde a sua história foi mencionada e analisada até à exaustão, uns quantos sabres de luz ferrugentos e sem força e uma quantidade variável de artefactos das mais variadas proveniências da Galáxia, que ele troca constantemente com outros como ele.

Sentou-se lá atrás, à minha frente. Mexe-se muito devagar e sempre com o extremo cuidado de não incomodar ninguém, como se fosse a sombra de si próprio. Provavelmente já nem sequer tem sombra. Não reparei. Da próxima vez hei-de reparar.
As suas mãos negras de sujidade e vergonha tocam cuidadosamente as coisas, como se não quisesse sequer que até as coisas dessem pela sua presença. Desta vez, em lugar do sobretudo preto infestado de pulgas, trazia uma camisa de manga curta que já fora beje e era agora de um tom acastanhado, com manchas de sujidade impregnadas.
Ficou a observar duas miúdas muito novas que, nos lugares à sua frente, se enrolavam uma na outra, naquela intimidade promíscua das raparigas muito novas. Uma delas tinha a cabeça no colo da outra, que com uma atenção cirúrgica lhe espremia uma borbulha ou ponto negro alojado no pescoço.
O Sith observava-as atentamente, mas não consigo sequer imaginar o que lhe passaria pela cabeça. Os seus olhos negros e opacos são instransponíveis. A luz não é benvinda naquelas órbitas, como nos buracos negros que tudo sugam das imediações. O sofrimento ou a loucura ergueram uma barreira que parece de rocha indestrutível. Parece …
É preciso muito cuidado ... muito mesmo ... um cuidado igual à ciência envolvida no processo de espremer uma borbulha no pescoço de uma amiga. Não é permitida a passagem a estranhos. Não se pode transpor essa barreira impunemente. Não porque seja impossível, mas porque podemos ser surpreendidos de formas que não esperávamos. E podemos não saber lidar com o que se nos é revelado repentinamente.
Por isso tenho muito cuidado e muito respeito quando observo este Sith. Pode ter caído há muito tempo e já nem sequer se lembrar que o foi, mas um ex Jedi ferido e abandonado, pode ser ainda mais mortífero do que um Sith na plena posse de todas as suas impressionantes capacidades.

E então aconteceu algo profundamente perturbador - enquanto lhe observava a nuca fixamente, ele pressentiu o meu olhar, girou lentamente o pescoço na direcção da janela, os seus olhos desviaram-se para trás e eu tive a certeza absoluta que ele sentira o meu olhar, habituado que está a que o desviem sempre que passa.
As raparigas e a sua promiscuidade inocente e as suas risadas pareceram incomodá-lo. Levantou-se em câmara lenta e lutou com o chão até lá à frente, onde permaneceu uns momentos no seu lugar preferido, junto à primeira porta de saída. Mas não parecia achar-se ainda confortável e então tomou uma decisão inesperada - pediu licença a uma senhora e sentou-se junto dela, do lado da janela e aí ficou, encolhido, sem estabelecer propriamente contacto com nada, como se estivesse em conluiu secreto com os objectos que lhe tocavam - "não estou aqui, não me sintam, não sou, não estou, não existo …”
E depois olhou para trás, para mim. Espreitou-me por entre duas cabeças. Os seus olhos opacos e condenados. Os meus tinham-se enchido de lágrimas, por trás dos óculos escuros. Olhou-me de novo.
O Sith não fugira das raparigas, mas de mim. Espreitava-me com os seus olhos densos. Desviei o olhar, nessa altura. Não por medo. Quis deixá-lo em paz com o meu olhar vampiro. Existem coisas de que só um Sith caído se pode aperceber. Como os meus olhares vampirescos sobre os outros. Olhares que o perseguem, pela calada.
Porque este Sith pode ter-se esquecido que já foi em tempos um Jedi luminoso e brilhante, mas há lições que permanecem para sempre. Como esta: um Jedi olhos nas costas ter deve. Sempre. De muitos lados vir o inimigo pode. E nem sempre de onde esperamos é.
Naquele dia, e talvez para sempre, eu fui um dos muitos fantasmas que assombram a mente de um pobre Sith cansado, assustado e perdido algures nesta Galáxia de almas sem misericórdia. Naquele dia, este Sith existiu para alguém, mas ele já não está habituado a suportar o peso da sua existência.

May the force be with you ...

domingo, 4 de novembro de 2007

EM MINHA CASA, NA PONTA DOS PÉS 4 (cont.)

Capítulo 2. E A TUA VOZ TAL RIQUEZA
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Assim que começara a ouvi-la, do lado de fora da casa, construíra imediatamente uma imagem mental dela. Ao longo dos meses, tornara-se eficiente naquilo. Aos poucos, a audição fora-se apurando cada vez mais e sabia que tinha agora muito melhor ouvido do que alguma vez tivera. Ironicamente tinha agora o ouvido que deveria ter herdado dos pais. Era uma questão de atenção. As imagens distraem-nos do essencial, ou pelo menos gostava de pensar assim para se poder desculpar da falta que a visão lhe fazia. Mais do que estar confinado à porcaria da cadeira de rodas, sem poder mexer as pernas. Até porque os médicos lhe tinham dito que um dia, com bastante esforço, talvez não fosse de todo impossível recuperar o movimento e poder voltar a andar. Mas a visão era irrecuperável. Mesmo para um homem que se podia dar ao luxo de ser visto pelos melhores especialistas do mundo. Nem valia a pena pensar nisso. E pensar era algo que fazia muito, agora.
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“Ser ou não ser - eis a questão
Se é mais nobre sofrer
Os tiros e as setas do destino
Ou empunhar armas contra um oceano de tormentas
E opondo-se-lhes, pôr-lhes termo? Morrer, dormir
Não mais; e ao dormir dizer que pomos fim
Às inquietações e aos mil choques naturais
De que a carne é herdeira. É uma consumação
Ardentemente desejada. Morrer, dormir;
Dormir, quiçá sonhar. Eis o erro;
Pois nesse sono de morte que sonhos poderão vir ...” (7)
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Começara a ouvir-lhe os passos nas escadas de pedra, através da janela entreaberta. Passos algo pesados e hesitantes. Trazia saltos altos, mas não eram nem tão altos nem tão bicudos como os de Clara. Entre o cessar do barulho dos saltos e o barulho do batente na porta, houve mais um momento de hesitação e um som que lhe pareceu um suspiro, mas que àquela distância era difícil de perceber.
Depois ouviu-lhe a voz e o coração, surpreendentemente, bateu mais depressa. Era uma voz reconfortante, apesar de ter um registo muito baixo e levemente agudo. Teria que a ouvir melhor, na privacidade da casa, sem ruídos de fundo, mas de qualquer das maneiras não tinha dúvidas. Era aquela.
Todas as outras lhe haviam parecido irritantes, ignóbeis até. Presunçosas e ocas. E à medida que os dias passavam ia-se instalando o desespero. Não conseguiria encontrar nenhuma voz que lhe agradasse? Estaria a ser demasiado exigente? Mas não podia ser. Nem que levasse meses até encontrá-la. Tinha construído um som mental na sua cabeça e não acreditava que, entre dezenas e dezenas de mulheres, não houvesse nem uma que correspondesse ao que imaginara.
Clara ia e vinha com as candidatas de trás para a frente e ele percebia pelo som dos seus passos e dos seus suspiros e pelo tom da sua voz que ela ia ficando cada vez mais irritada, à medida que os dias avançavam em direcção à noite. A irritação dela aumentava proporcionalmente à sua própria frustração.
É que para Clara, ele sabia, aquilo não passava de uma fantochada. Lembrava-se bem de quando lhe comunicara a ideia de publicar o anúncio no jornal. Tinha pena de não ter podido ver-lhe a expressão do rosto, porque só o seu silêncio sepulcral já fora suficientemente hilariante e tivera de disfarçar um sorriso, girando bruscamente a cadeira na direcção da janela.
"Mas que ideia é essa?", ouvira-a bater com os dedos de uma mão no braço oposto que devia estar cruzado sobre o peito, pois essa sempre fora a sua posição preferida quando estava prestes a explodir, desde que tinha consciência de si mesmo enquanto gente.
Clara passara a governar a casa quase desde que assumira funções como sua ama. Tinha-se tornado praticamente indispensável, numa casa onde os donos apenas se fixavam durante alguns meses por ano.
Violinistas e por consequência viajantes, os seus pais acompanhavam orquestras de renome em tournées frequentes por todo o mundo. Quando morreram os dois num desastre de avião a caminho de Londres, todos ficaram aliviados pela existência de Clara, que resolveria facilmente o problema da súbita orfandade de uma criança de oito anos sem parentes mais chegados.
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(7) Hamlet - William Shakespeare (tradução livre)

sábado, 3 de novembro de 2007

PALAVRAS EMPRESTADAS 27

Encontrei isto por acaso :) Hilariante :)))))
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"Confrontados com o baixo nível das conversas da juventude portuguesa, decidimos dar o nosso contributo. Compreendemos que ninguém tem tempo e que, quando o há, temos coisas mais engraçadas que fazer do que ler um livro, por muito bom que ele seja. Ver vídeos, dar uma volta, embebedar-se, pecar em geral, são de facto actividades mais divertidas e mais rápidas.
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Por esta e outras razões pomos a nossa extensa cultura ao serviço de todos os ignorantes que nos lêem. Para poupar tempo e dinheiro aqui estão alguns tesouros da literatura universal em poucas linhas e ao alcance de qualquer besta.
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Marcel Proust. À Ia recherche du temps perdu. Paris, Gallimard. 1922 (I.ere edition) - Em busca do tempo perdido. Livros do Brasil Colecção Dois Mundos). 1965
Resumo: Um rapaz asmático sofre de insónias porque a mãe não lhe dá um beijinho de boas-noites. No dia seguinte (pág. 486. I vol.), come um bolo e escreve um livro. Nessa noite (pág. 1344. VI vol.) tem um ataque de asma porque a namorada (ou namorado?) se recusa a dar-lhe uns beijinhos. Tudo termina num baile (vol. VII) onde estão todos muito veIhinhos e pronto.
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James Joyce. Ulysses. Paris, Shakespeare Co.. 922 - trad. portuguesa (obrigatório dizer e é má) de João Palma-Ferreira.
Resumo: Um dia na vida de um judeu chamado Bloom que vai cagar no primeiro capítulo. Um estudante chamado Daedalus masturba-se na praia. O judeu bebe uns copos e fala com o sapato. A mulher do judeu (que é cantora) lembra-se de como fornicou o dia todo com o seu amante. Termina com a palavra «Sim», prova indiscutível de que se trata de um livro inteiramente positivo.
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Júlio Dantas, A Ceia dos Cardeais, Lisboa, Lello, 1908 - tradução portuguesa de David Mourão-Ferreira.
Resumo: Era uma vez três cardeais. Um era português, o outro espanhol e o outro francês. Estavam a jantar no Vaticano e lembraram-se de comparar engates. O francês tinha muita lábia, o espanhol muita basófia mas o português é que a sabia toda. No fim, os outros baixaram a bola e reconheceram como é diferente (e melhor) o amor à portuguesa. Ou, como disse no fim o cardeal inglês. «Portuguese do it best».
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Leon Tolstoi, Guerra e Paz, (1800 páginas)
Resumo: Um rapaz não quer ir à guerra e por isso Napoleão invade Moscovo. A rapariga casa-se com outro. Fim.
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Luís de Camões, Os Lusíadas (várias edições), versão portuguesa de João de Barros)
Resumo: Um poeta com insónias decide chatear o rei e contar-lhe uma história de marinheiros que, depois de alguns problemas (logo resolvidos por uma deusa porreiraça), têm o justo prémio numa ilha cheia de gajas boas.
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Gustave Flaubert, Madame Bovary, (378 páginas)
Resumo: Uma dona de casa engana o marido com o padeiro, o leiteiro, o carteiro, o homem do talho, o merceeiro, e um vizinho cheio de massa. Envenena-se e morre.
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William Shakespeare, Hamlet, Londres, Oxford Press
Resumo:
Um príncipe com insónias passeia pelas muralhas do castelo, quando o. fantasma do pai lhe diz que foi morto pelo tio que dorme com a mãe, cujo homem de confiança é o pai da namorada que entretanto se suicida ao saber que o príncipe matou o seu pai para se vingar do tio que tinha matado o pai do seu namorado e dormia com a mãe. O príncipe mata o tio que dorme com a mãe, depois de falar com urna caveira e morre, assassinado pelo irmão da namorada, a mesma que era doida e que se tinha suicidado.
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Anónimo colectivo, Antigo Testamento (2 vol.)
Resumo: A mesma história tem dezenas de versões. Trata-se da saga de uma família através de várias gerações. Uma história de poder, luxúria, paixões incandescentes, ambições desmedidas, crimes hediondos e sexo.
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Anónimo colectivo. Novo Testamento (4 versões)
Resumo: Uma mulher com insónias dá à luz um filho cujo pai é uma pomba. O filho cresce e abandona a carpintaria para formar uma seita de pescadores. Por causa de um bufo, é preso e morre.”
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in K, nº20, Rapidinhas Culturais, Maio de 1992

WINGS OF WILL XXII......................................... Quem disse que o homem não consegue voar?

Isto é que é ter tomates e voaaaaaaar :))))))))
Adoro este desporto :) E tenho tanta inveja destes tipos .... mas tanta .... :)
kjjgh
Por favor, aperte o cinto, agarre o coração e voeeeeeeeeeeeeeeeeee com estes free runners:
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Breve História do Free Running:
A arte do Free Running surgiu a partir da evolução e desenvolvimento do Parkour. A sua criação é geralmente atribuída a Sebastian Foucan ou ao grupo Urban Free Flow. Faz uso de técnicas difíceis de acrobacia, que requerem uma preparação física e um controlo do corpo enormes - técnicas como saltos mortais e acrobacias, geralmente utilizadas na Ginástica Olímpica, em artes marciais ou em espectáculos circenses. Para além disto, o Free Running consiste basiacamente na arte de deslocação veloz de um ponto ao outro da forma mais fluente possível. O resultado é algo fascinante - "voadores humanos" :)

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

O LIMO DA MEMÓRIA II

Tantas lágrimas ... tantas ... mas tão diferentes. Dantes, quando chorava, parecia-lhe que todas as lágrimas iam parar a um frasco cintilante e fundo, onde se transformavam em brilhantes, diamantes e pedras preciosas verdes, encarnadas, azuis, amarelas, brancas ... reflectindo tantas ou mais cores.

Apesar do sofrimento que lhes dava origem, parecia-lhe que nesse tempo ainda havia algo que as transformava em coisas belas, puras, coloridas, cheias de emoção e sentimentos, como se a sua fábrica de lágrimas conseguisse produzir algo. Agora ... era diferente ... agora parecia-lhe que as mesmas lágrimas eram vazias, sem sentido e ainda mais sofridas, por isso mesmo.


Olhou o limo, piscou os olhos involuntariamente, imitando o bater das pestanas douradas dele, como os apaixonados fazem inconscientemente quando se encontram frente a frente e perguntou-lhe: "Que hei-de fazer com as minhas lágrimas? Como te posso ajudar, se nem eu sei já o que fazer delas?"


E o limo respondeu-lhe numa voz doce e trémula, frágil mas esperançosa, estendendo o fino braço que se dobrou na sua direcção como a haste verde de uma flor: "Oferece-mas. São como água para mim. Preciso delas para não murchar."


Puxou as mãos do limo, lentamente, na leveza duma carícia, juntando-as numa concha. Olhou-o profundamente nos olhos e ali permaneceu. O tempo dos seus olhos nos dele percorreram mares e desertos, silêncios e tempestades. Uma viagem a um mundo desconhecido mas com um caminho traçado. Como se sempre o tivesse conhecido. Parou num prado verdejante, cortado por um desfiladeiro enorme onde se sentia o vento nos cabelos. Ao olhar para baixo, penetrando na vertigem do espesso negrume, sentiu uma tristeza apoderar-se de si. Como uma hera a crescer, enrolando-se ao corpo. Uma tristeza inimaginável. Do mundo. Séculos de tristeza concentrada.


Não conseguiu aguentar mais tempo e libertou o olhar do limo em lágrimas. Espessas, percorrendo o rosto, corriam magneticamente atraídas para a concha formada pelas mãos do limo.



Em colaboração com Dry-Martini

To be continued ... or not ...