quinta-feira, 1 de maio de 2008

PALAVRAS ESTÚPIDAS 12

Entrar na Zona
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Uma das melhores sensações do mundo é "entrar na zona". É tão entusiasmante, como difícil de descrever.
Eu "entro na zona" quando escrevo ou danço. Só conheço essas duas formas de "entrar na zona" e já me sinto muito privilegiada por ter 2. Há quem tenha apenas uma, há quem não tenha nenhuma. E poderá haver quem tenha mais. Duas chegam-me perfeitamente. E ainda por cima são exactamente os dois extremos de mim - físico e mental.
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O que é "entrar na zona"?
Primeiro devo explicar que não se "entra" sempre "na zona", nem quando se quer. Nem se "fica" sempre "na zona", nem se sabe quanto tempo se vai "ficar na zona". Para "entrar na zona" é preciso nascer com uma paixão por algo, ou adquiri-la inesperadamente, sem estarmos à espera. Não se "entra" logo "na zona". É preciso passar algum tempo obcecado por essa coisa para que um dia, sem sabermos como ou o que isso é, "entremos na zona". E nem sempre reconhecemos esse momento em que nela "entramos" pela primeira vez. Só mais tarde, quando a experiência se repete, aprendemos que aquilo é especial, único e que é algo que não acontece muitas vezes. Só soube que já havia "entrado na zona" quando li sobre o fluxo da criatividade e percebi que o que se descrevia era exactamente o que eu já tinha sentido por diversas vezes, ao longo dos anos.
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Comecemos pela "zona" física, no meu caso a dança.
"Entrar na zona" quando se dança é passar a ser a própria dança. É quando a meio de uma coreografia o corpo "está lá", todo, onde queremos que esteja, a música somos nós e nós somos a música, os músculos sentem-se todos até à mais ínfima das células e todos os movimentos são esboçados exactamente como sentimos que devem ser; conseguimos fazer tudo o que queremos que o corpo faça e parece que não temos peso, nem ossos, que não tocamos sequer no chão, que somos feitos de um qualquer material muito mais maleável do que o elástico ou a plasticina e ao mesmo tempo firme e forte. "Entrar na zona" é, assim, transformarmo-nos em movimento absoluto, instinto puro. E tudo em nós é um fluxo ininterrupto de energia.
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A "zona" mental, no meu caso a escrita, é outra história.
"Entrar na zona" quando se escreve pode levar uma eternidade. E acontece quando se começa a escrever sem soluços, quando finalmente os personagens e os acontecimentos encaixam todos uns nos outros e falam connosco. É quando sabemos que o livro que estamos a escrever vai ser acabado, leve o tempo que levar, saia bem ou mal, que terá um fim e que conseguimos lá chegar. É quando percebemos que aquela matéria-prima que temos andado a remexer durante um tempo interminável vai finalmente começar a ser trabalhada, amassada, esticada, moldada, esculpida, limada e que finalmente sabemos exactamente o que fazer dela, sabemos o que queremos que saia dali.
Mas não é só isto. É muito mais do que isto. É conseguirmos, de cada vez que nos sentamos para escrever, não ficar a olhar para a folha em branco com uma angústia tremenda a pensar "MAS ONDE É QUE EU ME METI????!!!! MAS ONDE É QUE EU ESTAVA COM A CABEÇA???!!! EU NÃO CONSIGO FAZER ISTO!!!!! ISTO É AREIA DE MAIS PARA A MINHA CAMIONETA!!!!"
"Entrar na zona" é quando somos nós e a folha e a caneta e mais nada. O mundo lá fora deixa de existir e brotam rios e rios e caudais e mares e torrentes de palavras e podia cair um meteoro na sala que nem o ouviriamos. É por isso que muita gente não entende que a pior coisa que se pode fazer a alguém que "está na zona", é interrompê-lo. O resultado pode ser catastrófico. Perdemos o fluxo e uma palavra, uma frase, qualquer coisa desaparece para sempre, para nunca mais regressar exactamente da mesma forma.
Uma das consequências de se "entrar na zona" são as cãibras na mão. Sou a pessoa mais feliz do mundo quando chego ao fim de um dia e mal consigo abrir e fechar a mão. Porque significa que "estive na zona". Outra das consequências é que o cérebro fica feito em água, literalmente e parece que estivémos a correr a maratona.
kjfldkj
P.S. Reli o que escrevi e cheguei à conclusão que não consegui explicar nem metade do que é "estar na zona". É daquelas coisas que só mesmo experimentando ...

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