terça-feira, 26 de janeiro de 2010

MURMÚRIOS DO PARAÍSO X

As Marés Vivas
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As Marés Vivas são as Deusas do areal.
Recordemos a hierarquia aqui estabelecida: as Gaivotas são as Magníficas Imperatrizes, os Pescadores os Nobres Donos e Guardiões, os Conquilheiros os Atrevidos e Carismáticos Ladrões.
Nas Marés Vivas apenas a Lua tem interferência e, por isso, elas elevam-se (literal e metaforicamente) acima de todos estes protagonistas. São secretas e enigmáticas. Claro que há quem as estude e lhes conheça os segredos mais insignificantes, mas para o mero observador permanecem um mistério insondável e fascinante.
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De onde vêm? Para onde regressam? Que tanto as revolta? Que pretendem arrebatar?
Nada há que imponha mais respeito do que a presença de uma Maré Viva à nossa frente ou à nossa volta. Os habitantes de qualquer selva, o portador do veneno mais mortífero, os abismos mais periclitantes empalidecem em comparação. O coração da Maré Viva provoca arritmias perigosas no coração de um pobre homem. Piedade para aquele que nela for apanhado desprevenido. A Maré Viva recompensá-lo-á pela sua audácia com um rol de monstros marinhos aterrorisadores: remoinhos vertiginosos, ondas titânicas, espuma sufocante, correntes imparáveis.
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As Marés Vivas chegam devagar, ciclicamente, progressivamente e fazem-se anunciar em detalhes que podem passar despercebidos ao mais incauto. A autora destas linhas conhece-as bem. É correcto dizer que as conhece melhor que a palma das suas próprias mãos, pois que as contemplou, e aos seus sinais, embevecida, mais vezes, claramente mais vezes do que contemplou as suas próprias mãos. E então: uma tonalidade do lençol aquático ligeiramente diferente, uma brisa milimetricamente desviada da costumeira direcção, um padrão de vagas progressivamente crescente e adquirindo um desenho típico, o rugido assustador das vagas durante a calada da noite precedente. E assim se adivinha, no suave frémito dos sentidos, a aproximação das marés mais entusiasmantes.
E quando chegam, elas arrebatam a praia e transformam o areal. Como um pincel gigante, pertencente a um artista excessivo e determinado, as deusas jackson pollockam as dunas, lançando jactos trepidantes de água e sal e areia contra a tela do areal, esculpindo montes e vales,
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fendendo crateras lunares, rasgando paisagens alienígenas,
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colorindo o horizonte com manchas intensas e a sua própria superfície de listas contrastantes. As águas assemelham-se a abismos assustadores, povoados pela multiplicidade da vida esquiva.
As Marés Vivas roubam, transformam, reorganizam. Mas também são generosas, deixam oferendas na praia - feixes emaranhados de sargaços tubulares, escorregadios e brilhantes, como esparguetes acabados de cozer al dente na espuma marinha; tufos perfumados de algas, que temperam a areia de tonalidades verdes, castanhas, douradas; medusas gelatinosas e transparentes, que se esvaem à beira mar;
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bouquets chocalhantes de conchas coloridas,
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búzios por alugar, estrelas do mar decapitadas e caranguejos desorientados.
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E subitamente, elas desaparecem de novo, como por magia, largando a bonança quieta no lençol marítimo e deixando sempre um rasto de destruição à sua passagem e a saudade de assistir ao seu desenrolar trepidante.
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