quarta-feira, 8 de abril de 2009

MURMÚRIOS DE LISBOA LXXXII

Acode-me, Kubrik, Meu Filho da Mãe!
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Passagem estreita - Torre de Belém
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Mandam-nos entrar para um vestiário minúsculo e depois dizem-nos:
"Agora vai tirar a parte de cima e a calçinha. Deixa ficar a meinha, a cuequinha e o sapatinho. Tira tudo o que é de metal. E vai vestir a batinha."
Daí a nada vêm-nos buscar e levam-nos para o que parece o interior da Discovery One. A sala é pequena e totalmente branca, toda fechada, sem janelas para o exterior, à excepção da parede onde está a porta, que ostenta um enorme vidro por onde é possível ver aquilo que parece a sala de controlo, e onde se encontram uns 6 ou 7 homens, todos de batas brancas e olhar compenetrado.
Mandam-me sentar numa plataforma que sai de um tubo enorme branco localizado no centro da sala e tenho que tirar os sapatos. Depois injectam-me uma substância corante no braço, que supostamente irá colorir zonas do meu peito para as tornar mais visíveis aos poderes misteriosos do tubo que me irá sondar.
Procuro o Stanley Kubrik por todos os lados, talvez do outro lado do vidro por trás de uma câmara de filmar, mas só lá está um rapaz barbudo de bata branca e o seu ajudante. Mandam-me deitar de barriga para baixo e enfiar o peito em dois buracos. Enfiam-me uns tampões nos ouvidos e uma bola de borracha na mão esquerda, que devo apertar se me sentir mal lá dentro do tubo. Depois o pseudo Kubrik diz-me que quanto mais quieta eu ficar, melhor correrá o exame.
"Tente não se mexer, senão temos que repetir tudo."
"Quanto tempo?", pergunto.
"Uns 45 minutos."
Ok ... Lembro-me do meu irmão me dizer que tinha adormecido ali dentro. Suspiro e resolvo xingar o Stanley Kubrik para dentro. Preciso de um bode expiatório e, uma vez que me vão enfiar num tubo branco gigante que me faz lembrar o interior asséptico da nave espacial do 2001-Odisseia no Espaço, acho que é perfeitamente compreensível. Além do mais, o raio do homem era chalupa da cachimónia, apesar (ou por causa) de ser um génio, portanto não lhe deve fazer grande diferença, esteja lá onde estiver no outerspace das alminhas defuntas.
Deito-me e enfiam-me lá para dentro. Dez minutos mais tarde estou a ter um ataque de desespero esquizofrénico - tenho vontade de gritar, de espernear e de rir, porque me estou a lembrar do que o maluco do meu irmão me disse. E penso: mas como é que este gajo me conseguiu dormir aqui dentro?
É que ... a máquina faz barulhos ... barulhos é ser doce ... ela emite sons ... de todos os tipos e géneros ... na verdade, para quê estar aqui com delicadezas? a porra da máquina faz uma chiadeira descomunal durante os 45 minutos que dura o raio do exame.
Piiiii!!!!! Piiiiii!!!!!! Piiiii!!!!! Piiiii!!!!!
Pééééé!!!!!! Pééééé!!!!! Pééééé!!!!! Pééééé!!!!!
Tum! Tum! Tum! Tum! Tum! Tum!
Tum! Tum! Tum! Tum! Tum! Tum!
Tum! Tum! Tum! Tum! Tum! Tum!
Mesmo com os auriculares que o pseudo Kubrik me deu, a minha cabeça parece que foi invadida pela III Guerra Inter-Galáctica.
Help me, Hans Solo!!!!
Mas estou determinada a obedecer ao que me pediram. Não quero ter de repetir esta porra toda outra vez!
Deixo-me ficar quietinha, apesar de ter uma vontade sobrenatural de me mexer. Durante uma boa meia-hora tenho a incómoda e desesperante sensação que o meu braço direito está a escorregar do tabuleiro, algo completamente impossível porque estou encafuada dentro do tudo de Kubrik, sem espaço para me espraiar.
Tento pensar em tudo menos que estou encafuada dentro dum tubo! Penso no Mickey Rourke no Wrestler, penso no Sean Penn a receber o oscar, penso em prados verdes, peixinhos coloridos e mar. De vez em quando lembro-me da Uma Thurman a dar golpes de karaté dentro de um caixão debaixo do deserto californiano e tenho uma vontade enorme de Kill não o Bill mas o pseudo Kubrik que está lá fora. Entro em hiperventilação e tento voltar ao Mickey Rourke e aos oscars. Tenho 2 ou 3 ataques de pânico absoluto e tenho que fazer um esforço sobre humano para me controlar. O meu irmão salva-me: "mas como é que aquele maluco conseguiu adormecer aqui dentro??!!!" - dá-me vontade de rir e acalmo de novo.
Finalmente, ouço, vinda do outerspace, a voz do pseudo Kubrik, entusiasmado:
"Está a correr lindamente! Só faltam 6 minutos!"
O geek está feliz com a sua cobaia. Haja alguém. "She's aliiiiiveeeee!". Suspiro fundo.
O que o gajo se esqueceu de dizer foi que os últimos minutos são o grande finale da diva
Pémmm!!!! Pémmm!!!! Pémmm!!!
Pémmm!!!! Pémmm!!!! Pémmm!!!
Pémmm!!!! Pémmm!!!! Pémmm!!!
Fecho os olhos e quando finalmente me sinto deslizar para fora do tubo, sopro e exclamo:
"Bolas! Esta coisa parece um filme do Stanley Kubrik!"
O geek ri-se e pergunta-me se estou tonta. Respondo-lhe que não e controlo-me para não o atirar contra a parede e fazer dele Kubrik meat.
Saio, à espera dos aplausos do público, mas só lá estão os outros geeks. Sei que me portei bem. Mas este argumento é meu e o realizador deste filme foi uma coisa chamada Ressonância Magnética, que eu espero nunca mais ter de fazer na vida!!!!

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