segunda-feira, 10 de março de 2008

MURMÚRIOS DE LISBOA LVII

Amélie Poulain Precisa-se
(ou como a realidade ultrapassa sempre a mais imaginativa ficção)

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Candeeiro de rua na Praça do Teatro S. Carlos
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Há um prédio em Lisboa que precisa urgentemente da assistência da Amélie Poulain. Senão vejamos:
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No 5º andar mora um casal de lésbicas velhas que não dão cavaco a ninguém. A mais magra toca órgão, mas leva a mal quando se lhe pergunta se existe uma escola de música no prédio. As velhas também ficam escandalizadas sempre que a maníaco-depressiva chega de boleia num descapotável.
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No mesmo andar, mas do outro lado, tinha vivido uma senhora e seus gatos, que mal saía de casa. Foi encontrada morta três dias depois de se ter suicidado. Isto diz muito sobre as outras pessoas do prédio, mais do que sobre a senhora ... Não se sabe o que aconteceu aos gatos, mas talvez sejam os mesmos que se ouvem miar em noites de lua cheia.
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Na mesma casa onde a senhora se suicidou, mora a filha da senhoria com o marido. Ele sorri sempre e é muito educado para toda a gente, ela parece que enfiou um pau de vassoura pelo cu acima há muitos anos e nunca mais o conseguiu tirar de lá. É advogada ... isto poderá querer dizer algo. Também se desconfia que ela gosta mais do Lulu mudo com cara de penico, que leva a passear todos os dias, do que do marido. Apesar de tudo, os dois andam com trela curta. Não sabemos se o espírito da senhora suicida tem alguma coisa a ver com o pau de vassoura enfiado no cu dela. Mas sabemos que a maníaco-depressiva se lembra de vez em quando da senhora que se matou. Normalmente nas fases depressivas.
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No 4º andar vive uma família normal com 2 filhos. Aparentemente normal. Mas a esposa do casal, assim que a maníaco-depressiva se mudou para lá, deixou cair uma mola para o quintal. Foi muito simpática, mas desde então nunca mais apareceu. As molas, essas, continuam a cair todos os dias. As senhoras lésbicas também já deixaram cair um par de cuecas e tiveram vergonha de as ir lá buscar. Enviaram a porteira. Não sabemos se se tratava de alguma mensagem de código para seduzir a maníaco-depressiva para um ménage à trois. Mas a porteira regressou apenas com as cuecas.
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No terceiro andar mora outro advogado. Também tem um pau de vassoura enfiado pelo cu acima. Deve ser comum a todos os advogados. Tem a mania que é um presente de Deus para todas as mulheres. Parece um Mefistófeles alto, barbudo e bronzeado no solário. E há muitas mulheres que devem concordar com ele. A maníaco-depressiva não tem a mesma opinião. Ele olha-a com desdém, murmura uns bons dias e boas tardes muito a custo e ainda troca olhares sorridentes e marotos com o rapaz da garagem do lado, quando ela passa.
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Ao fim de 4 anos de a ver passar de cima para baixo e de baixo para cima, o rapaz da garagem do lado ganhou finalmente coragem e assobiou-lhe uma manhã. Isto fez com que ela sorrise. Ela estava na fase depressiva. Para fazer alguém sorrir na fase depressiva é preciso muito. O assobio foi muito baixinho, só para ela ouvir e parecia uma música, mas depois no fim tinha aquela voltinha típica dos assobios destinados a galar. Foi um assobio secreto e privado, um segredo. Apesar de achar que ele era um atrevido, a maníaco-depressiva achou o assobio muito sensual. O mais estranho de tudo foi que ela nunca tinha reparado no rapaz da garagem, apesar de passar todos os dias por ele. E mais estranho ainda do que isso foi que no fim-de-semana anterior ao assobio ela tinha pensado nele, sem saber porquê. Ela também passou a achar graça ao dono do assobio e agora pensa nele às vezes. Ele tem uns olhos sérios e uma barba por fazer que lhe agradam. Ele acha que ela é bonita, mas que deve ter um pau de vassoura enfiado pelo cu acima, porque nunca se dignou falar-lhe. Ele não sabe que ela é tímida, míope e distraída.
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O advogado do 3º andar também entra às vezes no prédio bêbedo e a cantar. O advogado também tem os seus fantasmas, mas finge que não. A maníaco-depressiva acha que as mulheres de saltos altos que ela ouve subirem e descerem as escadas, de vez em quando, podem ter algo a ver com estes fantasmas. Um dia o advogado berrou a plenos pulmões quando passou no elevador pelo andar da maníaco-depressiva, imitando uma mulher histérica a cantar. A maníaco-depressiva, que também tem a mania da perseguição, achou que ele estava a gozar com ela, porque ela às vezes, nas fases de mania, vai para a marquise com os auscultadores nos ouvidos e põe-se a cantar em altos berros. Por isso, naquele dia ela foi para a marquise e cantou o mais alto que lhe apeteceu. A verdade é que ele nunca mais voltou a fazer a mesma gracinha e ela iria até jurar que quando se encontraram outra vez à porta do prédio ele a olhou de um modo diferente. Com respeito. Mas isso não interessou nada à maníaco-depressiva, que nessa altura estava numa fase intermédia e cagou de alto para o assunto e para o advogado.
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No 2º andar mora agora um casalinho. Cumprem as estatísticas sexuais nacionais. Todos os Sábados e Domingos, sensivelmente entre as 11.30 da manhã e a 1 da tarde, a cama farta-se de ranger e o espaldar bate contra a parede. Ela geme sempre 3 vezes no final. Ele não pia. Ocasionalmente, durante a semana, ocorre a tradicional rapidinha por volta das 8 da noite. À parte isso, não incomodam ninguém. Devem ser felizes.
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No rés-do-chão está uma loja de produtos biológicos. O dono tem falinhas mansas, cabelos brancos prematuros e um ar de ecologista irritante e contribuiu para o aumento da poluição do planeta com um arsenal de máquinas ventiladoras instaladas nas traseiras do 1º andar, que enlouqueceram toda a vizinhança mais próxima durante alguns meses. A maníaco-depressiva teve ataques de choro incontroláveis durante alguns dias por causa das máquinas. Mas foi a única que teve coragem de se ir lá queixar. Os outros acobardaram-se. O problema foi resolvido, talvez porque nessa altura a maníaco-depressiva estava na fase maníaca e ele ficou com medo que ela quisesse fazer Tofu da cara dele. De vez em quando, ele telefona à maníaco-depressiva por engano e diz “É a Sara do Tofu? Olhe, precisamos de mais umas caixas.” A maníaco-depressiva responde-lhe sempre “Não, é a sua vizinha.”, quer esteja na fase depressiva, maníaca ou intermédia. Ele desmembra-se em desculpas, mas ela fica sempre com a sensação que ele acha que é mesmo a Sara do Tofu a brincar com ele. A maníaco-depressiva já cismou várias vezes se o dono da loja e a Sara do Tofu não terão um caso extra-conjugal. Ela nunca comprou nada na loja, mas não é por suspeitar que ele tenha um caso extra-conjugal.
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No meio disto tudo, a porteira é a única que fala com toda a gente. Mas presume-se que seja por causa do dinheiro que recebe da recolha dos lixos. Apesar de tudo, a maníaco-depressiva deixa-lhe um cartão de Natal todos os anos na caixa de correio. Ela às vezes não retribui. Mas não é por causa disso que a maníaco-depressiva anda a tentar matar-se com cigarros.
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Portanto, Amélie, filha, acho que já percebeste a gravidade da situação. Acaba lá as arrumações em Paris e vem depressa para Lisboa – há um prédio a necessitar da tua ajuda urgente. Depois dou-te as coordenadas.

3 comentários:

Dry-Martini disse...

Minha cara, hoje estou de rastos para comentar mas apenas lhe queria dar os Parabéns pelas risadas que me provocou :)
Depois comento com a devida atenção .)

XinXin

Andrómeda disse...

Se eu lhe disser que é tudo verdade e que não inventei nada, acredita em mim? :)

Dry-Martini disse...

Claro que acredito, daí ter gostado ainda mais .)

XinXin