sexta-feira, 5 de março de 2010

MURMÚRIOS DO PARAÍSO XIV

Catedrais de Gaudi
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No Paraíso todos podemos ser Antoni Gaudí. Quem diz Gaudí, Diz Raffaello ou Picasso ou Michelangelo. Se bem que seja mais fácil ser Gaudí. O Paraíso tem o condão de tranformar qualquer mero mortal em artista moderno. Será porventura influência das marés jackson pollockianas.
A verdade é que todos os anos a autora destas linhas se descobre arquitecta catalã, para gáudio dos turistas nórdicos que passam à beira-mar e se maravilham com as suas criações.
Num acto sem precedentes, aqui se irá revelar a receita secreta das obras-primas do Paraíso:
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Ingredientes:

* Areia molhada
* Água do mar
* Poça à beira-mar
* Dedos leves
* Brisa fraca ou nula
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Local:
De extrema importância torna-se a escolha do local, bem como do timing perfeito.
Sente-se à beira-mar e espere que venha uma onda. Não se coloque nem muito próximo da maré nem muito longe, já veremos porquê.
Enquanto espera pela onda, cave um fosso na areia, suficientemente grande para se encher com bastante água.
Pode escolher entre maré a vazar ou a encher, sendo que isto tem muito que se lhe diga. Se escolher maré a vazar, saiba que tem de ser rápido a construir a sua catedral, ou ficará sem água no fosso a meio da construção. Se escolher maré a encher, e mesmo que construa um dique de protecção, verá a sua catedral ser implacavelmente destruída alguns minutos após a sua finalização o que, no caso de ser vaidoso, se torna um verdadeiro desgosto.
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Preparação:
* Mergulhe a mão no fosso de água e apanhe uma mão cheia de areia molhada a escorrer
* Deposite na areia dura, junto ao fosso, a uma distância mínima de segurança (à medida que for retirando areia do fosso, este ir-se-á alargando, correndo o risco de fazer desabar as fundações da catedral a meio da obra)
* Repita esta operação as vezes necessárias, até criar uma base sólida e larga para a sua catedral
* Continue a mergulhar, desta vez apenas as pontas dos dedos, no fosso e a trazer porções gradualmente mais pequenas de areia
* Deixe escorrer a areia e a água delicadamente sobre a base, trabalhando em altura e diminuindo gradualmente o caudal, de forma a construir uma forma cónica que termina num pináculo
* Finalmente, a pièce de resistance, o topo da sua catedral- repita a operação as vezes necessárias até criar um topo digno - esguio, elegante, levemente arrebitado, com um volteado inusitado - é nos topos que os verdadeiros virtuosos se distinguem dos demais
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Et voilá! Admire a sua catedral e despeça-se da sua obra efémera. No dia seguinte repita. É viciante, garanto.

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