quarta-feira, 25 de novembro de 2009

PALAVRAS ESTÚPIDAS 79

Como Pão
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"Não sou capaz de deitar um livro fora. Para mim, um livro é como o pão."
António Lobo Antunes
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A primeira coisa que a minha mãe faz quando se depara com um livro novo nas mãos, é cheirá-lo. Abre-o numa página ao acaso e mergulha o nariz lá dentro, regressando à superfície momentos depois com um sorriso satisfeito e a frase "Adoro o cheiro de um livro novo."
Acho que é daí que provém a minha paixão por livros. Quando era miúda este acto materno deve ter-se entranhado inconscientemente de tal forma em mim, que procuro livros como quem procura pão quente acabado de sair do forno, estaladiço e a fazer crescer água na boca.
Cedo aprendi a devorá-los, tal e qual pão. Cedo aprendi a mexer-lhes, a revirar-lhes páginas novas e estaladiças ou velhas e crispadas. É bom começar por devorar livros, embora não muito produtivo. Não faz mal. Com o tempo e a experiência, com a maturidade, vai-se aprendendo a saboreá-los e degustá-los como as iguarias ou licores que na realidade são (os que assim merecem esse epíteto, bem visto). Mas é importante começar por devorar, sem olhar à qualidade, apenas à quantidade e ao desejo, como um animal faminto. Porque dessa forma o nosso cérebro aprende a precisar deles incondicionalmente, e eles permanecem pela vida fora connosco, saceando-nos de formas distintas, fazendo-nos companhia, ensinando-nos mundos de coisas diferentes, despertando em nós uma panóplia de emoções.
Será talvez por este motivo que sou incapaz de não acabar um livro que comecei (é raríssimo acontecer), mesmo que não esteja a gostar nada dele e que o resto da leitura acabe por constituir algo próximo de um martírio (As Vinhas da Ira e o Conde de Monte Cristo continuam atravessados na minha garganta ...) e que sou de igual forma incapaz de deitar um livro fora. Só mesmo com uma pistola apontada à cabeça. Deitar um livro fora?!!!!?? Não concebo. Impossível. Impensável. Inconcebível. Hecatombe. Surreal. Anti-natura. Fico nervosa só de pensar nisso, com tremores, com suores frios. Porque, mais ainda do que o pão, os livros são o alimento da minha essência, daquilo que sou, do que me tornei, do que serei.
Admito que haja quem o faça e não sinta quaisquer remorsos. Conheço até quem os use para efeitos decorativos (!!!!!!!!!!!! conheci em tempos uma senhora (uma pindérica) que usava livros ocos - só as lombadas - para encher as estantes da sua casa very fashion - lord almighty have pity on her soul!!!!!!).
Tudo bem. Há gente para tudo.
Agora, os meus livros são pães, senhores, que alimentam a minha alma. E sempre ouvi dizer que deitar pão fora é pecado.

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