Capítulo 11. PODEREI COMPARAR-TE A UM DIA DE VERÃO?
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Chegou como de costume às cinco para as seis. John esperava-a como de costume junto da janela. Clara já nem se dava ao trabalho de lhe abrir a porta. Ironicamente, Emily tornara-se mais uma parte da mobília (o que já não era mau, pensava) ou, quando muito, mais uma parte da rotina diária da casa. A empregada abriu-lhe a porta e cumprimentou-a com um sorriso, o único que ela recebia naquela casa desde que ali começara a trabalhar.
Entrou na sala e sentou-se, como de costume, na cadeira frente à secretária. Mas John não se virou. Continuou a olhar para a janela, escondido na penumbra.
"Fiz o que me pediu. Está aqui. Os recibos também."
John não falou.
Emily abriu o livro que estavam a ler e prosseguiu com a leitura até às oito em ponto. Contrariamente ao que já era habitual, John permaneceu silencioso até ao final, como no dia anterior.
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" 'E agora?' - perguntou Gregor de si para si, olhando para a escuridão que o rodeava. Depressa descobriu que já não era capaz de se mexer. Não estranhou que assim fosse, pelo contrário, o que lhe parecia pouco natural era ter conseguido movimentar-se com estas perninhas tão finas durante todo aquele tempo. De resto, e tendo em conta as circunstâncias, sentia-se até muito bem. É verdade que todo o corpo lhe doía, mas parecia-lhe que as dores se iam tornando cada vez mais fracas e que acabariam por desaparecer. Já mal sentia a maçã podre enterrada nas costas e a região infectada a toda a volta, completamente coberta de pó fino. Recordava a sua família com amor e ternura. A convicção de que tinha de desaparecer era possivelmente ainda mais firme nele do que na irmã. E assim se deixou ficar neste estado de cogitação vaga e serena, até o relógio da torre bater as três horas da manhã. Ainda assistiu aos primeiros sinais de claridade na janela. Depois, a sua cabeça descaiu completamente, sem ele querer, e das narinas desprendeu-se, quase imperceptivelmente, o último sopro de vida." (50)
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Às oito fechou o livro e levantou-se. Aproximou-se da cadeira e pegou-lhe na mão, entregando-lhe um pacote. Era a primeira vez que se tocavam. Talvez pela intimidade criada com as visitas e leitura diárias, talvez sobretudo porque não pensava voltar a vê-lo, não se inibiu.
"Está aqui. É tudo. Espero que consiga o que quer. Até sempre."
John farejou-a. Foi o primeiro movimento que fazia naquela tarde.
"Onde é que pensa que vai?"
"Vou-me embora. Não volto mais. Não se vai matar? Não foi por isso que me contratou?"
Sentiu-lhe uma perplexidade que nunca lhe vislumbrara.
"Ou quer que eu continue a vir aqui ler para as paredes? Se quiser, posso ler-lhe junto à campa. Sempre é mais agradável."
Sentiu-o enfurecer-se. Mas John controlou a ira, apesar de lhe notar um rubor nas faces que traía o esforço para se conter.
"Que comovente, Emily. Posso dar-lhe uma lista dos preferidos."
"Não é preciso. Eu sei quais são todos os seus preferidos."
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" Ele era um velho que pescava sozinho num barco na corrente do Golfo e já tinham passado oitenta e quatro dias sem ter pescado um único peixe. Nos primeiros quarenta dias …" " 'E agora?' - perguntou Gregor de si para si, olhando para a escuridão que o rodeava. Depressa descobriu que já não era capaz …" "… eunuco cujas funções eram mais ou menos as de uma buzina: caminhava cerca de dois ou três metros adiante do grupo e fazia um ruído para avisar alguém que andasse pela vizinhança que devia …" “Poderei comparar-te a um dia de verão? És mais bela” “’Eu sou um computador HAL Nove Mil Número de Produção 3. Tornei-me operacional na Fábrica Hal, em Urbana, Illinois, em 12 de Janeiro de 1997. A veloz raposa …’" "… estaria em plena posse das faculdades mentais e deveria fazê-lo. Yossarian sentia-se profundamente impressionado com a notável simplicidade daquela cláusula do Artigo 22 e emitiu um silvo de respeito." "Leitor, embora pareça confortavelmente instalada,não estou muito tranquila … " "… Num campo perto do rio o meu amor e eu detivémo-nos, E no meu ombro inclinado ela pousou a sua mão branca de neve ..." " … um grande medo, como se aguardasse o pronunciamento de uma sentença que previra há muito tempo, mas que, apesar disso, esperava em vão não fosse pronunciada. Encheu-lhe o coração um desejo …" "… e flechas do destino, Ou empunhar armas contra um oceano de tormentas, E opondo-se-lhes …"
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"Sabe?"
"Sei. Não pense que só porque não me consegue ver, eu não o consigo ver a si."
John virou a cabeça para a janela. Aquela confissão parecera ter-lhe dado subitamente consciência de si próprio. Passaram alguns minutos antes que respondesse.
"Mas eu ainda não vou fazer isso …"
"Ah não?"
"Não … Quando o fizer, aviso-a com antecedência, esteja descansada. Até lá, gostava que continuasse as suas leituras."
Esta última frase foi proferida num tom tão baixo que Emily teve que se inclinar um pouco para o ouvir.
"Está bem. Volto amanhã, então."
John não lhe respondeu.
Emily pegou na mala e dirigiu-se para a porta.
"Emily …"
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(50) A Metamorfose - Franz Kafka
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