domingo, 17 de dezembro de 2006

MURMÚRIOS DE LISBOA V

À Volta Da Meia-Noite
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Iluminação nocturna junto à Rotunda do Relógio
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Para ler ao som de 'Round Midnight de Miles Davies.
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O coração de um detective está longe de se emocionar facilmente.
Mas quando recebi aquele telefonema naquela noite fria de Janeiro, o arrepio familiar que costuma percorrer a minha espinha quando sei que há caso interessante por trás duma voz do outro lado do telefone, foi assustador.
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A voz dela era rouca, sensual e assustada. Disse-me para ir ter com ela a um bar porque a sua vida estava em perigo. E desligou.
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O que é que um rapaz como eu faz numa situação destas? Numa cidade em que muito pouco ou nada acontece, agarra-se o primeiro caso que nos vem parar às mãos, mesmo que pareça suspeito. Peguei no chapéu, acendi um cigarro, verifiquei a minha Colt e parti para enfrentar a noite enevoada.
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O bar era degradante. Escuro como breu, impestado de fumo de tabaco e o cheiro enjoativo de álcool barato. Sentei-me ao balcão e pedi um whiskey. Alguém me tocou no ombro. Virei-me.
As pernas dela iam daqui até Saigão. O vestido vermelho podia não estar lá. Sorriu-me e pegou no meu copo com mãos rematadas por vermelho sangue.
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E depois tudo se passou demasiado depressa, até para mim. O som do tiro foi inconfundível. Agarrei-a. As minhas mãos ficaram manchadas de vermelho, mas não foi do verniz. A última coisa que ela disse foi o meu nome.

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