sábado, 12 de abril de 2008

EM BUSCA DE PALAVRAS 18


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Regresso a Hannibal Lecter.
Porque Hannibal é muito mais do que se possa pensar, à partida. É um personagem de uma riqueza extraordinária. Quanto mais penso no que li e mais interiorizo o que captei, mais inveja sinto de Thomas Harris.
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E ainda bem que foi Anthony Hopkins o escolhido para o interpretar. Quem não leu os livros não pode saber que Hopkins é absolutamente fiel ao personagem. O papel foi o seu golpe de génio. É difícil entender isto em 2 horas e tal de filmes. É pouco. Mas só um actor com a inteligência emocional de Hopkins poderia construir um personagem que em cada segundo de filme respira subtilmente as palavras exímias de três livros de 400 e tal páginas.
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Thomas Harris é brilhante no retrato de Hannibal. A delicadeza do seu pensamento, das suas palavras e dos seus gestos é dada através de frases curtas e incisivas, em que se diz apenas o essencial para que o leitor possa imaginar tudo o resto. Nas entrelinhas existem passinhos de lã e veludo e atitudes impiedosas, descritos de uma forma tão cuidadosa e tão delicada, com um cuidado extraordinário pelas palavras, como se estas fossem jóias preciosas e terríveis, ingredientes de um elixir destinado a provocar emoções precisas no leitor que o bebe.
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"Hannibal" é um anagrama de "Animal", mas com o "H" de "Humano" no início. Hannibal é um animal humano, não um humano animal. E aqui talvez resida todo o segredo. Hannibal é instintivo, puro, delicado como um animal. Hannibal nunca magoa, por isso, animais. Ao invés, ele come carne humana. Quando lhe matam a irmã e a comem e lhe deixam a dúvida sobre se também lha terão dado a provar, algo de terrível acontece no interior do pequeno e precoce Hannibal. Deve haver um termo psiquiátrico para isso. Não sei qual é. A sua mente rasga-se de forma atroz e irreversível. O que fizeram à sua irmã e os "animais" que o fizeram perseguirão para sempre Hannibal e, mais tarde, Hannibal persegue-os, um a um, mata-os e come-os.
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As vítimas de Lecter nunca são exactamente inocentes. E repare-se que se formou em psiquiatria. Talvez para entender como um ser humano é capaz de praticar canibalismo. Talvez para se entender, mais do que para conseguir controlar a mente dos outros?
E repare-se também que Hannibal ama Clarice. À sua maneira ... mas o amor tem regras? Não me parece. Se tivesse, deixava de o ser.
kdjfdkl
Hannibal. Animal. Canibal. "Hannibal, the Cannibal", assim o apelidam os polícias que o perseguem, os mesmos que perseguem Clarice, mas por motivos muito diferentes. Porque ela é mulher e não "deve", não "pode" assumir lugares de poder dentro da hierarquia policial. São animais, portanto. E Clarice sabe disto. Só uma mulher inteligente pode entender Clarice. Ela sabe que são raros os homens que a possam entender, como são raros quaisquer homens que possam entender qualquer mulher inteligente. Ela sente isto, mesmo que não o consiga provavelmente explicar a si própria. E Hannibal sabe que ela sente que ele a entende.
E aqui reside um dos fascinantes pontos fulcrais da narrativa de Thomas - por ironia (ou não) do destino, o único homem de entre todos os outros homens (animais) que a podem entender, é o maior Animal de todos, o Monstro.
dkjdkl
O que torna a série de 4 romances de Thomas Harris tão soberba é que ele deixa nas entrelinhas esta pergunta arrepiante e contundente: "Quem é mais animal, afinal? Hannibal, o Canibal, dono de uma sensibilidade agudíssima, ou os agentes do FBI, os homens que farão tudo o que for possível para que uma mulher não possa juntar-se à sua alcateia? Quem é, afinal, o Canibal? O devorador de carne humana ou os devoradores de mentes?"
dlkd
Que inveja que eu tenho de Thomas Harris ...
Rais parta o homem :)

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