sábado, 12 de dezembro de 2009

MURMÚRIOS DE LISBOA XCI

O Canibal - Parte II
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Estação Comboios Entre Campos
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"As he had done in his cell so many times, Dr Lecter put his head back, closed his eyes and retired for relief into the quiet of his memory palace, a place that is quite beautiful for the most part.
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As once we visited Dr Lecter in the Palazzo of the Capponi, so we will go with him now into the palace of his mind ...
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The memory palace was a mnemonic system well known to ancient scholars and much information was preserved in them through the Dark Ages while Vandals burned the books. Like scholars before him, Dr Lecter stores an enormous amount of information keyed to objects in his thousand rooms, but unlike the ancients, Dr Lecter has a second purpose for his palace; sometimes he lives there. He has passed years among its exquisite collections, while his body lay bound on a violent ward with screams buzzing the steel bars like hell's own harp.
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The palace is built according to the rules discovered by Simonides of Ceos and elaborated by Cicero four hundred years later; it is airy, high-ceilinged, furnished with objects and tableaux that are vivid, striking, sometimes shocking and absurd, and often beautiful.
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Like Giotto, Dr Lecter has frescoed the walls of his mind.
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A thousand rooms, miles of corridors, hundreds of facts attached to each object furnishing each room, a pleasant respite awaiting Dr Lecter whenever he chooses to retire there.
But this we share with the doctor: In the vaults of our hearts and brains, danger waits. All the chambers are not lovely, light and high. There are holes in the floor of the mind, like those in a medieval dungeon floor - the stinking oubliettes, named for forgetting, bottle-shaped cells in solid rock with the trap door in the top. Nothing escapes from them quietly to ease us. A quake, some betrayal by our safeguards, and sparks of memory fire the noxious gases - things trapped for years fly free, ready to explode in pain and drive us to dangerous behaviour.
(...)
Dr Lecter can move down the vast halls of his memory palace with unnatural speed. With his reflexes and strength, apprehension and speed of mind, Dr Lecter is well armed against the physical world. But there are places within himself that he may not safely go, where Cicero's rules of logic, of ordered space and light do not apply ..."
Thomas Harris - "Hannibal"
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Hannibal entra sempre no aeroporto e sai na estação de comboios. De quando em vez vem acompanhado de um amigo. Este é bem mais novo que Hannibal, andará pelos 30, tem a pele cor de ébano e pouco cabelo. Não creio que saiba com quem partilha a sombra. Se soubesse, certamente que já teria desaparecido há muito tempo das imediações mais próximas do Doutor.
Hannibal, percebi, passeia-se constantemente entre as páginas dos romances de Thomas Harris e a realidade. Por mais realistas que sejam as histórias criadas por Thomas, continuam a ser isso mesmo - ficção. E Hannibal está cansado de deslizar apenas por folhas de papel de edições de bolso. O mundo dactilografado é demasiado pequeno para si e recorda-lhe constantemente as quatro paredes sufocantes do estabelecimento prisional de alta segurança onde passou grande parte da sua vida. A sua mente brilhante anseia por espaço.
E Hannibal conjectura. No interior da labiríntica e interminável biblioteca misteriosa da sua memória compartimentada em quartos de um palácio privado mental, Hannibal decide acções e pensamentos, direcções. Como os refinados vinhos, queijos e trufas que gosta de escolher delicadamente, sem pressas, Hannibal avalia possibilidades com vagar. Ele gosta de coisas bem feitas, ou não vale a pena fazê-las de todo.
Não sabemos de Clarice. Que desapareceu nesse palácio de memórias, inconsequentemente, absurdamente.
Porquê?
As costas largas e imponentes do Doutor Lecter fitam-me, no interior do autocarro. Nessas costas sinto certezas absolutas, como poucos podem ostentar. Hannibal tomou resoluções e vive bem com elas. O caminho apresentou-se-lhe e torturou-o e, depois, Hannibal assumiu as rédeas do seu destino e não permitiu mais interferências aleatórias de espécie alguma. Tudo o que lhe sucede é da sua inteira responsabilidade. As suas costas pronunciam a palavra "controlo" incessantemente. O movimento levemente assimétrico mas conciso da curva que o seu pescoço desenha quando gira para o lado, afirma peremptoriamente a sua presença no mundo, real. Como um animal selvagem guiado pelo instinto, todos os seus sentidos estão profundamente alerta.
Sou, diz a sua postura. Estou. Aceita isso. E lida com isso da melhor forma que conseguires. Porque eu sou o teu pior pesadelo.
E Hannibal abandona o autocarro com o seu passo firme e poderoso, derretendo-se agilmente nas sombras da noite. O seu companheiro segue-o. E eu sigo viagem para Florença, o lugar predilecto do Doutor. Talvez no Berço do Renascimento possa encontrar as respostas que procuro para resolver o intrincado labirinto que compõe a mente do Monstro.
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Baseado no personagem Hannibal Lecter, criado por Thomas Harris, e num anónimo passageiro de autocarro assustadoramente parecido com ele.
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P.S. Este blog segue em piloto automático até ao meu regresso. Voltarei com muitos murmúrios da Città Bella, tenho a certeza. Arrivederci. Ou, como diria o Doutor, Ta ta.

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