sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

MURMÚRIOS DE LISBOA IV

Torre de Sonhos


Torre de Belém
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Estou sempre prestes a partir.
Sou pequena e bonita.
Encaixo bem no rio que me abriga.
Sou a porta de entrada e a porta de partida
desta cidade principesca.
Fui feita quando ela dominava o mundo
e os seus navegadores eram os senhores dos mares.

Hoje não passo de uma pequena pérola antiga,
algumas vezes murcha, outras vezes nem tanto.
Os seus habitantes esquecem-se de mim facilmente.
Entendo-os.

Também eu, se tivesse nascido nos tempos que correm,
duvidaria de tantas façanhas,
como um neto duvida de algumas das histórias
que o avô desfia recostado na sua velha poltrona.

É difícil sentir o cheiro do mar aberto,
quando se conheceu apenas o mofo da decadência.
Mas estive, estou e espero estar sempre aqui.
Sou o retrato do passado, do presente e do futuro
desta cidade cor-de-rosa de reflexos feitos de saudade.

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