James - Parte IV
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James Joyce auto-proclamava-se um artista socialístico, defendendo que o vulgar era o domínio próprio do artista e que o sensacionalismo e o heroismo deveriam ser remetidos para os jornalistas. Para estes últimos, as palavras são peças que podem ser reorganizadas indiferentemente. Para o artista, só pode haver uma ordem ideal.
Talvez a melhor e mais fácil maneira de entender isto seja lendo "Dubliners", sugiro eu, um conjunto de contos escritos por James aos 32 anos e que são uma obra-prima do quotidiano.
O impulso de Joyce é sempre o de reduzir grandiosos chavões a uma dimensão humana, domesticando o épico. Para ele, o heroísmo é a capacidade de suportar sofrimento, em vez de a capacidade de o infligir. E o verdadeiro heroísmo, como a verdadeira santidade, nunca tem consciência de si próprio. São, por isso, heróis todos os homens e mulheres comuns, heróis da sua própria vida.
E talvez por causa desta procura da mundanidade tão clara, a sua relação com o corpo na literatura fosse tão natural e ao mesmo tempo tão escandalosa para a sua época, sobretudo em Ulisses. O que Joyce queria era oferecer ao corpo o reconhecimento equivalente ao da mente, mas a geração pós-vitoriana (e ainda a nossa, porventura) não suportava uma imagem da sua própria condição.
Mais uma vez, um grande livro tinha demonstrado que, ao invés de o estarem a ler, eram os leitores que eram por ele "lidos", expondo de forma crua os seus pontos fracos.
Ulisses está estruturado de acordo com as diferents partes do corpo humano. Há quem defenda que esta anatomização do plano da obra (um órgão por capítulo) representava a abstração última da forma humana.
É muito possível que Ulisses tenha sido moldado, conclui a introdução do livro, a partir de um molde para o qual ainda não existe sequer um nome.
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