segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

EM BUSCA DE PALAVRAS 95

Playing With The Boys
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Construir um enredo criminal é, estou a descobrir, como apresentar um puzzle em que só nós estamos em poder das peças todas e decidimos quando e onde é que elas podem ser posicionadas correctamente. Este processo é divertido como o caraças.
Quer dizer, passada a fase do primeiro rascunho, claro, que é sempre uma tarefa herculeana, desgastante, que às vezes parece quase impossível e que nos faz exclamar semana sim, semana não: "MAS ONDE É QUE EU ESTAVA COM A CABEÇA QUANDO DECIDI TER ESTA BRILHANTE IDEIA????!!!! EU NÃO CONSIGO FAZER ISTO!!!!"
Ainda estou nessa fase, que ainda vai durar mais algum tempo (MESES!!!! OH MY GOOOOD!!!), mas já começo a vislumbrar por baixo da porcaria toda que o lápis vai escrevendo, por baixo da poeira toda levantada pela borracha, algo parecido com uma forma com algum sentido, o desenho minimamente coerente de um enredo com pés e cabeça. E esse formato já permite brincar com algumas das peças e decidir o que quero ou não mostrar.
Esta vai para aqui e só mostro isto por enquanto. Aquela viaja para ali e só se vai perceber mais lá para o fim.
Outra coisa engraçada é que tenho um personagem que é investigador da polícia. Seria de esperar que eu tivesse algum poder de decisão sobre o rumo da investigação que ele está a tomar para deslindar este quebra-cabeças. Mas não. Mais uma vez, os personagens é que mandam. E como este não é excepção à regra, ele é que me diz para onde quer prosseguir, o que se torna um processo no mínimo divertido, no máximo quase místico. Percebi isto quando constatei um facto que me tinha passado despercebido, mas que era óbvio - é que ele é muito mais esperto e inteligente do que eu. Eu tenho espírito de Sherlock e sou bastante atenta aos pormenores, mas sou uma autêntica azelha em perceber uma série de coisas. Ele não é. Para além disso, tem mais uns 10 anos que eu, 20 dos quais passados atrás de criminosos.
Quanto ao criminoso, não sei se é mais esperto do que eu, mas de certeza que é muito mais perfeccionista. Não falha absolutamente nada e pensa em tudo. É também muito mais concentrado e focado. Por este motivo, exige de mim loucuras, que nenhum personagem jamais exigiu, como o ter uma réplica duma carabina em casa para treinar as posições e lhe sentir o peso e as formas; como obrigar-me a aprender a camuflar-me dos pés à cabeça; como o facto de se continuar a recusar a falar muito comigo, porque parece querer permanecer um mistério também para mim e desta forma adensar ainda mais o puzzle.
E como peças de um quebra-cabeças possuído de vontade própria, eles e as suas acções vão-se posicionando lentamente neste tabuleiro ainda cheio de poeira, cheio de entulho, cheio de lixo, cheio de peças soltas.
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P.S. Lembrei-me desta música, para ilustrar o meu entusiasmo. I'm really enjoying playing with these boys :)
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