Nesta era em que quase tudo parece explicado, desconstruído e descodificado, ainda haverá coisas que nos fascinam, como a
POESIA
Mais até do que a literatura, a poesia fascina tanto os leigos como os entendidos nas artes da escrita. Talvez porque, em teoria, seja necessária uma maior precisão no uso das palavras do que na prosa. A métrica e o ritmo são por vezes quase matemáticos e aproximam-se nos maiores poetas da ciência dos bastidores das grandes obras musicais do passado.
Ser poeta é ... ouvir o nosso instinto e deixar as palavras correrem ao ritmo de ondulações secretas. Aprendi a gostar de e a fazer poesia já por volta dos 30. Aquilo que me irritava passou a fascinar-me quando percebi por infindáveis tentativas e erros e frustrações que a poesia obedece a regras totalmente diferentes da prosa e que é preciso esperar, o que não significa que não tenha de se aprender a fazê-la. Na escrita existe muito pouca coisa que seja por inspiração, ao contrário do que a maioria possa pensar. Aprende-se, pratica-se e tenta-se exaustivamente, até a ser espontâneo.
Aquilo que continua a fascinar será talvez a linguagem que a poesia permite, muito diferente da prosa. Dizemos coisas, de determinadas formas, e descobrimos que chegamos talvez mais próximo do coração, da essência e do primitivo dessas coisas desta forma.
Talvez tenha a ver com o ritmo ... Talvez tenha a ver com a cadência ondulante que nos transporta para os primórdios da nossa existência minúscula, microscópica e aquática, dançando e flutuando ao sabor das marés primitivas da sopa primordial onde começámos. Afinal, até as mais simples sopas, ainda mais as de palavras, têm sempre uma receita.
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