terça-feira, 9 de março de 2010

'Till I Found You

O Mundo Colapsa 14
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2200, Inverno, 14.32 GMT
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Estava irritado consigo próprio. Muito. Nunca pensara vir alguma vez a dizer isto, mas tinha saudades de se ver. Tinha saudades do seu corpo. Pensava que deixara esses desejos terrenos e mórbidos há muito tempo, mas a visão súbita do sujeito da Dheli tinha-lhe trazido uma saudade estúpida de vislumbrar o seu reflexo num espelho.
Como estaria agora, depois de tantos anos? Estúpido! Claro que o envelhecimento não era uma questão que se pudesse colocar. Que idiota! Mas, por outro lado, tinha curiosidade em saber como teria envelhecido. Fisicamente, porque mentalmente o seu estado actual era eterno. Algumas modificações ligeiras, porque a aprendizagem da vida continuava, mesmo artificialmente. Mas outra das vantagens da vida artificial era que a mente permanecia tal e qual como a tinha deixado quando abandonara o seu corpo. O que significava que manteria a jovialidade dos seus trinta e três anos para sempre.
Nunca fora um homem bonito. Tinha olhos demasiado grandes e pestanas muito compridas, que podiam transformar um puto de sete anos num anjinho, mas que num homem feito se tornavam estranhas e lhe salientavam ainda mais os olhos, dando-lhe um ar alucinado. O seu nariz era o único elemento digno de apreciação. Apesar de desfeito a murro durante uma das muitas brigas em que se vira envolvido (sempre por sua livre e espontânea vontade) durante a infância e adolescência, mantivera-se pequeno, no meio de um rosto ligeiramente cheio. Era até, tal como as pestanas, demasiado elegante para feições masculinas, mas não sobressaía demasiado, ao contrário das primeiras. Depois tudo o resto era vulgar, desde a boca fina às orelhas médias e à cor castanha dos olhos e do cabelo. Usara-o quase sempre cortado à escovinha porque se o deixasse crescer, rapidamente se transformava numa floresta revolta de caracóis que lhe atazanavam a paciência todas as manhãs.
O cabelo quase rapado, o corpo musculado e endurecido à custa de mais de quinze anos de musculação e a sua altura ligeriamente superior à média do homem português, conferiam-lhe um aspecto agressivo e aproximado do estereótipo do brutamontes sem cérebro, ajudado pela manutenção de uma capa de sisudez que só caía quando se sentia suficientemente à vontade com as pessoas para lhes fazer uma demonstração do seu humor corrosivo e da sua inteligência brilhante.
Sorriu, ao pensar nisto. Ou pensou naquilo e logo a seguir pensou num sorriso. Há muito tempo que a inteligência deixara de ser medida de forma tão simplista. Mas, pelos padrões do seu século, do último século que vivera fisicamente, o seu QI era bastante acima da média. E claro que sempre lhe conferira algumas vantagens na vida. Em última instância salvara-a, ou aquilo que restava dela.
Por vezes interrogava-se sobre a razão de tudo isto. Para que lutavam há dezenas de anos por uma causa aparentemente perdida? Porque não deixar simplesmente o sistema instalar-se irreversivelmente? Afinal de contas, a raça humana tinha deixado as coisas chegarem àquele ponto. Deixá-los matarem-se uns aos outros. Deixá-los aniquilarem-se à vontade. Para que se havia de preocupar com um bando de merdosos estúpidos e ingratos, quando ele próprio não tencionava voltar à sua condição humana?
ºf~çºg
Someone wants to communicate
DCC Chat
Cheking Ident
Status: On-Line
Identity: Code Red
Translation: Le0pard
flçºfg
«Le0pard» tás aí?
«Júpiter» yep
ºçflgçºdg
Pausa. J. estava excitado. Ele pressentia-o. Apesar de ser o líder, era o mais novo. Quando a guerra começara, J. atinha apenas dezassete anos e o seu espírito assim permanecera. Inocente, apesar de ter mais calo nos dedos do que todos eles juntos. C. admirava-o, invejava-o, sentia um misto de protecção e de protegido de cada vez que falava com ele. J. tinha a sabedoria toda de um velho ancião experiente, mas mantinha uma juventude doce e quase irritante, não fosse a sua aura que contagiava todos os que se aproximavam dele. J. era um líder nato, não propriamente por causa da sua tarimba, mas por causa dessa característica que faz de todos os homens e mulheres que a possuem semi-deuses, pelos quais todos os que os rodeiam estão prontos a sacrificar vidas - a esperança.
jfklsdf
«Le0pard» e?
«Júpiter» e que queres q te diga? O Krueg excedeu-se
«Le0pard» excedeu-se? que queres dizer com isso?
«Júpiter» que o Krueg pensa q descobriu a pólvora ou a roda tamos no sec XXIII porra!
«Le0pard» apanheite num momento de auto comiseração ok falamos qd estiveres mais calmo. Há CM de emergência daqui a 10 horas, arranja todo o material novo que tens. Aquele relatório dos Diários encaixa na teoria do Krueg mas antes disso falo contigo bye
çflçºd
DCC Chat off
ºçfºdg
Merda! Raio do puto!

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