Os Mirones
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Os mirones invadem o areal quando menos se espera. Sempre solitários, sempre estranhos, sempre alheados do mundo, mergulhados no seu próprio mundo.
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Aparecem num repente, nunca se sabe bem de onde, sorrateiros, matreiros, como pumas em busca da presa.
Vagueiam sem rumo pela mata, pelas dunas, pelo areal, quase nunca pela beira da água,como se temessem a clareza transparente do elemento, tão contrária à sua natureza opaca.
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Buscam o proibido, o secreto, o inenarrável universo que se estende entre um e outro corpo de dois amantes, entre uma e outra prega epidérmica de uma mulher.
Por vezes recostam-se na areia e observam, com discrição, assumindo o seu voyeurismo como se se tratasse de um direito por nascimento.
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Como lagartos deslizando lentamente pelas curvas do areal, os mirones violam sossegos apenas com o olhar, trespassam fronteiras sem sequer lhes tocarem e furam espaços privados apenas por existirem.
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São tristes, patéticos, assustadores e perturbadores ao mesmo tempo, mas sem eles o Paraíso não seria exactamente o mesmo lugar surreal.
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