MAGIC MOMENTS 41

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Também tenho uma tara pelo Marlon Brando. Admito-a e orgulho-me dela. Não sou de ídolos, nunca fui. Causa-me impressão o fanatismo de qualquer espécie. Até em arte. Mas há sempre excepções à regra. Ele é a excepção.
Esta tara nada tem que ver com hormonas, mas com neurónios e emoções.
Marlon Brando é o meu Deus. Sou tão fanática por ele, como os fundamentalistas islâmicos por Alá. Não mato quem não o adora, mas desprezo. Respeito, mas cá bem no meu fundo, digo alto e bom som "Santa ignorância ..." Os que se dizem cinéfilos e nunca ouviram falar de Brando sequer, não merecem desprezo, merecem pena.

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"Adoro ..." aquela malta nova que vai aos Indies e aos Monstra's e aos Fantas e que fala do alto da sua pendantês ridícula dos Tarantinos e dos Van Sants desta vida e tirou cursos de cinema e cenografia e BLÁ BLÁ BLÁ e depois não sabe quem é Marlon Brando. "Quem? Ah... Aquele do Padrinho ... já vi ..." Uma vez mostrei a uma dessas amostras de gente, que se dizia cinéfila, o DVD de "Há Lodo no Cais" e disse-lhe "Tens que ver isto. Se és cinéfila, tens que conhecer o maior actor do mundo". Sabem qual foi a resposta dela quando lhe perguntei, esperançada, "Então? Que tal?" A resposta foi "Eh ...Não achei nada de especial." Bom, tive vontade de lhe enfiar o DVD pela goela abaixo. Mas, com 36 anos, já aprendi a ser hipócrita e a não ir presa. Sorri e nunca mais lhe falei de cinema. Desprezo.
Não achei nada de especial??!!! Então a idiota, que não tem outro nome, leva-me para casa um dos maiores filmes de todos os tempos, com o maior actor que este mundo já conheceu e passa-lhe completamente ao lado?

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Mas depois racionalizo, acalmo e percebo. Percebo que o bom, o muito bom, o excepcional, não é para toda a gente, de facto. Chamem-me elitista. Estou-me nas tintas. Muito pouca gente tem sensibilidade apurada para perceber um talento como Marlon Brando. Não dá. Não é possível explicar. Ou se sente, ou não se sente. Ou se percebe, ou não se percebe. É um facto da vida.
O "povinho" não percebe muita coisa. O "povinho" não percebe Marlon Brando. É areia demais para a camioneta deles. É pôr um burro a olhar para um palácio. O burro olha, não lhe cheira a cenoura e trota dali para fora. O "povinho" gosta é do Al Pacino, que é um grande actor, mas costuma fazer sempre de ... Al Pacino em todos os filmes onde entra. Só que como berra mais que os outros, tem assim umas cenas altamente em que bate na cabeça de outro e veste Armanis com muito estilo, o "povinho" acha que "Epá! Ganda actor pá! Isto é que é!" É como o Robert De Niro. Desde há uns 20 anos que o Robert De Niro não faz outra coisa senão repetir-se exaustivamente, papel após papel, mas o "povinho" quando ouve o nome De Niro até lhes saltam as órbitas. "Esse gajo, pá, isso é que é. Esse gajo é outro nível, pá. Muito à frente. Esse gaja é maaaau. Muito bom!"

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Por um lado até é bom. Sabem porquê? Porque é um segredo. E os segredos são sempre muito mais interessantes do que tudo o resto. Tenho um segredo. 90% das pessoas deste planeta não o conhece. Ainda bem. Sei mais que elas e nem imaginam o que perdem. O segredo chama-se Marlon Brando e só alguns felizardos é que sabem o que sentem quando o vêem. Eles que fiquem lá com os De Niros e os Pacinos. Eu fico com o Brando. Elixir de deuses é só para alguns, o que é que julgam? ...
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Faz hoje 4 anos que Marlon Brando morreu.
We, who knew who you were, salute you.

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