segunda-feira, 6 de abril de 2009

MURMÚRIOS DE AVALON IX

O Escritor Perdido e Achado
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Quem sou quando escrevo?
Sou diferente de quando não escrevo?
Não falo da superfície, mas da essência.
Quando escrevo, uso palavras que não uso quando falo. Mas quanto mais escrevo, mais essas palavras passam para o meu discurso falado.
Quando escrevo, explico coisas que sou incapaz de explicar falando. Tenho princípio, meio e fim. Tenho continuidade. Talvez tenha até um certo ritmo.
Quando escrevo, sou capaz de ser irónico, criar suspense, respirar como os cómicos aprendem.
Quando escrevo, escolho caminhos inusitados, às vezes perigosos, polémicos, sou mais aventureiro.
Quando escrevo, sou mais eu do que quando não escrevo e quando não escrevo os outros não imaginam a distância a que estão de mim.
Escrever é, por isso, ao mesmo tempo, uma benção e uma maldição.
Escrever é, por isso, ao mesmo tempo, uma ponte e um obstáculo para chegar até mim.
Não preciso de escrever para me encontrar. Sei onde estou, sem papel, sem lápis. Não preciso do mapa da escrita para me descobrir. Os outros sim, precisam, do mapa da escrita para me descobrirem.
Penso muito. Reflicto muito. Analiso muito.
Conta-se que Leonardo da Vinci passava dias a observar uma parede ou uma tela, antes de começar a pintar e que isso terá irritado um certo Papa, que achava que Leonardo não estava a justificar o salário pago. E que Leonardo terá respondido: "É quando os homens de grande génio estão a fazer menos trabalho, que estão mais activos."
Quando não escrevo, escrevo, ainda assim. Apesar de ninguém adivinhar.
Quando te olho, estou a escrever-te, já, se bem que não o imagines. Por vezes passam-se anos, até que eu próprio perceba que te escrevi, já, na minha cabeça, antes de te escrever no papel. É claro que tens que ser interessante. Mas o teu interesse pode residir numa coisa banalíssima, que nunca imaginarias ser possível.
Por isso, se me queres entender, lê primeiro o que escrevo, e só depois lê-me a mim.
Se me leres primeiro a mim, é muito provável que te enganes redondamente sobre quem realmente sou. Mas cuidado. Não te esqueças que já escrevo há muito tempo. Dentro e fora de mim. Sei, por isso, todos os truques. Não são precisos muitos, nem sequer os melhores, para te enganar, se quiser, sabias?
E tudo o que de mim leres, poderá ser uma ilusão. Ou não.
Não é fácil nem simples, ser leitor. Que julgavas tu? São precisos os melhores leitores para os melhores escritores. E quanto melhor o escritor, melhor leitor terás de ser tu.
Ou julgavas que isto era canja?

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