segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

'Till I Found You

O Mundo Colapsa 11
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2200, Inverno, 13.40 GMT
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A Dheli chamara-lhe a atenção há uns meses atrás porque, numa das suas passagens pela Rede, nos poucos tempos livres que não ocupava em hibernação, detectara uma forte concentração de comunicação unilateral nos PacMasters da área circundante, o que era estranho. Estranho por dois motivos:
1º - O Sistema de Vigilância não permitia concentrações desta espécie. Qualquer grupo de mais de 3 PacMasters próximos a comunicarem em simultâneo e ainda por cima com um único receptor, era considerado altamente suspeito e era rapidamente eliminado (tradução: primeiro os PacMasters explodiam e depois "explodiam" os seus donos, que acabavam a servir de combustível num qualquer terminal espacial)
2º - Nenhum humano no seu juízo perfeito e em posse de todas as suas faculdades, experimentaria jamais fazer isto, desde que os primeiros PacMasters e respectivos donos tinham começado a explodir um pouco por todo o mundo, nos primeiros tempos da Nova Era.
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Portanto, das duas uma:
* Ou o Sistema de Vigilância apresentava algum tipo de falha que um bando de idiotas tinha aproveitado para "furar"
* ou o suposto grupinho era composto por Gajos Muita Espertos que tinham conseguido iludir o Sistema
Em qualquer dos casos, era algo que o intrigava desde que por acaso tinha reparado naquele ponto suspeito, e valia a pena investigar um pouco mais. Sobretudo porque se houvesse de facto um grupo de Gajos Muita Espertos a furar o Sistema, C. queria saber porque andavam a fazê-lo e principalmente C. queria-os no Programa. Toda a ajuda era preciosa, sobretudo dos Humanos, apesar de considerar, ao contrário de J., que todos sem excepção eram uns Merdosos.
Por isso, decidiu realizar algumas incursões rápidas pela zona. Não podia deixar-se ficar muito tempo no mesmo PacMaster porque levantaria suspeitas, mas podia alterar um pouco o seu plano de vôo e saltitar mais vezes para aquela zona, em vez de andar a percorrer o planeta inteiro. Depois, o que tornava ainda mais aliciante a Dheli, é que o sistema de vídeo do PacMaster do seu proprietário estava invariavelmente apontado para a janela da casa e C. conseguia ver o mar. Em pixels, é certo. Mas ao menos era o mar verdadeiro e não uma fotografia mal emporcamente resgatada do seu baú de memórias e digitalizada à pressa antes de ter resolvido evaporar-se definitivamente na Rede.
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Este facto também era estranho. Todos os ARLIs estavam a par das características da Revolução operada no mundo. Destruição de países inteiros, eliminação de todas as organizações, instituições e sistemas humanos, escravatura humana e sobretudo destruição de toda a geografia e arquitectura milenares, para dar lugar a uma amálgama de conjuntos parecidos com cidades industriais. Por outro lado, o aquecimento do planeta tinha atingido tais proporções, que obrigara à construção de gigantescas cúpulas protectoras, algumas delas abarcando centenas de milhares de quilómetros. O resultado era uma paisagem planetária que se assemelhava a um deserto povoado de cogumelos de vidro de várias dimensões e a Terra, observada a partir das diversas estações espaciais que a cercavam, assemelhava-se a um organismo canceroso gigantesco e pardacento, onde as únicas notas de cor eram conferidas pelos pequenos pedaços de azul oceânico que preenchiam os espaços entre as cúpulas.

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