Capítulo 2. E A TUA VOZ TAL RIQUEZA
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A questão financeira era negligenciável, uma vez que o pequeno Johann era o único herdeiro de uma fortuna considerável que o sustentaria o resto da vida sem precisar de fazer nada. Clara já havia provado há muito tempo ter o carácter necessário para poder tomar conta da situação até Johann atingir a maioridade, com a respeitosa supervisão distante do advogado da família. E todos suspiraram de alívio.
Para Johann, Clara preencheu naturalmente o lugar da mãe ausente, uma vez que o pouco contacto que tivera com os pais não deixara espaço para traumas profundos. Fora uma criança desapegada, crescera como um adolescente mimado pelo dinheiro e pela falta de autoridade e tornara-se no típico adulto frio e calculista, mulherengo e suficientemente abastado e bem parecido para poder sê-lo com estilo e sem preocupações.
HGJHJH
"Mas ninguém, a partir dos cinco anos - nem mesmo a ama -, tinha a mais pequena autoridade sobre ele. O imperador era divino. Não se podia ralhar com ele ou castigá-lo. Apenas podia ser aconselhado com toda a deferência a não tratar mal eunucos inocentes e, se lhe apetecesse disparar os chumbos da espingarda de pressão contra eles, era sua prerrogativa.
Talvez os ataques de crueldade do jovem Pu Yi proviessem da sua impaciência por não ter qualquer privacidade. 'Cada vez que ia para o meu quarto de estudo para estudar, ou saía para dar uma volta pelo jardim, era sempre seguido por um grande séquito', escreveu ele.
'À frente, ia um eunuco cujas funções eram mais ou menos as de uma buzina: caminhava cerca de dois ou três metros adiante do grupo e fazia um ruído para avisar alguém que andasse pela vizinhança que devia afastar-se. Depois, seguiam dois eunucos-chefes, que andavam como dois caranguejos de cada lado do caminho; dez passos atrás deles vinha o centro da procissão. Se me levavam numa cadeira, iam dois eunucos juniores sempre a meu lado para alguma coisa de que eu precisasse; se eu fosse a pé, amparavam-me. Depois vinha um eunuco com um enorme dossel de seda, seguido por um grande grupo de eunucos, alguns sem nada nas mãos, outros transportando toda a espécie de objectos: um assento, para o caso de eu querer descansar, mudas de roupa, chapéus-de-chuva e guarda-sóis." (8)
HGHJG
Quando o seu carro se despistou a alta velocidade numa auto-estrada, todos abanaram a cabeça e disseram que já esperavam algo semelhante. Clara foi a única que esteve lá todos os dias no hospital, enquanto ele esteve em coma durante duas semanas, sempre sentada na cadeira ao pé da cama, atenta ao mais pequeno sinal. Parecia uma estátua de cera, com largos círculos negros em volta dos olhos.
Havia quem dissesse, ele sabia, que ela estava preocupada com o destino da herança. Havia até quem dissesse, ele também sabia, que ela não largava a sua cabeceira nem por um instante, na esperança de poder rectificar um imaginário testamento a favor da sua pessoa. É claro que quem dizia estas coisas não imaginava sequer que há muito que o destino da sua herança tinha ficado definido, com a ajuda da própria Clara. Johann só amara uma coisa na sua vida – livros. E os muitos milhões dos pais seriam distribuídos por inúmeras bibliotecas do país e do estrangeiro. Fora essa a sua vontade e Clara ajudara-o na complicada tarefa que envolvera a escolha, a listagem e o estabelecimento de todos os contactos necessários. Aliás, fora ela quem tratara de quase tudo. John limitara-se a assinar papéis e a visitar os locais, mas as visitas faziam parte da sua rotina de viagens e da sua paixão.
Clara foi também a única pessoa que não desistiu dele e que lhe pregou o único par de estalos da sua vida, quando o encontrou espalhado no chão do quarto uma noite, a seguir à recuperação do coma, tentando encontrar na escuridão os comprimidos que acabariam com a humilhação e o sofrimento.
Dissera-lhe apenas:
"Deixa-te de lamúrias."
E a sua vida continuara, porque ela assim o decidira.
"Mas que ideia é essa?", e os seus dedos tamborilavam no antebraço cada vez com mais força.
"É uma ideia. Os fisicamente diminuídos também têm ideias, ou não sabias?"
Silêncio sepulcral.
"Se queres companhia feminina, arranja-se."
Teve um ataque de riso que só acabou muito tempo depois de ela ter batido com a porta.
"Mulher estúpida … NÃO SABES QUE O JOHN JÚNIOR CONSEGUIU MORRER, AO CONTRÁRIO DO JOHN SÉNIOR?!!!"
Ela ouviu o berro, enquanto olhava pela janela da sala de estar. E, pela primeira vez em trinta anos, uma lágrima rolou-lhe pela cara abaixo, seguindo a pista de uma pequena ruga no canto do olho.
E a odisseia começara. Durante um mês as candidatas entravam nos seus saltos altos, perfumadas até à medula, algumas até se roçavam nele e voltavam a sair, deixando-o cada vez mais determinado a provar a Clara que a sua ideia não era apenas um arrufo de doente convalescente.
Pela primeira vez na vida queria levar algo até ao fim. Nem que fosse apenas para lhe provar a ela que afinal de contas quem mandava ali era ele. Mesmo que o cheiro de tanta mulher já o enjoasse e tivesse que tomar dois comprimidos para dormir, todas as noites.
GFGFG
"Muita mulher tem beleza,
nenhuma a tua magia;
e a tua voz tal riqueza,
que nem a da melodia
por sobre as águas do mar:
quando, num encantamento,
sonhando adormece o vento
e a onda pára um momento
e desfalece, a brilhar …
LFKGÇFLKG
E a lua no céu fiando
A sua teia, a sorrir;
E o mar brandamente arfando
Qual criancinha a dormir:
Assim, dentro da minha alma,
Eu me inclino, ao encontrar-te,
Me suspendo, a escutar-te,
Me curvo, para adorar-te:
Com funda emoção, mas calma." (9)
Para Johann, Clara preencheu naturalmente o lugar da mãe ausente, uma vez que o pouco contacto que tivera com os pais não deixara espaço para traumas profundos. Fora uma criança desapegada, crescera como um adolescente mimado pelo dinheiro e pela falta de autoridade e tornara-se no típico adulto frio e calculista, mulherengo e suficientemente abastado e bem parecido para poder sê-lo com estilo e sem preocupações.
HGJHJH
"Mas ninguém, a partir dos cinco anos - nem mesmo a ama -, tinha a mais pequena autoridade sobre ele. O imperador era divino. Não se podia ralhar com ele ou castigá-lo. Apenas podia ser aconselhado com toda a deferência a não tratar mal eunucos inocentes e, se lhe apetecesse disparar os chumbos da espingarda de pressão contra eles, era sua prerrogativa.
Talvez os ataques de crueldade do jovem Pu Yi proviessem da sua impaciência por não ter qualquer privacidade. 'Cada vez que ia para o meu quarto de estudo para estudar, ou saía para dar uma volta pelo jardim, era sempre seguido por um grande séquito', escreveu ele.
'À frente, ia um eunuco cujas funções eram mais ou menos as de uma buzina: caminhava cerca de dois ou três metros adiante do grupo e fazia um ruído para avisar alguém que andasse pela vizinhança que devia afastar-se. Depois, seguiam dois eunucos-chefes, que andavam como dois caranguejos de cada lado do caminho; dez passos atrás deles vinha o centro da procissão. Se me levavam numa cadeira, iam dois eunucos juniores sempre a meu lado para alguma coisa de que eu precisasse; se eu fosse a pé, amparavam-me. Depois vinha um eunuco com um enorme dossel de seda, seguido por um grande grupo de eunucos, alguns sem nada nas mãos, outros transportando toda a espécie de objectos: um assento, para o caso de eu querer descansar, mudas de roupa, chapéus-de-chuva e guarda-sóis." (8)
HGHJG
Quando o seu carro se despistou a alta velocidade numa auto-estrada, todos abanaram a cabeça e disseram que já esperavam algo semelhante. Clara foi a única que esteve lá todos os dias no hospital, enquanto ele esteve em coma durante duas semanas, sempre sentada na cadeira ao pé da cama, atenta ao mais pequeno sinal. Parecia uma estátua de cera, com largos círculos negros em volta dos olhos.
Havia quem dissesse, ele sabia, que ela estava preocupada com o destino da herança. Havia até quem dissesse, ele também sabia, que ela não largava a sua cabeceira nem por um instante, na esperança de poder rectificar um imaginário testamento a favor da sua pessoa. É claro que quem dizia estas coisas não imaginava sequer que há muito que o destino da sua herança tinha ficado definido, com a ajuda da própria Clara. Johann só amara uma coisa na sua vida – livros. E os muitos milhões dos pais seriam distribuídos por inúmeras bibliotecas do país e do estrangeiro. Fora essa a sua vontade e Clara ajudara-o na complicada tarefa que envolvera a escolha, a listagem e o estabelecimento de todos os contactos necessários. Aliás, fora ela quem tratara de quase tudo. John limitara-se a assinar papéis e a visitar os locais, mas as visitas faziam parte da sua rotina de viagens e da sua paixão.
Clara foi também a única pessoa que não desistiu dele e que lhe pregou o único par de estalos da sua vida, quando o encontrou espalhado no chão do quarto uma noite, a seguir à recuperação do coma, tentando encontrar na escuridão os comprimidos que acabariam com a humilhação e o sofrimento.
Dissera-lhe apenas:
"Deixa-te de lamúrias."
E a sua vida continuara, porque ela assim o decidira.
"Mas que ideia é essa?", e os seus dedos tamborilavam no antebraço cada vez com mais força.
"É uma ideia. Os fisicamente diminuídos também têm ideias, ou não sabias?"
Silêncio sepulcral.
"Se queres companhia feminina, arranja-se."
Teve um ataque de riso que só acabou muito tempo depois de ela ter batido com a porta.
"Mulher estúpida … NÃO SABES QUE O JOHN JÚNIOR CONSEGUIU MORRER, AO CONTRÁRIO DO JOHN SÉNIOR?!!!"
Ela ouviu o berro, enquanto olhava pela janela da sala de estar. E, pela primeira vez em trinta anos, uma lágrima rolou-lhe pela cara abaixo, seguindo a pista de uma pequena ruga no canto do olho.
E a odisseia começara. Durante um mês as candidatas entravam nos seus saltos altos, perfumadas até à medula, algumas até se roçavam nele e voltavam a sair, deixando-o cada vez mais determinado a provar a Clara que a sua ideia não era apenas um arrufo de doente convalescente.
Pela primeira vez na vida queria levar algo até ao fim. Nem que fosse apenas para lhe provar a ela que afinal de contas quem mandava ali era ele. Mesmo que o cheiro de tanta mulher já o enjoasse e tivesse que tomar dois comprimidos para dormir, todas as noites.
GFGFG
"Muita mulher tem beleza,
nenhuma a tua magia;
e a tua voz tal riqueza,
que nem a da melodia
por sobre as águas do mar:
quando, num encantamento,
sonhando adormece o vento
e a onda pára um momento
e desfalece, a brilhar …
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E a lua no céu fiando
A sua teia, a sorrir;
E o mar brandamente arfando
Qual criancinha a dormir:
Assim, dentro da minha alma,
Eu me inclino, ao encontrar-te,
Me suspendo, a escutar-te,
Me curvo, para adorar-te:
Com funda emoção, mas calma." (9)
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(8) O Último Imperador - Edward Behr; (9) Estâncias Para Música - Lord Byron
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