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Os turistas do Paraíso gostam de pensar que são seus donos, mas não podiam estar mais enganados.
As gentes do Paraíso deixam-nos pensar assim porque sabem que eles só lá passam e nunca ficam verdadeiramente. É possível ficar no Paraíso, mesmo quando não se está lá fisicamente, mas isso é um segredo que só poucos conhecem.
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Os "bifes", que não são apenas bifes porque vêm de vários cantos do mundo, são natural e geralmente alvos de pele e, por consequência, assam ao sol, adquirindo uma cor de lagosta rosada que dói só de olhar.
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Alguns são aventureiros e gostam de experimentar as iguarias nativas, deliciando-se com os manjares deliciosos do Paraíso. Os outros, que não imaginam o que perdem nem nunca o saberão, contentam-se com os hamburguers e a batata frita, generosamente regados de ketchup.
Normalmente estão já na reforma, desaguam no Paraíso aos pares ou aos grupos de quatro, levantam-se com as galinhas e deitam-se com os pardais, carregam garrafões de água para todo o lado, apreciam o areal particularmente ao pôr-do-sol, só pisam a areia com pés devidamente protegidos por meias brancas e sorriem a todos os nativos como se tivessem medo de represálias caso não o façam.
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Os mais velhos fazem amizade com os donos dos restaurantes e têm olho para escolher os melhores. Gargalham a noite fora nas mesas das esplanadas, sorvem cocktails coloridos de palhinhas gigantescas, gastam uns trocos no casino e passam horas a boiar em colchões insufláveis nas piscinas dos hotéis.
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Ao jantar vestem-se como se estivessem na Riviera Francesa e é aqui, precisamente aqui, que o conhecedor consegue distinguir o verdadeiro turista daquele que já se sente dono do Paraíso. Este último já percebeu há muito que está no fim do mundo e que não vale, por isso, a pena caprichar na toilette.
Quando as primeiras chuvas caem, os toldos começam a ser recolhidos, os feirantes se fazem à estrada e as esplanadas encerram para o Outono, os turistas partem finalmente e deixam o Paraíso sossegado.
E só então, só então ao Paraíso se pode chamar Paraíso.
E mesmo quando dele nos temos de apartar, é sempre possível trazê-lo junto do coração, onde quer que estejamos.
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= FIM =
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P.S. Os textos desta rubrica são dedicados à vila de Monte Gordo, um dos lugares que mais amo neste mundo.
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