quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

MURMÚRIOS DO PARAÍSO VIII

O Casino
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O Casino acorda tarde e deita-se de madrugada. Mas lá dentro é sempre dia.
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O Casino brilha e tilinta e oferece sonhos e fantasias. Lá dentro somos sempre crianças, com sorrisos e esperança, com medo e fé e nervoso miudinho.
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O Casino é especialista em promessas, mas apenas as faz, quase nunca as cumpre.
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No Casino os porteiros são empertigados, polidos e cuscuvilheiros, raramente sorriem, a não ser quando cochicham entre si segredos insondáveis.
No Casino entra-se com um brilho nos olhos e sai-se a maioria das vezes com a crista murcha. Às vezes, poucas, sai-se a deslizar e com asas nas costas.
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O Casino é como o metro - há de tudo: os veraneantes, como eu, que só lá põem os pés uns 10 dias por ano; a dona da tabacaria que vai lá tentar a sorte com os trocos da caixa todos os fins-de-semana; o velho habitué que enterra todos os dias pelo menos 50 euros; os bifes que experimentam uma nota azul e fogem para parte incerta.
O Casino cheira sempre a decadência e transgressão, o odor mais intenso do dinheiro.
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No Casino também há bailarinos de segunda categoria, enfiados em fatos de lantejoulas apertados e plumas frisadas. Cantam e dançam, mas não encantam.
O Casino tem cores e luzes e uma selva de sons - o relinchar de cavalos, o tinir de varinhas mágicas, o coachar de sapos tornados príncipes pela sorte, a melodia exótica de faraós longínquos, o tilintar de moedas virtuais, até o uivo de lobos.
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É para todos os gostos, é só escolher. E perder. Ou ganhar, nunca se sabe.

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