sábado, 28 de fevereiro de 2009

MURMÚRIOS DE LISBOA LXXIX

Andy & Marilyn
ºdçºçd
Interior Sala Cinema Monumental
slçd
Andy procurava Marlilyn. Foi por isso que saiu perto do Inatel.
Andy andava à procura de Marilyn num écran gigante e perguntava a todos onde a poderia encontrar. A maioria não lhe respondia porque pensavam que ele era um louco de Lisboa, como há tantos. E aos loucos de Lisboa não se responde, nem sequer se olha nos olhos. Uma das primeiras coisas que os lisboetas aprendem quando são pequenos é a não estabelecer contacto visual com estranhos. Sei logo quando as pessoas não são de Lisboa e quando são. Quando não são, olham fixamente para os loucos e tecem comentários. Quando são fazem como eu, olham mas não olham. É uma ciência que se tem de aprender desde cedo, ou nunca se dominará com mestria. Foi assim que aprendi a olhar as pessoas sem que elas notem que as estou a olhar. É preciso muito treino.

djkld
Portanto, Andy andava por aí a perguntar por Marilyn, mas claro que a maioria das pessoas pensava que ele tinha acabado de sair daquele edifício cor-de-rosa ali na Av. do Brasil. Até que, finalmente, houve alguém, um cinéfilo, que parou e ficou a pensar.

Marilyn ... écran grande ... olhe, porque é que não experimenta ali o Inatel? Pode ser que ela ande a passear para esses lados. É que é o único sítio em Lisboa em que se podem ver grandes filmes em écran gigante. Podia mandá-lo para a Cinemateca, claro, mas ainda fica um bocado desviado do seu caminho e depois para encontrar o aeroporto vai-se ver às aranhas. De qualquer modo, na Cinemateca os écrans não são tão grandes.
dlkçld
E, portanto, lá foi o Andy recambiado de autocarro para o Inatel. Vinha vestido com um casaco de xadrez castanho e umas calças pretas, tinha umas botas de camurça castanha com saltos de 5 centímetros e o cabelo todo branco muito curtinho. Usava também uns óculos pretos grandes, à intelectual dos anos 60 e nem sequer tentava disfarçar a sua identidade, de modo que era impossível não se perceber que aquela figura andrógina só podia ser Andy Warhol.
Saiu no Inatel com o seu passo nervoso e ansioso, de quem anda sempre com um par de olhos pespegados nas costas desde que alguém o tentou matar, e nunca mais recuperou.

Não sei o motivo exacto por que procurava Marilyn, mas posso calcular. Andy tem saudades de Marilyn. Muitas. Não de Norma Jean, porque ele está com Norma Jean todos os dias. Tem saudades de Marilyn e Marilyn só aparece em écrans gigantes.
Tem saudades de a ver assim, gigante, a encher a vida de poeira de estrela e de brilho e daquela inocência fatal absolutamente irresistível, que só quem a viu num écran gigante sabe como é.

Sem comentários: