domingo, 30 de março de 2008

MURMÚRIOS DE LISBOA LVIII

Estepes nos Teus Olhos – PósEpílogo
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Fundo do Poço Iniciático - Quinta da Regaleira - Sintra
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Vi-te no outro dia. Não contava ver-te mais, mas esperava, confesso.
Não dei por ti senão a meio da viagem. Andava em viagens, outras, mentais. E estava a observar um rapaz sentado ao teu lado, não porque o estivesse a avaliar como material de escrita (dito assim parece tão frio, mas é assim), mas porque ele me estava a observar a mim. gkjgkl
E ali estavas tu, sentado ao lado do rapaz. Apanhei um choque. Estavas muito vermelho. Pensei assim: “Olha, afinal foi de férias e apanhou um escaldão”. Mas logo a seguir pensei, que estranho, ir de férias para a Rússia Mãe e apanhar um escaldão, no pico do Inverno? Não pode ser. Também não te via a passares férias nas Bahamas. Ou a ires à sucapa a um qualquer solário.
Só quando saiste entendi.
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Consegui vislumbrar as tuas estepes apenas por alguns segundos. Estão completamente moribundas. Algo se passa, pensei, com este homem. Algo de muito grave.
É claro que o rapaz ao teu lado é o teu pupilo. Estás a passar-lhe todos os teus conhecimentos. Parte deles estavam guardados na mala preta rectangular e grande que o rapaz amparava entre as pernas. É suposto parecer a mala que carrega um teclado musical. Mas não. É obviamente um estratagema para esconder uma espingarda semi-automática com mira de longo alcance, possivelmente uma AK-74 porque a Remington 700 é demasiado kapitaliest para o teu gosto (não ligues, ando a incubar um sniper, depois dá-me para estas fantasias).
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E estava cansado. O rapaz. Mas também tu. O rapaz fechou os olhos e não mais os abriu até eu sair. Tu não fechaste as tuas estepes. Estão sempre quase fechadas, mas nunca.
Saiste duas paragens antes de mim. Era noite. Cambaleavas. Seguravas um saco de plástico verde nas mãos e lá dentro uma garrafa de vidro. Saiste para a rua e mal te aguentaste direito. O rapaz continuou a dormir.
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Para onde deixaste fugir as tuas estepes, Vladimir? Quem as apagou? Porque te procuras agora afogar dentro de uma garrafa? Acharás talvez que poderás reencontrar as tuas amadas estepes no fundo dessa garrafa?
Não, Vladimir. Olha. Elas estão aí, no fundo dos teus olhos. Não as percas. São tão preciosas.

1 comentário:

Dry-Martini disse...

As pessoas mudam... as garrafas mantém-se iguais

XinXin