sexta-feira, 3 de outubro de 2008

EM BUSCA DE PALAVRAS 41


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Existem muitas regras para se escrever bem. Existem inúmeras regras para se escrever romances. Existe também a intuição, o jeito, o talento (caso exista), a técnica, a minúcia. Existe o trabalho, muito trabalho, um trabalho hercúleo, para se montar uma história com pés e cabeça, coerente, interessante, que motive quem nos lê, que o faça reflectir sobre a vida, sobre um assunto em particular ou que o faça olhar para algo de um ângulo inusitado, que nunca lhe tivesse passado pela cabeça.
Porque histórias há só uma mão cheia delas, maneiras de as contar podem ser tantas quantos os autores que existem ou já existiram neste mundo.
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Mas, em todos os anos que tenho andado a aprender a escrever, a minha modesta experiência ensinou-me que existe apenas uma regra imprescindível e a mais importante de todas, para que tudo o resto possa resultar. Sem ela, por melhor que sejam todos os outros ingredientes, a nossa história não respira vida. É uma regra minha, nunca a li em lado nenhum, não sei se é partilhada ou não, mas é a única regra que nunca me permito quebrar (todas as outras podem e devem ser quebradas).
Nunca se abandona um personagem. Ele ou ela merecem tudo o que somos capazes de lhe dar. Tudo. A partir do momento em que nasce no nosso pensamento e se forma e começa a respirar, a partir daí devemos-lhe uma vida. Digna. Inteira. Trabalhada até à exaustão. Esculpida à lupa. Bordada com paixão, aplicação e zelo. Um personagem deve ser tratado como uma peça de porcelana Ming, como um ovo de Fabergé.
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Foi esta a lição mais importante que aprendi em 20 anos de escrita. Se, no fim de tudo, soubermos isto, podemos dormir em paz e prosseguir o trabalho. Mesmo que esse personagem nunca saia da nossa gaveta e alcance as bancas de uma livraria. Não importa. O que importa é que se algum dia algum deles chegar às bancas duma livraria, o nosso coração sabe que ele está apoiado em dezenas de outros que foram esculpidos exactamente com a mesma dignidade e sem os quais aquele nunca teria chegado onde chegou.
E isto é tudo o que importa.

1 comentário:

Dry-Martini disse...

Parece-me uma regra bastante acertada e é sempre bom ter pelo menos 1 regra .)

XinXin