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Desde que caíram as primeiras folhas de Outono, acendi a lareira no meu coração.
E agora que o Inverno chegou, recolho-me debaixo do manto de neve da minha memória em hibernação interior.
Neva branco e prateado e azul. Os meus pensamentos cristalizam em gelo e guardam pedaços do tempo que passou por mim. São relíquias frias que racham no calor das chamas intensas da lareira. Nevam flocos de ideias em potência, à espera de brotarem quando o frio passar. Por vezes há tempestades arrebatadoras e impiedosas que se agarram às minhas extremidades como estalactites brilhantes refulgindo no sol branco de Inverno.
O tempo passa com lentidão absurda, apesar dos dias serem cada vez mais pequenos. Escondo-me no aconchego quente das lãs e dos veludos e das malhas grossas. Escondo-me do mundo e o mundo de mim. A neve prossegue o seu ritmo contínuo e imparável, como se cada floco e cada cristal de gelo pudesse conter no seu interior um mundo inteiro de possibilidades em potência.
O mundo renasce aos poucos, devagar. Nada pode ser esquecido nem nada pode ser adivinhado. Tudo é possível.
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