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Há várias imagens que ficam do filme “No Country For Old Men”. Imagens literais e imagens mentais, muito fortes.
O filme é um filme Cohen. Sem classificação possível, portanto. O universo Cohen está lá todo, talvez elevado até à sua máxima e mais madura expressão e por isso provavelmente o Oscar merecido.
Curiosamente não achei que Javier Bardem estivesse assim tããããão extraordinário que justificasse o seu Oscar. Já o vi muito melhor. Aqui pareceu-me mais uma caricatura do que propriamente um “ser humano”, mas talvez a intenção fosse essa – ele representará o mal, todo o mal que assola esse tal de país que já não é para as velhas noções dos mais antigos. O título em português é fraco, mas seria impossível traduzir em poucas palavras comerciais o segundo sentido do título original. É que No Country For Old Men significa que este país (o deles e o nosso, o mundo enfim) já não é para aqueles que ainda acreditam e vivem pelos velhos ideais, e que não são necessariamente apenas os mais velhos de nós.
Tenho 35 anos e depois de ver este filme sinto-me ainda mais velha do que já me sinto na realidade. Sinto-me a dizer as coisas que a minha avó dizia, quando eu era uma pirralha – este mundo está perdido. E não é sempre assim? Todas as gerações se queixam eternamente do mesmo. Mas será sempre assim?
O que este filme vem dizer é que a situação que o mundo vive não é apenas o que sempre se repetiu eternamente, à medida que as gerações dão lugar a outras gerações, sucessivamente. O que este filme vem dizer é que a situação é alarmante, descabida, ultrajante, insana, como nunca se viu. E por isso é que este filme é tão forte, tão terrivelmente forte. O que nos diz o filme? – que este mundo está perdido, vejam, olhem, o mundo e as suas “crianças” estão perdidas.
E depois as imagens.
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O deserto californiano cru, seco, infinito, desesperado, que representa a nudez de valores. Já nada cresce naquela terra, onde apenas os mortos parecem brotar da areia e das pedras do deserto, como plantas condenadas.
A sombra do xerife Bell, projectada na parede do quarto do crime, uma clara homenagem à figura do velho cowboy, quando os fora-da-lei ainda tinham princípios e ainda havia duelos com honra e não se matavam jamais adversários que não nos estivessem a fitar nos olhos e que não estivessem armados.
Os três miúdos a quem o ensanguentado Llewelyn oferece 500 dólares em troca de um casaco que lhe cubra as manchas de sangue. Llewelyn pede ainda a garrafa de cerveja a um dos miúdos e este, sem compaixão nenhuma, pede-lhe mais dinheiro ainda por ela.
A voz cansada de Tommy Lee Jones, extraordinário, extraordinário actor, que nos conduz lenta e inexoravelmente através da insalubridade do inferno imoral.
O olhar absoluta e terrivelmente vazio de Javier Bardem, sem medo, sem remorso, sem pudor, sem clemência, sem misericórdia, sem raiva, sem ódio, sem nada. Como o olhar vazio de um pássaro sem alma.
E quando o “nada” é quem mais ordena, que “país” nos dará abrigo? ... Que “país” será este por onde vagueamos como almas perdidas?
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O que aprendi com este filme?
Duas coisas importantes:
- Que um assassino tem necessariamente que saber tratar das suas próprias feridas (literal e metaforicamente)
- Que não quero que o “país” que estou a escrever seja assim, mesmo que a realidade seja cada vez mais assim
4 comentários:
Que raiva... (acho que fez de propósito). Ainda quero mais ver este filme e só falta 1 semana :(
XinXin
Ha! ha! ha!
Claro que fiz de propósito. Aliás, até estou a pensar mudar o nome deste blog para "O Umbigo de Johnny". O que acha? ;)
Como sabe gosto mais de pescoços e sempre preferi o Martini ao Johnny Walker.
Keep Walking .)
Página 140 e walking ... walking ... a caminho da página 250 ;)
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