sexta-feira, 6 de novembro de 2009

PALAVRAS ESTÚPIDAS 77

O Amor Platónico
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"(...) mas esqueço que só o amor não correspondido pode ser romântico. E é preciso estarmos incompletos para nos apaixonarmos."
O Funeral de Marissa Cooper - Jorge Mantas - Revista Umbigo Setembro 2009
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Só o amor não correspondido pode ser romântico. Porque só o amor não correspondido tem o potencial de desespero trágico próprio do romantismo. Diria mais, só o amor platónico pode ser romântico. Porque é secreto, não partilhado pelo objecto de desejo e incólume à infecção gélida da realidade. Quando amamos ou nos apaixonamos por alguém que desconhece em absoluto ser o causador desse amor ou dessa paixão, ele ou ela crescem desmesuradamente, tornam-se maiores que a vida, cristalizam num casulo intocável e nada nem ninguém é capaz de destruir essa imagem em nós, nem mesmo o próprio objecto desse desejo.
O amor platónico é egoísta e avaro e orgulhoso. Nada tem de luxúria e refugia-se da inveja porque se esconde dela. É também preguiçoso porque não exige cuidados esmerados, apenas a presença do outro no nosso campo de visão ou no nosso pensamento. É glutão também porque se refastela sozinho.
Se o amor platónico é romântico solitário, abandonado à auto-comiseração, já o amor não correspondido é goticamente romântico no sentido mais literário e académico do termo. O seu espectro varia consoante o objecto do desejo tenha ou não conhecimento dele. Se não tiver, regressamos ao platónico, e se tiver embarcamos na tragédia exagerada e desesperada.
O amor platónico é cobarde, o amor não correspondido é estupidamente corajoso, sendo que aqui o advérbio "estupidamente" não é usado no seu sentido pejorativo, mas para ilustrar um extremo extremado ao máximo. Quem se declara não tendo a certeza da correspondência do outro e depois é obrigado a viver com a sua negação, merece ser elevado ao panteão de heróis do calibre de navegadores destemidos, exploradores bravos e argonautas insanos.
Poucos são os que o fazem com experiência de vida. O amor não correspondido é para os jovens imberbes, corajosos porque naives. À medida que avançamos na vida resguardamo-nos na cobardia do platonismo, depois de termos levado umas quantas negas descomunais. O amor platónico é mais seguro, apesar de sofrido. Fechamo-lo na nossa caixinha de jóias secreta e retiramo-lo quando e onde nos apetece, sem corrermos perigo.

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