lkjlkj
dfldºç
Às vezes tinha vontade de o esganar. Às vezes tinha vontade de ter corpo outra vez, só para poder ter o prazer de lhe apertar o pescoço. O José. O José fora o culpado de tudo. Sorriu um dos seus sorrisos electrónicos. Não fora ele, e se calhar não estaria vivo hoje. Vivo ... Mas agora era mais vivo do que fora. A sua vida era uma merda. Só deixara de ser merda quando a conhecera. E mesmo assim, tivera de transformar tudo numa merda. Só fazia era merda. A única coisa certa que fizera na vida fora deixar de viver.
Por vezes desejava ser como o José, que aparentemente parecia ter certezas sobre tudo. O seu sistema ético parecia sempre intacto. A sua segurança inabalável, apesar de andar sempre com a mania da perseguição. Teorias da conspiração eram o seu oxigénio. Mas, ao contrário de si, que apenas as coleccionava por desporto, o José acreditava em todas. Ela andara obcecada por ele durante uns meses. Queria fazer uma reportagem sobre um hacker. E fora o José quem lhe falara dele. E avisara-a:
ºçº~ç
«too-sexy-to-my-shirt» n te metas c ele, ele é perigoso
çlçºl
Sorriu novo sorriso electrónico. Não acreditava no destino. Mas havia coisas que eram, no mínimo, divertidas, no máximo espantosas. Quando pensava nisso chegava sempre à conclusão absurda para um ateu convicto que o destino daqueles três seres fora traçado há muito nas estrelas da Via Láctea. Não podia ter sido de outra maneira.
Hoje, duzentos anos depois de tudo ter acontecido, tinha a certeza que sim. Hoje já não lhe causava impressão pensar que os três tinham feito parte de um estranho triângulo amoroso e que todos se tinham amado, cada um à sua maneira. Era tão óbvio. Era tão óbvio que aturara o maluco porque ela se afeiçoara a ele, mesmo depois de ter percebido que era completamente impossível fazer uma reportagem a partir de um tipo completamente marado, que a maioria das vezes nem sequer dizia coisa com coisa.
klçk
"Eu até gosto do miúdo, pá."
"Eu sei."
"Eu acho que gosto dele porque tu gostas dele."
"Gosto muito."
"Deves ser a única pessoa que lhe dá atenção."
"Se calhar."
lççkl
Era tão óbvio que o continuava a aturar e que até o propusera para seu Assistente ao Jorge, porque a sua presença lhe trazia a proximidade dela.
Não sabia porque continuara. O miúdo era capaz de ter razão. Continuara porque lá bem no fundo desejava que ela tivesse continuado também. Passava horas a analisar diários, resquícios dos que haviam deixado um qualquer testamento electrónico, porque o que procurava era o testamento dela. Estava-se nas tintas para o Programa. Mesmo sabendo que ela vivia de imagens e não de palavras, vivia há duzentos anos na esperança que ela tivesse deixado alguma prova de que tudo não fora em vão.
Mas que direito tinha de esperar o que quer que fosse, quando se tinha portado como um merdas?
Desistira dela. Tivera medo. E o medo fodera-lhe o resto da vida que ainda tinha.
çºflºçdf
System Hybernating
Sem comentários:
Enviar um comentário