sexta-feira, 28 de maio de 2010

EM BUSCA DE PALAVRAS 108

A Morte
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A morte é chata. Porque a morte é presente, mesmo quando não a vemos na curva da estrada. Sempre. Presente.
Não gostamos de falar dela. É tabu. Como o incesto consentido. Uma vez que o sexo já não é. Os dois últimos tabus - a morte e o incesto consentido.
A mais bela e mais doce definição de morte que conheço é de Fernando Pessoa:
"A morte é a curva da estrada, Morrer é só não ser visto."
Esta definição aquieta-nos. Pronto. É só não ser visto. A pessoa continua lá, queremos acreditar ... Continua lá na curva e quando nós dobrarmos a esquina, quando chegar a nossa vez de a dobrar, lá estará a pessoa à nossa espera. Esteve a brincar às escondidas connosco, só isso. Cu! Cu! Apanhei-te!
E haverá risos e alegria. E partirão os dois de mãos dadas ao longo de nova estrada.
Queremos acreditar que sim ...
Que morrer é só não ser visto.
Mas provavelmente não é só isso.
Provavelmente a igreja tem razão - a única afirmação católica com a qual concordo - quando diz:
"Do pó vens e ao pó voltarás."
Sim. Pó. De estrelas, quiçá. Também é poético. Alimentar margaridas é bonito. Fazer parte de outra pessoa, de outro ser vivo, do ar. Continuar assim, disperso, em moléculas, por aí. Somos todos canibais, nesse caso. Ingerimos moléculas de Shakespeare e de Michael Jackson (ainda é cedo, ainda não está em estado molecular ...) e de Afonso Henriques. Talvez fiquemos mais, assim. Mais seres humanos, mais cultos, melhores pessoas. Ou piores, se andarmos por aí a inspirar moléculas de Hitler, de Mao, de Mussolini.
A morte é chata. Quando alguém quer morrer, não queremos saber. Quando alguém vai morrer, suspiramos e não queremos mais falar no assunto. Quando alguém nos pede para morrer, entramos em pânico e recusamos. Quando alguém diz que já morreu, atiramos-lhe um "não sejas parvo!" cheio de histerismo. A palavra morte assusta-nos.
Tenho uma teoria. É porque não gostamos de nenhum tipo de fim. E a morte é o "ultimate" fim. No more. No return. Game over. Over and out, forever. Caput!

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