quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A FANTÁSTICA FAUNA DE ANDRÓMEDA

Unicórnio

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Solitário e selvagem, o Unicórnio é a mais solitária criatura da natureza. Cobiçado pelas qualidades medicinais do seu chifre mágico, este animal é frequentemente perseguido, mas raramente capturado vivo ou morto. Apesar de as características variarem nas diversas mitologias que o descrevem, existe uma que é comum a todas - existe sempre apenas um único Unicórnio no mundo, o que aumenta a mística em torno desta criatura extraordinária, perseguida por gerações de místicos que nela vêem o símbolo universal da iluminação e da transformação espiritual.
O Unicórnio é geralmente descrito como um pequeno cavalo branco ou prateado, com um comprido e gracioso chifre espiralado na testa. É suposto ter sido um dos animais do Jardim do Éden, que desapareceu durante o Dilúvio, e a magia do seu chifre, chamado "alicorne", purifica as águas venenosas. Era por isso procurado por reis e imperadores, que possuíam taças feitas do seu chifre para detectarem bebidas envenenadas. Para testar se o chifre era genuíno, desenhava-se um círculo na terra em seu redor e colocava-se um escorpião, uma aranha ou um lagarto no interior deste círculo. Se fosse genuíno, a criatura não conseguia escapar do círculo. Também se acreditava que o chifre tinha propriedades afrodisíacas e que conseguia prolongar a vida do seu portador.
O Unicórnio só podia ser capturado por uma virgem, que era colocada sozinha no meio da floresta, para o atrair. O seu encanto inocente fazia o Unicórnio aproximar-se, deitar a cabeça no seu colo e adormecer, altura em que podia então ser capturado. Em algumas descrições, a virgem teria de estar também nua ou amarrada a uma árvore.
O Unicórnio está também associado à Lua e representa a delicadeza, castidade, pureza, virgindade, força mental e realeza, sendo o seu chifre um símbolo do poder individual ilimitado. Na heráldica o Unicórnio surge frequentemente representado com o leão, simbolizando respectivamente as energias da Lua e do Sol.
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Short-Story: O Unicórnio parou subitamente no meio da orla da floresta. Uma poeira dourada envolvia-o e dançava nos reflexos do sol filtrados pela tarde sossegada. Não se ouvia vivalma, até os pitassilgos, sempre tão barulhentos, se haviam calado e nenhum habitante das inúmeras tocas que enchiam cantos musgosos, decrépitos troncos ocos de árvores e amontoados de pedras húmidas do orvalho crepuscular se atrevia sequer a espreitar. Ao longe os ouvidos apurados do minúsculo cavalo prateado distinguiam apenas o suave rumor do fio de água cristalina que escorria de uma cachoeira e salpicava os pequenos girinos de pele escorregadia e transparente.
Algo de errado se passava, pressentiu. Não pensou. Um Unicórnio utiliza pouco o seu pequeno cérebro. Não precisa. O chifre espiralado ardia-lhe na testa, como se instigando-o a agir. Virou a cabeça lentamente, a crina branca agitou-se no ar, e esfregou um dos cascos na terra cor de mel, levantando uma nuvem de poeira acobreada, com cheiro de chuva. Um ser de pele rosa pálido encontrava-se prostrado junto de uma árvore, a longa crina de cabelos loiros a tapar-lhe o focinho. Não era como ele, reparou imediatamente, uma vez que apenas se apoiava nas patas traseiras e as outras duas estavam amarradas ao tronco da árvore. Cheirou-a. O seu olfacto apurado detectou todas as secreções da mulher, desde a parte inferior dos braços, passando pelo colo e até aos montes torneados que escondiam o vale dos prazeres. Cheirou-lhe também outra coisa, a primeira em que um cavalo instintivamente repara - o medo. A criatura tremia, depois levantou a cabeça e esboçou um esgar com os lábios, enquanto os olhos se abriam muito e reflectiam a sua própria imagem nas pupilas. Sentia-se atraído para aquela visão alva, de cabelos dourados e teve de lutar consigo próprio para não se aproximar. Depois deu meia volta e desapareceu a trotar na escuridão verde, em direcção ao coração mais secreto da floresta. Cheirara também outra coisa nela, o odor adoçicado e intenso do suco do seu macho.

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