quarta-feira, 9 de julho de 2008

EM BUSCA DE PALAVRAS 32

Crime e Castigo
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A história começa assim: um jovem russo empobrecido, com a cabeça cheia de ideias vanguardistas numa Rússia de meados do século XIX, decide matar uma agiota sem escrúpulos, livrando-se das suas dívidas e livrando o mundo de um parasita. A sua ideia é a de que existem pessoas comuns e pessoas extraordinárias e estas últimas têm o direito de matar, se isso for necessário, em prol do avanço da humanidade.
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Será o crime perfeito. E é. Ninguém suspeita de nada, nem ninguém nunca viria a suspeitar, não fosse um pequeno detalhe que começa a corroer todo o edifício da sua teoria - a sua consciência. Raskólnikov começa aos poucos a ser corroído pelo peso da sua consciência e o Castigo de que o título fala não é senão o seu próprio castigo, auto-infligido lenta e sistematicamente, até que Raskólnikov acaba por começar a sofrer de uma terrível paranóia, convencido que toda a gente suspeita de todos e cada um dos seus insignificantes gestos diários.
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Crime e Castigo é um romance obrigatório. Não apenas pelo tema. Mas sobretudo pela forma como está escrito. As deambulações da mente de Raskólnikov, entre a dúvida, o receio, a paranóia, o alívio e de novo a dúvida, o receio, a paranóia ... são extraordinariamente bem escritas. Dostoievsky é um escritor obrigatório, daqueles, dos raros que todas as pessoas deveriam ler, mesmo os que não ligam nenhuma a literatura. Porque perdem uma parte essencial da vida. Não ler Dostoievsky é o mesmo que nunca ter visto a Mona Lisa ou nunca ter ouvido a 9ª
Sinfonia.
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Coloco aqui um excerto, para adoçar o apetite:
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"- (…) Acredito apenas na minha ideia principal, que consiste precisamente em que as pessoas, pelas leis da natureza, se dividem em geral em duas categorias: a inferior (vulgares), ou seja, por assim dizer, o material que serve unicamente para engendrar semelhantes; e os homens propriamente ditos, ou seja, as pessoas que possuem o dom ou o talento de dizer, no seu meio, uma palavra nova. (…) a primeira categoria, ou seja, o material, consta em geral de pessoas conservadoras por natureza, correctas, que vivem na obediência e gostam de ser obedientes. (…) A segunda categoria consta dos que violam a lei, que são destruidores ou têm propensão para o serem, consoante as suas capacidades. (…) A primeira categoria é sempre senhora do presente, e a segunda é a senhora do futuro."

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