quarta-feira, 29 de outubro de 2008

PALAVRAS ESTÚPIDAS 34


Também tenho dois heróis históricos. São eles Galileu Galilei e Thomas More.
Por ironia, encontram-se em campos diametralmente opostos e foram condenados e martirizados por razões diametralmente opostas. Um porque acreditava na Ciência e no que os seus olhos viam, o outro porque acreditava na Fé e no que o seu coração lhe dizia.
As vidas destes dois homems são um exemplo de coragem, força interior, paixão e coerência, mas também são um exemplo, no outro extremo do espectro, do sofrimento atroz que a teimosia, a intransigência e o poder absoluto podem provocar naqueles que pretendem ser fiéis às suas crenças e à evidência dos factos.
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Todos conhecem a história de Galileu. Já antes dele Copérnico e outros haviam postulado ideias no sentido de que era a Terra que girava em torno do Sol e que não era, como se pensava, o centro do Universo. Mas Copérnico nunca divulgou as suas teorias ao mundo, restringindo-se aos círculos científicos mais discretos.
Galileu, pelo contrário, publicou o seu trabalho e por esse motivo foi condenado e obrigado a abjurar-se publicamente, sob ameaça de prisão. Diz-se que, à saída do Tribunal do Santo Ofício, terá murmurado "E, no entanto, ela move-se." Acabou por morrer, esquecido e abandonado, renegando publicamente o seu próprio trabalho, com a certeza de que o mundo permaneceria mais tempo do que devia nas trevas da ignorância teimosa.
A história de Galileu teve, ainda assim, um final feliz, ainda que imensamente tardio. Mais de três séculos após a sua condenação, o então Papa João Paulo II achou por bem pedir a revisão do processo de Galileu e absolvê-lo, reconhecendo que alguns elementos da Igreja haviam cometido erros, proferindo entre outras as seguintes palavras: "A grandeza de Galileu é a todos conhecida, (...)muito teve que sofrer — não poderíamos escondê-lo — da parte de homens e organismos da Igreja."
Justa homenagem a um homem cujo único pecado foi acreditar no que os seus olhos viam como óbvio.
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A história de Thomas More é mais trágica ainda do que a de Galileu. E, ao contrário de Galileu, Thomas foi amigo e confidente daquele que acabaria por condená-lo à morte.
Thomas More fez uma importante carreira política e de leis, tornando-se uma figura muito procurada em questões de diplomacia e advocacia. Aos 32 era juíz em Londres e mantinha ainda uma carreira literária e filosófica paralela tendo publicado "Utupia", uma obra que é considerada como um dos diálogos socráticos mais importantes de todos os tempos e a sua obra-prima. Naturalmente que, com este curriculum, acabou por atrair a atenção do jovem Henrique VIII que o chamou para a sua corte, primeiro como secretário particular, inúmeras vezes embaixador do rei, Chaceler do Ducado de Lancaster e finalmente como Chanceler da Inglaterra.
Os dois homens partilhavam ideias progressistas e humanistas, debatiam filosofias e pensavam a Igreja de forma moderna e dinâmica.
Até que Ana Bolena surgiu na vida de Henrique e este quis anular o seu casamento com Catarina de Aragão. Também todos conhecem o desfecho desta história. Negados os inúmeros pedidos de Henrique ao Vaticano, o jovem rei acabou por decidir a separação total da Igreja Católica Romana e auto-proclamou-se chefe da nova Igreja Anglicana, sendo todos os seus súbditos obrigados a realizarem um juramento que consagrava o soberano como chefe supremo da Igreja.
Thomas More recusou-se a fazer este juramento e não cedeu, perante os insistentes pedidos do seu soberano e amigo. Apesar de todas as ameaças, recusou-se a trair os seus princípios e ideais, a sua Fé.
Henrique, com enorme pesar e relutância, condenou-o "a ser suspenso pelo pescoço" e cair em terra ainda vivo. Após o que seria esquartejado e decapitado. O rei, "por clemência", acabou por reduzir a pena a "simples decapitação".
No momento da execução Thomas More suplicou aos presentes que orassem pelo monarca e proferiu as seguintes palavras: "I die the King's good servant and God's first."
Foi canonizado como santo da Igreja Católica em 1935 e a partir de 1980 foi incluído também na lista de santos da Igreja Anglicana.

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