quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

OS ACTORES DE ANDRÓMEDA - PARTE I


Sofia Loren

"Everything you see I owe to spaghetti."

Outro desrespeito ao alfabeto.
Não havendo nenhum T digno de nota
(a não ser Spencer Tracy,
que nunca me aqueceu nem arrefeceu), segue-se outro S.

A grande, incomparável, única
diva europeia ainda viva, além de Catherine Deneuve.
Só que a Deneuve é feita de gelo e Sofia … bom,
Sofia é la vera mamma italiana, cheia de sal, pimenta
e todos os condimentos que é possível imaginar.

Não há ninguém como ela para representar
aquelas mulheres do povo, de peitaça
meia destapada e ondulante, mão na cintura,
umas pernas impossíveis debaixo do avental
e uma boca sem papas na língua,
berrando impropérios de colher de pau em riste,
toda despenteada e mesmo assim linda de morrer.

Sofia Loren teve sempre uma outra característica
que torna qualquer mulher linda
duplamente perigosa – era suficientemente
inteligente para saber rir-se de si própria,
sabendo aproveitar precisamente as suas raízes
para compor personagens autênticos, terra-a-terra
e por isso mesmo infinitamente mais fascinantes.

Ela é simplesmente deliciosa (exactamente como a
pasta al dente em que é especialista :)), seja de que maneira for
e ainda por cima é uma grande actriz.
Quando estas três coisas se juntam
em proporções fartas – beleza, talento e sangue italiano –
o resultado é uma explosão de proporções perigosas.

O nome desta explosão é Sofia Loren.
E quem não concordar é porque
não tem olhos na cara nem sal no corpo e é parvo!
HGFHFGFH

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XX

Amanhece, Lisboa
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Vista do Castelo de S. Jorge - Ruínas do Convento do Carmo
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Foste amena, Lisboa
Uma amena enseada
Allis Ubbo fenícia
Que Ulisses fundou no Olimpo dos mitos
Roma veio com os seus augustus
E disse
Aqui colhe-se ouro à mão cheia
E nasceu a lenda
Que atraiu navegadores e comerciantes
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Foste disputada, Lisboa
Foram-se os romanos
Ficou a muralha
Mas os bárbaros tomaram-te
E depois os inimigos da cristandade
Ficaram por 400 anos
“Onde se juntam as bondades do céu, da terra e do mar”
Afonso cercou-te
Com a ajuda dos destemidos cruzados
O Moniz entalou-se nas tuas portas
E foste tomada
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Foste crescer, Lisboa
Tornaste-te capital
Fez-se o teu Cais do Ouro
E chegaram tantos de tão longe
Depois partiram tantos para o sonho ainda mais longe
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Foste grandiosa, Lisboa
A mais opulenta
A referência
A nascente de aventureiros que se foram
“Por mares nunca dantes navegados”
Recordando na memória a última luz do teu porto de abrigo
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Foste iluminada, Lisboa
Com o ouro brasileiro
Vestiste-te de opulência
Mas caíste em decadência
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Foste destruída, Lisboa
Quando a terra tremeu
E te deitou abaixo
Incendiou tuas gentes
Num fogo de dor e de raiva
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Renasceste, Lisboa
Pela mão do Marquês
Que te projectou larga e grandiosa
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Foste amordaçada, Lisboa
Pelas amarras do Estado Novo
Que caiu da cadeira
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Foste libertada, Lisboa
Quando um cravo voou por sobre as tuas carcomidas telhas
E recomeçaste devagar
A crescer até à eternidade
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Foste tudo, Lisboa
Foste porto seguro
Cais de partida
Foste mundo poderoso
Triste e caída
Foste arruinada e levantada
Tomada e libertada
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És hoje, Lisboa
A luz divina dos nossos olhos
A tijoleira cansada da saudade
És a brisa suave do passado
Sussurrando histórias de deslumbrar
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De heróis gregos
Imperadores romanos
E guerreiros bárbaros,
De mouras de encantar
Marinheiros bravos
E reis sábios,
De mundos de além-mar
Tesouros deslumbrantes
E tragédias devastadoras,
De sal, de lágrimas, de espanto
Vitórias sofridas
E glórias escondidas,
De revoluções floridas
Sonhos desejados
E esperanças silenciosas
gkjkljfglkjlfkjgfkl
Amanhece, Lisboa
E nesse puro instante de limpidez, espera
Respira
Recorda
Suspende-te no tempo
E o tempo contigo
E deixa-te cair, derreter
Em cambiantes todos
Numa lenta agonia
Numa suave melancolia
Lisboa
gkjkljfglkjlfkjgfkl
gkjkljfglkjlfkjgfkl

gkjkljfglkjlfkjgfkl
gkjkljfglkjlfkjgfkl
gkjkljfglkjlfkjgfkl
To be continued …

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

QUEM É O MAIOR PORTUGUÊS?

Infante D. Henrique
DFDDFSD
O Estratega

DFDFDSF
DF

4 de Março de 1394 — 13 de Novembro de 1460



“Vontade de bem-fazer.”

domingo, 28 de janeiro de 2007

PSICANÁLISE VIII


Sometimes I feel exactly like this
LOL

sábado, 27 de janeiro de 2007

OS ACTORES DE ANDRÓMEDA - PARTE I


Steve McQueen

“I don't know why it (stardom) happened-but it's kinda nice.
Maybe it's because I'm someone off the streets.
Maybe people relate to me.”

(Esperei não sei quantas semanas para chegar à letra S :))
Este post é dedicado à minha mommy,
fã incondicional e responsável pela minha perdição :)

Alguém um dia disse que o rosto de Steve McQueen
era uma deliciosa mistura de orangotango com um anjo de Botticelli.
Subscrevo inteiramente :)
Aos 10 anos apaixonei-me perdidamente por ele, para sempre.

Steve McQueen foi o primeiro, the one and only action man
do Cinema e nunca mais houve outro como ele
e todos os Sylvester Stallones e afins lhe seguiram as pisadas,
sem nunca lhe chegarem sequer aos calcanhares.
Duro, imprevisível, contido, imperturbável,
impenetrável e enigmático o semblante de Steve McQueen
é um íman impossível de resistir.

É curioso como alguém com um corpo magro e frágil,
tão anti-herói e oposto ao típico durão, grande,
poderoso e musculado, se tenha tornado
na maior estrela de acção de todos os tempos.
Mas provavelmente, e como o próprio disse,
talvez fosse por isso mesmo, porque
ele era real e podia ser qualquer um de nós,
o homem comum das ruas, o tipo por quem
ninguém dava nada, que passava despercebido,
sempre inquieto e nervoso,
numa urgência de ir, onde quer que estivesse,
como um Mercúrio apressado e insatisfeito, sedento de acção.

Ele foi o protagonista da mais entusiástica e electrizante
perseguição automóvel de todos os tempos –
uma cena que ainda hoje permanece actual.
Ao volante de um Ford Mustang, Steve persegue o vilão
pelas ruas íngremes de São Francisco em Bullit.
A cena é absolutamente inesquecível (só a vi uma vez na totalidade
até há pouco tempo, ainda era miúda, e ficou marcada para sempre)
e nenhum amante de cinema pode deixar de a ver.
(pode ser vista aqui e note-se um pormenor importante –
não há música, nem diálogos, não é preciso, apenas o Ford, o vilão,
o som dos motores dos carros, as ruas da cidade,
a estrada e Steve McQueen, claro:

Steve era autêntico. Ele era assim mesmo, na vida real.
A persona que adoptou para o Cinema não era fantasia.
Ele gostava de velocidade, era um automobilista e um motard
apaixonado pela competição e é isso que transparece
no écran, em todos os personagens que representou.
E é por isso que o público o adorava.
E ainda hoje,
a paixão pelo incomparável Steve McQueen
permanece e não há-de esmorecer nunca.

Steve, you were the coolest guy that ever lived !

P.S.
Vejam lá aqui se eu não tenho razão :)
http://www.youtube.com/watch?v=-TiRMWB16Qs&NR
çlkgfçlkgçkçkg

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XIX

Quero as Minhas Asas!
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Sereia - Pormenor de Fonte - Praça do Rossio
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Ela tinha perdido as asas.
Não sei se as tinha perdido porque se esquecera delas em algum lugar, se lhas haviam roubado ou se lhas tinham sido confiscadas por ordens superiores, mas suspeito que tenha sido por este último motivo.
É que os olhos dela estiveram durante a viagem inteira até ao aeroporto no estado da mais completa surpresa e descrédito que é possível imaginar.

Era bonita, aquele tipo de beleza grunge onde os criadores de moda como Calvin Klein foram buscar inspiração há uns anos atrás. Tinha um rosto oval de curvas delicadas, emoldurado por uma cabeleira castanha escura lisa e escadeada que lhe chegava ao princípio das costas. As sobrancelhas eram finas e desenhadas por uma profissional e tudo o resto – a boca, o nariz e o queixo ligeiramente arrebitado – era pequeno, à excepção dos olhos castanhos, enormes e espantados. A única presença de maquilhagem naquele rosto de vinte e poucos anos era o risco de eyeliner preto nas pálpebras inferiores e as olheiras negras, claro, que nem toda a maquilhagem do mundo conseguiria disfarçar.
Trazia um top preto justo por baixo de um casaco de cabedal preto curto, umas calças de ganga justas cinzentas e umas botas pretas de salto alto. Era baixinha e bem feitinha, presumo que agradasse a qualquer homem com olhos na cara (infelizmente, não tinha o meu irmão comigo para lhe perguntar se estava aprovada ou não – ele costuma ser o meu barómetro).

Tinha perdido as suas preciosas asas, negras e enormes, que eram o seu orgulho, que cuidava tão bem como do cabelo, mantendo-as sedosas e leves, escovando-as 100 vezes todas as noites. E agora, por uma transgressãozinha, uma mera idiotice, tinham-lhas confiscado, talvez para sempre, não sabia. Não podia sequer acreditar no que lhe estava a acontecer. Uma maldita transgressãozinha que nem sequer se podia chamar isso. Era inconcebível! E os olhos mantinham-se desmesurados e incrédulos, enquanto agarrava junto ao corpo a mala de plástico branco e fixava o olhar no horizonte das suas amadas asas perdidas.

Nem sequer reparou no professor de história tímido que se enfiou no banco ao seu lado, perto da janela e mergulhou imediatamente na leitura do jornal. Ouvia música, o professor e era daqueles jovens professores idealistas e atraentes, mas que vivem num mundo interior privado e protegido de invasões. O típico rato de biblioteca, de cabelo cortado quase à escovinha, semblante sério e circunspecto, blaser escuro e calças de ganga azuis desbotadas. Quando viu que eu o observava, o professor baixou imediatamente os olhos e daí a nada estava a arrumar as coisas, para sair perto do liceu. Claro que sorri. Foi mais forte do que eu. Enternecem-me homens tímidos. Porque são tão raros.

Mas ela nem sequer reparou quando ele voltou a passar por si. Qual professor de história, qual carapuça! Eu quero as minhas asas de volta!
Saiu no aeroporto, claro. Ia apresentar reclamação, averiguar o que se passava, pedir uma revisão de provas, rogar para falar com alguém superior, eu sei lá, chorar baba e ranho, se fosse preciso.
Era perfeitamente inconcebível que lhe tivessem confiscado as suas asas!

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

QUEM É O MAIOR PORTUGUÊS?

D. Afonso Henriques
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O Conquistador

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25 de Julho de 1109 — 6 de Dezembro de 1185

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“Eu, o infante Afonso, filho do conde Henrique,
livre já de toda a opressão,....,
na posse pacífica de Coimbra e todas as cidades de Portugal...”

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

OS ACTORES DE ANDRÓMEDA - PARTE I


Richard Burton

“You may be as vicious about me as you please.
You will only do me justice.”

Poucas palavras conseguirão descrever o gigante
que Richard Burton era.
Portentoso será talvez uma boa escolha.
Porque ele não nos entrava simplesmente
na sala de cinema ou em casa.
Ele rasgava o écran como um touro enraivecido
e sugava-nos tudo até ao tutano, até ficarmos sem fôlego,
com o coração a cavalgar desenfreadamente.

Para mim, Richard Burton sempre foi o contraponto
inglês de Marlon Brando, mais do que o nobre Olivier.
Havia uma urgência incontrolável, uma sensibilidade
que quase doía olhar, em tudo o que fazia,
no arrasoado de palavras que se soltavam dos seus lábios
como uma torrente imparável e destemida, que prendiam
qualquer um ao lugar, sem defesas.

Dizia ele que tinha tido apenas sorte.
Que conhecia outros 50 actores galeses tão bons ou melhores ainda,
com um físico, uma presença e uma voz similares,
mas que por um mero acaso da sorte lhe tinha calhado a si
a oportunidade de mostrar ao mundo o seu talento.
Talvez tivesse razão. E se assim foi, sorte a nossa.
Mas duvido que tivesse razão :)

Elizabeth Taylor não lhe resistiu por duas vezes.
O que proporcionou ao mundo um romance real
magnífico entre duas feras soberbas,
que se digladiavam constantemente – tudo começou
no megalómano Cleópatra, com ele a fazer
de Marco António de cabeça perdida pela imperatriz.
Em Quem Tem Medo de Virginia Woolf os dois
atingiram um nível de representação de tal ordem,
que sempre me interroguei sobre de que forma
é que conseguiriam desembaraçar-se dos respectivos
personagens quando chegavam a casa, ou se aqueles
eram uma extensão das suas próprias personalidades.

Laurence Olivier disse que um actor deveria ser capaz
de criar um universo na palma da sua mão.
Eu diria que Richard Burton o conseguia fazer
apenas através da dolorosa intensidade do seu olhar
ou com a profundidade e poder da sua voz, outra que ficará
marcada para sempre nos ouvidos de quem foi seu espectador.

No, I can´t be vicious about you, Richard …

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XVIII

Três Anjos
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Anfiteatro da Fundação Calouste Gulbenkian
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Bob Dylan apanha um autocarro diferente do meu. Já é a terceira ou quarta vez que o vejo. Provavelmente anda incógnito ou fugido do FBI (consta, num daqueles livros sobre teorias da conspiração, que os serviços secretos tiveram a sua cabeça a prémio em conturbados tempos idos).
Mas eu topei-o logo. Aquele arzinho lingrinhas e desmazelado, aqueles olhos de carneiro mal morto de quem não parte um prato não enganam ninguém. Muito menos as calçinhas curtas tão fora de moda, os sapatinhos desconjuntados e os caracóis grisalhos e imundos.
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Não posso com o Bob Dylan. Eu sei que é um sacrilégio dizer isto, mas que querem? Detesto a voz dele. E uma voz para mim pode ser a perdição de um ídolo (nem queiram saber, aqui há uns tempos apanhei uma desilusão tremenda quando ouvi o Russell Crowe rir-se no programa do Jay Leno; como é possível que o meu gladiador de voz linda e máscula tenha o riso mais estúpido do mundo, expliquem-me!?).
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A voz de Bob Dylan é fanhosa, pronto. Irrita-me. E além do mais a culpa é dos meus pais, que não eram revolucionários. Eram mais Beatles, aos pulinhos, estão a ver? (só mais tarde é que descobri os Rolling Stones, porque lá em casa não se ouviam "párias" da sociedade).
Bob Dylan pode ter sido o poeta dos tempos que estão a mudar, mas quando abre a boquinha não o consigo ouvir. Faz-me lembrar aquele declamador chamado não sei quantos Fanha (se ele por acaso ler isto, gostava de lhe dizer, Fanha (vejam bem que se o nome dele tivesse sido inventado, ninguém acreditava ...), amigo, poeta, palhaço, alguém já te devia ter dito há muitos anos que em vez de declamares Pessoa devias era estar a declamar as instruções do Nasex).
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Bom, mas voltando ao Bob. Hoje tinha um jornal na mão e quando se sentou no autocarro ficou embebido na leitura das últimas notícias do país e do mundo (estou a plagiar propositadamente o Rodrigo Guedes de Carvalho, da SIC). Tenho a certeza que estava a inspirar-se para mais uma canção de intervenção.
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Entretanto o puto sentou-se à minha frente. Era giro e de cada vez que virava a cabeça de um lado para o outro para fingir que via a mesma vista pela milionésima vez, olhava para mim com olhos cor de lago profundo. Não sei o que se passa comigo, sinceramente. Não me lembro de jamais ter despertado hormonas de vinte e tal anos como agora. Deve ser a maturidade dos trintas a manifestar-se ...
O puto estava a ouvir música nos auriculares, mas de certeza que não era o Bob Dylan.
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Depois entrou o indiano. Eu juro que nunca tinha visto um indiano tão bem parecido e nem sequer fazem o meu género. Tinha os seus trinta e tal anos e nem sequer olhou para mim (estão a ver o paradoxo da coisa, não estão?...). Vinha acompanhado por um senhor bastante mais velho e sentaram-se precisamente atrás do puto. E pronto, foi aí que tudo descambou.
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Eu estava a tentar concentrar-me no Bob Dylan, que tinha desaparecido no outro autocarro, ao mesmo tempo que procurava observar a fisionomia do indiano inglês, sem que o puto julgasse que eu estava a olhar para ele. O indiano era uma gralha e não se calava, despertando-me ainda mais a curiosidade porque adoro aquele sotaque britânico indiano que o meu tio imita tão bem. Mas o puto, que estava precisamente na diagonal do outro, achou que eu estava a corresponder-lhe e entusiasmou-se, certamente com a ajuda da música que estava a ouvir e que de certeza que não era Bob Dylan.
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Entretanto, o vagabundo que se sentara ao lado do puto perguntou-lhe onde era não sei o quê e nessa altura o puto, entretido com a música e comigo, deu um pulo na cadeira de tal ordem que foi precisamente aí que eu perdi o Bob Dylan. É que deu-me um ataque de riso daqueles histéricos, que nem queiram saber.
Ainda por cima, o vagabundo era daqueles tipinhos hiper delicados, cheios de boas maneiras, mas com olhos de lunático, não sei se estão a ver o género. Uma pessoa olha para eles e está sempre à espera que lhes dê um ataque repentino de qualquer espécie, se respirarmos da forma errada. O puto deve ter pensado exactamente o mesmo que eu, porque se dispôs de imediato a explicar-lhe tudo muito bem explicadinho.
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E entretanto, com estas distracções todas, fiquei sem saber o que queria dizer sobre o Bob Dylan ...
Apenas um pensamento se me ocorre neste momento: será que o Bob Dylan americano já escreveu alguma canção sobre este Bob Dylan, ou sobre o indiano, ou sobre o puto, ou sobre o vagabundo lunático, ou sobre mim?
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Descobri esta:
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Three Angels
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Three angels up above the street,
Each one playing a horn,
Dressed in green robes with wings that stick out,
They've been there since Christmas morn.
The wildest cat from Montana passes by in a flash,
Then a lady in a bright orange dress,
One U-Haul trailer, a truck with no wheels,
The Tenth Avenue bus going west.
The dogs and pigeons fly up and they flutter around,
A man with a badge skips by,
Three fellas crawlin' on their way back to work,
Nobody stops to ask why.
The bakery truck stops outside of that fence
Where the angels stand high on their poles,
The driver peeks out, trying to find one face
In this concrete world full of souls.
The angels play on their horns all day,
The whole earth in progression seems to pass by.
But does anyone hear the music they play,
Does anyone even try?
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Eu tento ...
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E Bob, desculpa lá, os teus poemas sim, cantados por ti é que não ...

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

PALAVRAS EMPRESTADAS 3

Shit Happens Around The Globe

Católicos: “Se há merda, eu mereço.”

Judeus: “Porque é que esta merda nos acontece sempre a nós?”

Agnósticos: “Que merda é esta?”

Ateus: “Não acredito nesta merda/não há merda.”

Confucionistas: “Confúcio diz que a merda acontece.”

Rastafarianos: “Vamos fumar esta merda.”

Protestantes: “Se eu trabalhar mais duramente, não haverá merda.”

Islamitas: “Se houver merda, é a vontade de Alá.”

Budistas: “Quando há merda, é realmente merda?”

Zen: “Qual será o som da merda a acontecer? …”

in Metacarne, Manuel Pais (Editora Oficina do Livro, 2000) - um excelente e raro exemplo de literatura portuguesa sobre o ciberespaço, by the way

domingo, 21 de janeiro de 2007

OS ACTORES DE ANDRÓMEDA - PARTE I


Anthony Quinn

“On the stage, you have to find truth,
even if you have to lose the audience.”

Larger than life.
Só assim se pode descrever Anthony Quinn.
Sempre roubou todas as cenas,
inevitavelmente, sem fazer por isso. Não precisava.
A sua personalidade fortíssima impregnava cada personagem
que representava com um cunho inimitável.

Mexicano de raiz, os olhos castanhos de Anthony Quinn
foram capazes de nos oferecer a doçura mais comovente,
a raiva mais violenta ou a comicidade mais hilariante,
sempre naquele corpo pesado e grande, mas elegante,
quando enchia o écran e nos conduzia na sua direcção avidamente,
para não perdermos pitada.

Ele foi o fiel líder da tribo beduína Auda ibu Tayi, ao lado de
Peter O’Toole e Omar Shariff, em Lawrence da Arábia,
o excêntrico Papa Kiril I em As Sandálias do Pescador,
o irmão do general Zapatta (Brando) em Viva Zapata!
(que lhe proporcionou um Oscar),
o inesquecível Zorba, o Grego, papel que marcou para sempre
a sua carreira e que é um hino à alegria de viver –
algo que temos a certeza ter-lhe sido fácil representar.

Fiel a esta imagem larger than life, Anthony Quinn
deixou no mundo não menos do que 13 filhos, de várias mulheres,
e uma obra paralela à sua carreira cinematográfica,
a pintura, outra das suas grandes paixões.

"Parei, embaraçado.
Era exactamente assim que um verdadeiro homem era (...)
Um homem com sangue quente e ossos sólidos,
que deixa que lágrimas verdadeiras lhe corram pelas faces abaixo
quando está a sofrer; e quando está feliz
não estraga a frescura da sua alegria fazendo-a correr
pelo fino passador da metafísica." (Zorba, O Grego)

Assim era Anthony Quinn.
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sábado, 20 de janeiro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XVII

A Queda
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Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian
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Sentado lá atrás, Takeda (vamos chamar-lhe Takeda – gosto da sonoridade e o nome tem conotações implicitamente relacionadas com o desenrolar da história) ponderava sobre o que tinha dentro do saco de supermercado.

Nada no seu semblante carregado faria adivinhar as revoluções catastróficas que explodiam no interior da sua alma, como cartuchos ateados de um intenso fogo-de-artifício.

Mas Takeda estava prestes a fazer algo que ninguém esperaria jamais. E depois … bem, depois nada seria jamais como até hoje.

Takeda bem sabia que uma vez dentro, não se pode sair. Mas ninguém o conhecia. Achavam que sim. Achavam que lhe liam os olhos cerrados e papudos de sapo, ligeiramente rasgados e passivos, tão claramente como um espelho. Mas o problema era exactamente esse. Para lá do espelho, ninguém penetrava e o que o espelho devolvia era sempre uma paz de espírito aparente.

Porque, pensou Takeda, berrando lá dentro de si com toda a força: “É bom que tenham cuidado comigo!” Com ele e com o que estava dentro do saco de supermercado.

Imóvel, sentado lá atrás, enfiado no seu kispo azul céu, nas suas calças de bombazina castanhas e nos seus sapatos abotifados impecavelmente engrachados, Takeda era a personificação da estátua mais serena do Buda. A única diferença é que ainda tinha todo o seu cabelo preto, fino e curto, no devido lugar.

Quando saiu observou atentamente o pessoal do Departamento de Jardinagem da Câmara, espalhado pelo relvado à sua direita, atarefados a varrerem folhas estaladiças e a arrancarem ervas daninhas. Do outro lado um rapaz novo empurrava um carro do lixo. Ficou a observá-lo, enquanto se dirigia para o fim do carreiro e desaparecia na esquina.

Era preciso ter cuidado com a própria sombra.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

PSICANÁLISE VII

fffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffManhattan

"Tracy: Not everybody gets corrupted. You have to have a little faith in people. "

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

A CINECITTÀ ESTÁ VIVA !



Bem no centro de Lisboa, escondida num cantinho da Av. Sacadura Cabral, nasceu há cerca de 2 anos uma caixa de surpresas cinematográficas chamada Cinecittà.
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O Vasco está lá todos os dias para ajudar a encontrar pérolas esquecidas, inusitadas ou bem actuais.
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DVD's, posters, livros, t-shirts, pins são alguns dos objectos que se podem descobrir nesta caixa de magia.
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Mas o mais importante de tudo é que o Vasco percebe realmente de Cinema e a loja é uma extensão da sua paixão, o que é sempre bom para nós :)
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Para cinéfilos inveterados e não só, a Cinecittà recomenda-se !


Avenida Sacadura Cabral, nº 4 - Lisboa
(Junto à Av. de Roma, perto da Estação de Comboios)
Tel.: 21 795 71 62 - E-mail: cine_citta@yahoo.com
Horário: 12H às 19.30H (Segunda a Sexta) - 15H às 18H (Sábados)

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

OS ACTORES DE ANDRÓMEDA - PARTE I


Bette Davis

“I was the Marlon Brando of my generation.”

Só Bette Davis me faria desrespeitar o alfabeto.
Era suposto ser alguém com um P.
Entre os fascinantes e ofuscantes olhos azuis
de Peter O’Toole e a magnífica Perfídia (cá está o P)
de Bette Davis, o meu coração não teve outra escolha possível.

Porque Bette Davis quebrou todas as regras que era possível quebrar.
Ela não era bonita, nem sensual e até a sua voz era irritante.
Os seus olhos eram desmesurados e salientes, como os de um sapo.
Só que Bette Davis era uma actriz do outro mundo, não deste.
Não houve nenhuma outra como ela.

E depois … bom, depois havia aquele pequeno pormenor
deveras importante – ninguém fazia de má, megera, pérfida
e insuportável tão bem como ela.
E nós adorávamo-la por isso.
Nós queríamos mais e mais e mais. E nunca era suficiente.
Regozijávamos de todas as vezes que ela se dispunha
a destruir uma alma com umas poucas palavras proferidas
no tom mais incrivelmente displicente e cruel deste mundo.
Aplaudíamos a imensa capacidade que ela tinha de dizer e fazer
aquilo que todos já quisemos dizer ou fazer algumas vezes na vida,
mas nunca tivemos coragem nem talento para isso.

Bette Davis foi-se deste mundo, aparecendo uma última vez
no soberbo “As Baleias de Agosto”, ao lado da deliciosa
e amorosa Lilian Gish (a heroína da época muda de Hollywood).
Nesse filme, já com mais de 90 anos,
as duas interpretam um par de irmãs.
Adivinhem quem é a irmã má? :)
Passamos o filme inteiro com pena de Lilian Gish e ao mesmo tempo
com um sorriso delicioso de cada vez que Bette berra “Saaaaaaaaarah!”

E ficam as saudades imensas, desmesuradas,
pelo regresso da “baleia” mais magnífica do Cinema.
Volta, Bette, estás perdoada :)

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XVI

Anjinhos Mal Comportados

Fonte Praça do Rossio

É mais que certo que o aeroporto é um portal. Querem ver? … Tenham paciência, porque a história é comprida.

Os dois entraram algumas paragens antes. Não tinham mais de 15 anos. Duas avezinhas ainda a largar penugem à sua passagem. Dirigiram-se imediatamente para junto da porta traseira e aí se encostaram rindo de uma qualquer asneira cometida em conjunto. O mais baixo e franzino era o mais destemido. Tinha o cabelo loiro espigado e uns olhos pequenos, verdes e desconfiados. Trazia um barrete cinzento enterrado quase até às sobrancelhas, uma camisola também cinzenta, umas calças azuis e uns ténis pretos.
À primeira vista teria todo o aspecto de ser o anjo mau do par mas, como todos sabemos, as aparências costumam iludir.
A raiva que o cobria dos pés à cabeça como um manto invisível mas poderoso, deixava-se vislumbrar em pequenos pormenores que não eram percepcionados conscientemente, mas que se manifestavam de forma visceral em quem o observasse. Encolhi-me e afastei o olhar. Este anjo estava contra o mundo e ainda por cima naquela idade perigosa em que julga que o mundo só está contra ele, porque só o vê a ele.
O outro era, aparentemente, o anjo bom do par, apesar de ser mais alto, mais moreno, mais escuro e mais dissimulado por baixo dum capuz azul que lhe escondia a face. À primeira vista poderia ser um anjo que ainda não escolhera o seu lado da batalha e que fingia ser mau, para não parecer mal. Um daqueles anjos cinzentos. Nunca se saberá. Até porque se assim fosse, pelos vistos tinham-se enganado na cor das roupas no camarim. Mas sabemos como nestas idades se gosta de trocar tudo, até a segunda pele.

Foi então que o velho sentado atrás de mim se passou dos carretos e o seguinte diálogo teve lugar:
“Está a fumar … Você está a fumar?!”
O anjo mau (que vestia de cinzento e não sabemos ainda se era realmente o mau da fita) trazia metade dum cigarro entalado entre o indicador e o polegar da mão direita (porque é assim que os meninos maus fumam), enquanto a outra repousava enfiada no bolso esquerdo das calças.
“Tou!”, encolher de ombros altamente provocatório.
“Faça favor de apagar o cigarro!”, berrou o velho.
“Porquê?”, olhar extremamente desafiador.
“Aqui dentro não se fuma! Dentro do autocarro é proibido fumar!”, o velho estava a perder todas as estribeiras.
Entretanto, a senhora que estava sentada lá atrás começou a abanar-se com a revista que segurava nas mãos e desabafou, enquanto soprava, solidária com o velho:
“Que fumarada! Aqui dentro é proibido fumar. Senão estamos todos aqui a levar com isto. Ai….”, e levantou-se para abrir a janela. Ajudei-a. Ela agradeceu, distraída. O velho continuou a insistir.
O senhor gordo sentado ao lado da senhora do abanico exclamou, com um encolher de ombros:
”Eu já sabia. Eu já estava a ver que isto ia acontecer …”
O anjo mau respondeu torto ao velho e o velho desta vez exaltou-se a sério. Na realidade, ficámos todos a temer pela sua saúde:
“Respeitinho! Os teus pais não te dão educação? Olha que eu tenho idade para ser teu avô!!” e a palavra “avô” foi proferida a bold e caps log.
O senhor gordo chateou-se com tudo o que ele já estava mesmo a ver que ia acontecer e vociferou, talvez preocupado com a possibilidade de o velho ter ali mesmo uma apoplexia das sérias:
“Vá … Parem lá com isso.”
O anjo cinzento ria e o anjo mau perdeu-se na escuridão da sua raiva. Os olhos encolheram-se ainda mais, enquanto o corpo frágil avançava para o confronto, mas pregado ao mesmo chão onde se plantara.
“Eu sei. Por isso é que não lhe faltei ao respeito.”
E depois, numa voz perdida, disse apenas:
“E veja lá como é que fala do meu pai. Ele já morreu.”, virou-se para a porta, enfiou o pescoço nos ombros e abanou a cabeça, como se estivesse à espera que um qualquer realizador imaginário gritasse “Corta!”
Podia ser verdade. Ou podia ser mentira. Nunca se saberá.
O velho levantou-se e avançou disparado lá para a frente.
A senhora continuou a abanar-se com a revista. O senhor gordo soltou mais uns impropérios.
O anjo mau atirou a beata lá para fora e sentaram-se os dois atrás de mim, rindo descaradamente.
Entretanto o motorista, certamente avisado pelo velho, berrou lá para trás:
“Quem é que está aí a fumar?”
O anjo cinzento respondeu imediatamente: “Sou eu!”, numa atitude protectora do seu par, como se implicitamente estivesse a dizer “Epá, ele já teve a dose dele, agora é comigo.”
dlkjldjjd

Foi nessa altura que o autocarro, em vez de seguir em frente, deu meia volta e regressou … adivinhem onde … às partidas do aeroporto … precisamente para ir buscar reforços, bem se vê.
O senhor gordo, como era seu hábito, vociferou, cruzando os braços:
“Eu já sabia que ele ia fazer isto…”
Momentos depois entrou um anjo-da-guarda fardado de azul escuro. Os anjinhos cheiraram a própria penugem e entreolharam-se, calados e encolhidos, percebendo finalmente que talvez a brincadeira tivesse ido longe demais.
O anjo-da-guarda, que nem sequer era muito alto nem impunha muito mais respeito do que o que a farda lhe conferia, limitou-se a perguntar, observando-os displicentemente:
“Quem é que estava a fumar?”
Não obteve resposta, mas não foi porque quisessem fazer-se de parvos. Foi simplesmente porque estavam demasiado aturdidos para dizerem qualquer coisa e possivelmente até com a ridícula esperança que por um qualquer prodígio da natureza, se tivessem tornado subitamente invisíveis ao anjo-da-guarda.
Portanto, era até escusado a senhora do leque ter dito:
“São eles, mas eu pedi-lhes com educação para pararem e eles pararam …” e a frase foi descaindo lentamente até terminar num murmúrio já maternal e medroso.
Desta vez o senhor gordo não afirmou que já sabia coisa alguma.
O anjo-da-guarda passou por eles e mandou-os saírem e é claro que nem teve que levantar a voz. Limitou-se a seguir em frente, sem sequer olhar para trás.
As avezinhas abandonaram o autocarro e permaneceram no passeio, cabisbaixos, largando penugem a toda a volta, com o ar mais inocente do mundo, ouvindo as admoestações.
O anjo mau encolhera-se de tal forma que foi o anjo cinzento (o tal que estava vestido de escuro) quem procedeu às explicações. Talvez estivesse a desejar que o pai ainda existisse. Ou talvez estivesse agora mais próximo dele do que alguma vez tivesse podido imaginar.
Nunca se saberá.
Até porque decerto que foram enviados por uma temporada para a escola de correcção de anjos mal comportados.
Onde já se viu um anjo a fumar? Estes anjinhos de hoje lembram-se de cada uma …

domingo, 14 de janeiro de 2007

OS ACTORES DE ANDRÓMEDA - PARTE I


Orson Welles

“I passionately hate the idea of being with it;
I think an artist has always to be out of step with his time.”

Aos 25 anos de idade Orson Welles tinha já inscrito
o seu parágrafo na enciclopédia da humanidade
e criado mais do que a maioria de nós consegue numa vida inteira.
lfgjlfdjglk
Dele é o filme considerado por muitos entendidos
como a obra-prima cinematográfica maior de todos os tempos
– Citizen Kane (O Mundo a Seus Pés),
que também protagonizou.
Dele disse Welles que foi a primeira e única vez
que teve toda a liberdade que precisava
do então poderoso e omnipotente estúdio
para criar exactamente a sua visão, sem interferências.
O resultado foi um filme brilhante, que utiliza pela primeira vez
uma série de técnicas inéditas para a época,
sobre o qual já muito se escreveu
e que tem resistido ao tempo como o grande clássico que é.

Tão imponente, poderosa e inesquecível
como a sua presença física,
era também a sua voz
(se Deus tivesse voz seria sem dúvida a de Orson Welles).
Essa voz foi responsável por gerar o pânico
num país inteiro quando Welles recriou numa
emissão de rádio histórica, o romance “A Guerra dos Mundos”
de H. G. Wells, simulando um ataque de marcianos
hostis ao planeta Terra.
Houve quem jurasse ter visto as luzes das hipotéticas
naves espaciais e ter ouvido os ruídos distantes
da batalha travada entre terráqueos e extra-terrestres.

Prodígio, génio, visionário, respeitado e
aclamado pelos seus pares, Orson Welles
caminhava alguns passos à frente do seu tempo.
lgjkljgljfklg
John Huston, outro dos grandes cineastas americanos
seu contemporâneo, disse dele: "Tiro-lhe o meu chapéu,
tão bem quanto possa … ele descreveu-me um dia como
um príncipe renascentista – Orson era um Rei.”
FJDKLJFLKLJFD

sábado, 13 de janeiro de 2007

PRESENTE DE ANOS ATRASADO

Porque penso que entendes bem a escuridão e que ela já foi tua amiga e permanece em alguma parte de ti, o meu presente é aquele que até hoje foi o mais belo poema que já li e ainda por cima é de um chileno :)

Escuridão Formosa

" À noite toquei-te e senti-te
sem que a minha mão fugisse para lá de minha mão,
sem que meu corpo fugisse, ou meus ouvidos:
de um modo quase humano
senti-te.

A pulsar,
Não sei se como sangue ou como nuvem
Errante,
Em minha casa, na ponta dos pés, escuridão que sobe,
Escuridão que desce, cintilante, correste.

Correste por minha casa de madeira,
E abriste as janelas,
E senti pulsar a noite toda,
Filha dos abismos, silenciosa,
Guerreira tão terrível e tão bela,
Que tudo quanto existe,
Sem tua chama, não existiria para mim."

Gonzalo Rojas


Espero que gostes :)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XV

Everything's Just Fine
lfkjlfjlfkjlkf
Janela da Sé de Lisboa
klfjlfjlfjlfk
Don't move
Don't talk out of time
Don't think
Don't worry
Everything's just fine
fjfjlkfjljfl
The Edge (Numb)
lfkjlfjlfkjlk
Eu sei que isto já parece de propósito, mas garanto que não é.
Quando ele se sentou à minha frente com aquele sorriso delicioso e um ar absolutamente displicente e livre, fui transportada de repente para a Irlanda dos princípios dos anos 80, quando quatro miúdos se juntavam para formar uma das bandas míticas do século XX.
lfkjlfjlfkjlkf
Porque quem se sentou à minha frente foi The Edge, com 20 anos e ainda sem barba. Tive uma dificuldade enorme em disfarçar, nem queiram saber. Ainda por cima porque se sentou na beira do banco, com os braços apoiados nas pernas ligeiramente abertas, o tronco inclinado para a frente e de vez em quando olhava para mim com aquele sorriso impossível.
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Alguns minutos depois percebi que o sorriso fazia parte dele, como a pele pálida e translúcida, o cabelo negro de azeviche completamente revolto e enternecedor, o nariz pequeno e perfeito (como todos os narizes irlandeses, aliás), as feições moldadas a pincel suave e os olhos castanhos aguarelados de uma doçura espantosa, que tenho a certeza serem daqueles que viajam frequentemente entre o verde, o azul e o castanho, consoante a hora do dia e a luz que os ilumina.
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Era de estatura mediana, trazia um casaco preto daqueles de feicho éclair, fechado até meio do peito, por baixo do qual se vislumbravam pelo menos mais duas camadas de roupa, umas calças de ganga azuis escuras e uns sapatos grandes com atacadores desapertados, de um verde indefinido e gasto. E todo o seu corpo era música, mesmo quieto como estava.
lfkjlfjlfkjlkf
Apenas a sua cabeça girava em todas as direcções, parecendo procurar um qualquer rumo e de vez em quando acostava os olhos em mim, enquanto eu tentava observar-lhe todos os pormenores subrepticiamente, evitando que ele percebesse. Foi difícil, foi como tentar fixar a superfície de um lago inquieto, mas lá consegui. E foi então que uma ideia se me imiscuiu no espírito, quando ele me mostrou o seu sorriso maravilhoso pela terceira ou quarta vez. Cheguei a pensar se não estaria na presença do meu próprio anjo-da-guarda.
lfkjlfjlfkjlkf
Mas claro que esta ideia era completamente estapafúrdia. Se não, reparem - como é que o The Edge de 20 anos podia ser o meu anjo-da-guarda, se o The Edge de 50 ainda vive? Acabei por concluir que ele andava meio perdido porque perguntou a uma senhora se o aeroporto era já ali, uma paragem antes do destino. Tinha sotaque, mas falava um português muito aceitável.
lfkjlfjlfkjlkf
Depois o seu corpo tocou uma canção suave quando se levantou e se aproximou da porta. Saiu, ágil mas desengonçado, e dirigiu-se precisamente na direcção errada enquanto enchia a rua de música. Não resisti e olheio-o uma última vez. Ele estava a sorrir-me e podia jurar que desta vez era só para mim.
lfkjlfjlfkjlkf
E sabem que mais? Até que era bem capaz de ser o meu anjo-da-guarda, porque isso explica muita coisa. Explica, por exemplo, por que motivo eu escolho sempre o lado errado quando não sei onde estou e porque tenho um sentido de orientação de bradar aos céus. Explica porque tenho uma panca enorme pelos U2. Para além de que a minha bisavó Agnes era irlandesa - pormenor importante, creio eu.
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E explica sobretudo por que a minha vida por vezes parece um autêntico filme surrealista. É que ele provavelmente ainda não sabe que é o meu anjo. Ele ainda não sabe sequer que é um anjo. Ele nem sabe onde é o aeroporto! :)
lfkjlfjlfkjlkf
Mas não faz mal. :)
Everything's just fine.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

OS ACTORES DE ANDRÓMEDA - PARTE I


Paul Newman

“To be an actor you have to be a child.”

Paul Newman foi criado por um Deus belo,
talentoso e generoso,
por esta ordem de importância.

Ele é, ainda aos 80 anos, o mais belo exemplar
do sexo masculino que habitou a Terra :)
(vou confessar uma coisa –
é que eu babo-me literalmente a olhar para ele).
Ou talvez sejam os seus maravilhosos olhos azuis
que nos hipnotizem a todos, de forma a não repararmos
nos possíveis defeitos que possa ter
(que tolice! claro que não tem nenhuns).

Quando filmou Gata em Telhado de Zinco Quente
com Elizabeth Taylor, foram, num momento que
felizmente ficou congelado para sempre no tempo do celulóide,
os animais mais belos do mundo juntos
e o filme faz pouco de todos nós, pobres seres imperfeitos e feios.
É um crime juntarem duas pessoas tão belas no mesmo filme
e ainda por cima elas passarem o raio
da história inteira zangadas uma com a outra!

Como se não bastasse, o mais belo homem do mundo
é dono e senhor de uma técnica de representação
tão apurada e precisa como um instrumento virtuoso
e toda a sua carreira é de um brilhantismo impecável,
recheada de uma palavra que lhe assenta como uma luva – classe
(será preciso recordar o irresistível Fast Eddie em A Cor do Dinheiro,
papel que se auto-plagiou pela mão do génio Scorcese?).

Paul Newman consegue ser perfeito e
muitas vezes a única coisa que nos distrai da sua perfeição
é mesmo a sua beleza, que acaba por funcionar
como uma paradoxal maldição.
Ele é tão bonito, que nos esquecemos de reparar
que é também um extraordinário actor.
Recomendo também todos os filmes que realizou,
obras recheadas de bom senso, sensibilidade e
um apurado bom gosto e destaco Algemas de Cristal
(os outros são “Rachel, Rachel” e “O Efeito dos Raios Gama no
Comportamento das Margaridas” – todos com a mulher).

E como se isto ainda não fosse suficiente, oh deuses!,
o homem tem um coração de ouro – há algumas décadas
lançou uma gama de molhos para saladas – Newman’s Own –
que lucra milhões que vão todinhos para associações
de apoio a crianças desfavorecidas.

Para além de tudo isto (prometo que é o golpe final)
tem um dos casamentos mais duradouros de sempre
com a fabulosa Joanne Woodward, outra actriz preciosíssima.

Se isto não é perfeição … sinceramente vou ali e já venho …

Paul, you're simply ... the best :)

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XIV

Lisboa Chovia


Jardim do Campo Pequeno
gkçfkg
Lisboa chovia. A potes. Mas não era só Lisboa que chovia. Ela também.


Só reparei quando a rapariga se aproximou e lhe perguntou se estava na fila para apanhar o autocarro. Depois apoiou a mão no seu braço e perguntou-lhe se estava tudo bem. Ela virou a cara e afastou-se uns milímetros, o suficiente para se resguardar da intromissão. Ficou assim, entre o abrigo perigoso da paragem e o dilúvio libertador, enquanto as lágrimas lhe continuavam a escorrer pelo rosto.

Era um rosto bem vincado, anguloso e moreno, como são todos os rostos índios. O cabelo comprido e já levemente grisalho escorria pelas costas abaixo num rabo de cavalo desgrenhado. Trazia uma gabardine cor de vinho que lhe cobria o corpo até meio das pernas, umas calças cinzentas de flanela que podiam ser de homem e uns sapatos pretos com atacadores, enfiados nuns pés pequenos. Mas ela era grande, alta e forte. E as lágrimas não paravam, não havia maneira de pararem ...

Assoou-se ruidosamente. Estive quase, quase a perguntar-lhe se precisava de ajuda. Mas na eternidade que durou esse quase ... o autocarro chegou e entrámos. Sentou-se lá à frente e continuou a chorar, enquanto observava as lágrimas da cidade que caíam lá fora, sem se importar com nada nem ninguém, nem com a senhora idosa que ia ao seu lado.

Algumas paragens depois a velhota levantou-se e enquanto se preparava para sair murmurou-lhe apenas "Coragem", levantando as sobrancelhas com um ar preocupado mas resignado, de quem já soube vezes demasiadas que chove sempre quando menos esperamos.

Depois foi a vez do senhor, também de idade, que entrou e ia instalar-se mas ficou no meio termo, com o saco pousado no lugar onde era suposto sentar-se, ao seu lado, quando reparou no dilúvio. Observou-a com pudor, sem saber o que fazer. Depois murmurou-lhe também qualquer coisa. Apenas percebi algo como "está a chorar". Mas as lágrimas não pararam e ele afastou-se e saiu.

O dilúvio continuou, lá fora e cá dentro. Ela não saiu no aeroporto, como já calculava. É que ela era bem terrena, entendem? E o aeroporto é aquela história que já conhecem ... E a água na terra ensopa e incha, até transbordar.

Quando saí, o dilúvio continuava. Em Lisboa e dentro do autocarro. E dentro de mim pensei que mesquinhos são por vezes os nossos pequenos problemas existenciais, comparados com os de alguém que não se importa sequer de chover diante de toda a cidade.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

OS ACTORES DE ANDRÓMEDA - PARTE I


Marilyn Monroe

“It's all make believe, isn't it?”

Marilyn Monroe não era apenas a loura burra e boazona
que todos pensam e venho aqui falar em seu abono,
como é justo que se faça.

Marilyn Monroe era uma excelente comediante.
E estava em processo de aprendizagem para se tornar
uma actriz dramática séria, por iniciativa própria,
quando a bebida e os comprimidos ou dois irmãos poderosos
(nunca se saberá a verdade …)
interromperam a sua vida ainda jovem e a tornaram
no maior mito cinematográfico de todos os tempos e culturas.

Havia algo em Marilyn de doce, puro e frágil que fazia
com que a habitual febre invejosa feminina não se manifestasse.
É impossível ter inveja dela, apesar de ser lindíssima,
curvilínea e o sonho de qualquer homem em qualquer
parte do planeta, em alguma altura da sua vida
(normalmente a adolescência).
Porque é impossível não gostar dela.

Marilyn não constitui uma ameaça.
Talvez porque seja consensual. Ou talvez porque a persona
que adoptava para o mundo era tão absolutamente
inverosímil, que não colocamos sequer a hipótese remota
de nos cruzarmos com alguém semelhante.

Penso que o segredo de Marilyn era esse.
E prefiro mil vezes o seu nome de baptismo – Norma Jean Baker –
ao adoptado para o estrelato.
Adoro revê-la bamboleante e espertalhaça em
Os Homens Preferem as Louras ou a fazer-se de parva
e esvoaçante na saída de ar do metro em O Pecado Mora ao Lado.
Ela é sublime em Os Inadaptados, ao lado dos gigantes Clark Gable
e Montgomery Clift e absolutamente irresistível com
o doce urso Robert Mitchum em Rio Sem Regresso.

Susan Strasberg, a filha do fundador do
Actor’s Studio Lee Strasberg, e amiga de Norma Jean,
conta que um dia elas passeavam na rua totalmente incógnitas
quando Norma se volta para ela e lhe diz:
“Queres ver-me fazer ‘dela’?”
E imediatamente assume o andar, a postura e o jeito de Marilyn,
atraindo mesmo de óculos escuros, uma multidão de admiradores.

Portanto, cuidado quando chamarem loura burra a Marilyn.

Ela não era loura e muito menos burra :)
KLDGÇLKFGÇLÇF

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

PALAVRAS EMPRESTADAS 2


Descobri recentemente que aquele que eu considero um dos (se não o) mais belos poemas de amor jamais escritos, foi dedicado a um jovem rapaz.

É que na época do Bardo não havia os pudores tão mesquinhos que nos afligem actualmente.

"Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate.
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair some time declines,
By chance, or nature's changing course, untrimm'd;
But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st:
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee."

William Shakespeare (Soneto nº 18)

domingo, 7 de janeiro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XIII

O Meu Pai Gosta de Pássaros


Gaivota sobrevoando o Castelo de S. Jorge

klhºçlgh
O meu pai gosta de pássaros, pensou ela, enquanto ouvia um pássaro cantar lá fora e se lembrava disso. Não era costume pensar no pai, assim, logo pela manhã, mas nem sequer achou o facto estranho. Também não era costume pensar em escrever um texto sobre o pai, mas pensou nisso, e nem sequer achou o facto estranho.
É que ela nunca teve um relacionamento fácil com ele. E isto já é ser benevolente. Nunca teve nenhum relacionamento, por razões que agora não vêm ao caso e que seriam demasiado entediosas para dissecar (estaríamos aqui até à próxima semana).

Durante o dia esqueceu-se do assunto. À tarde disse em voz alta para si própria, “Porque é que tenho a sensação que tudo vai começar a descambar, a partir de hoje?”, mas estava a pensar numa série de outros assuntos que se estavam a passar na sua vida naquele momento, que nada tinham que ver com o pai.

À hora do jantar o irmão telefonou-lhe e disse-lhe que o pai tinha tido na noite anterior um ligeiro AVC. Nada de grave e ainda por cima estava no hospital de banco, portanto, nas melhores mãos possíveis. Ficara com o braço dormente e com o discurso alterado durante algum tempo.

Ela começa a não suportar esta maldição. Quando era mais nova achava graça quando foi percebendo que adivinhava coisas. Agora tem medo, porque sabe que vai saber sempre, antes, sem saber.

O meu pai gosta de pássaros.

OS ACTORES DE ANDRÓMEDA - PARTE I


Sir Laurence Olivier

“The actor should be able to create the universe
in the palm of his hand.”

Em casa, desde pequena que ouvi falar dele.
Nascida de pai inglês, a minha mãe honrava a cultura britânica
e considerava o nobre Olivier o maior actor de todos os tempos.
Cresci a vê-lo e aprendi a gostar de Shakespeare por causa dele.
Olivier fazia crer que era tudo tão fácil e que o cheiro
das tábuas dos palcos estava ao alcance de qualquer um.
Nos seus lábios as nobres palavras do Bardo brotavam
tão naturalmente, como se sempre tivesse habitado
aquelas eras longínquas e aqueles personagens riquíssimos.

Mais tarde aprendi que havia outros modos de representar,
mais arriscados e surpreendentes (quando vi Brando pela primeira vez
em Há Lodo no Cais, passei o filme todo de boca aberta e
com um sorriso parvo, sem querer acreditar no que ele fazia).
Mas a minha cabeça nunca deixou de se curvar em reverência
perante o eminente Olivier e a sua técnica fabulosa.

Conta-se que um dia, durante as filmagens de uma cena
de O Homem da Maratona, em que o personagem de Olivier
tortura Dustin Hoffman com uma broca de dentista,
Dustin resolveu (fiel à escola do Método)
passar algumas noites sem dormir para que a representação
fosse ainda mais realista. O que acabou por acontecer foi
que exagerou e ia-se constantemente abaixo durante a filmagem.
Olivier disse-lhe apenas: “My dear boy, why don't you try acting?”
Serve a presente história para ilustrar a diferença abismal
que existe entre a rigorosa e técnica escola de representação
britânica shakespeareana, de quem Olivier foi sem dúvida nenhuma
o expoente máximo e consensual, e a famosa escola americana do Método,
de quem Hoffman é um dos mais talentosos pupilos.

Costumo dizer que com Shakespeare um actor é preparado
para ser capaz de tudo porque esta escola oferece uma técnica
absolutamente rigorosa e a panóplia mais completa das emoções humanas
e que o Método só é adequado aos mais corajosos
porque trabalha a parte emocional mais profunda do actor.

Unanimemente considerado o maior actor de teatro de todos os tempos,
Sir Laurence Olivier só encontrou contraponto cinematográfico
em Marlon Brando. E, por isso, perco-me por vezes a imaginar
como teria sido o encontro destes dois gigantes – o fabuloso mentiroso
e o genial acrobata, que maravilhas teriam sido capazes de criar em conjunto?
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"To be or not to be - that is the question;
Wether 'tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune,
Or to take arms against a sea of troubles,
And by opposing end them? To die, to sleep
No more; and by a sleep to say we end
The heart-ache and the thousand natural shocks
That flesh is heir to. 'Tis a consummation
Devoutly to be wish'd. To die, to sleep;
To sleep, perchance to dream. Ay, there's the rub;
For in that sleep of death what dreams may come,
When we have shuffled off this mortal coil,
Must give us pause."
fjglfjglfdkj
Sleep in peace, noble Olivier, for your life has been truly worthy.
DJFKLDJFLJ

sábado, 6 de janeiro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XII

O Desbotoamento de Lisboa

Ponte 25 de Abril - Tejo

ºKDFÇLDKÇKDÇKL
Amanhece em mim. Olho e olho-me.
E nesse puro instante de limpidez páro.
Respiro, mas não dou conta que respiro.
Suspendo-me e o tempo suspende-se comigo.

Deixo-me ficar, num esmagamento pateta e quase contente.

Mais um dia sem sentido na procura de ti.
Renascer de novo para poder dizer a palavra que falta,
a única que me redimirá de tudo o que foi reinventado.
O berço.
O tubo de ensaio onde colocarei a cor que me viu nascer.
E todos os cambiantes dela gotejam numa lenta agonia
sobre os telhados cansados da velha cidade.
Quando volto o olhar já tudo desapareceu, perco mais um dia.
Há sempre qualquer coisa que me impede
de assistir ao espectáculo todo.

ºKDFÇLDKÇKDÇKL
E o que fica é só Lisboa talhada a tijolo e suja,
enquanto lá ao longe no mar de prata
os cargueiros nascem parados para sempre num postal.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

PSICANÁLISE VI


Charlie, ajuda-me.
A minha vida transformou-se ultimamente num filme surrealista, sem pés nem cabeça. Não necessariamente mau, mas ainda assim estranho.
Porque é que quando decidimos ficar encolhidos num canto, quietos e sem fazer asneiras, a vida nos puxa com mais força para fora e parece abanar-nos as coordenadas todas de rompante?
Porquê, Charlie?
klfdjlfjlkfj
Eu sei que tu não és a pessoa mais indicada para me aconselhar. Até porque não és uma pessoa, mas um boneco animado. Mas tu entendes-me, Charlie. Eu sei que sim. És um idílico inveterado, como eu. Mas também prático e persistente, como eu.
klfdjlfjlkfj
Desde há uns tempos que tenho cada vez mais a sensação que sou uma experiência científica. Cada um de nós tem, não um Deus, mas um cientista responsável pela nossa vida. O objectivo é cuidar dela e fazê-la durar o mais possível e o mais sabiamente possível, apesar de todas as provas que lhe são colocadas.
A mim, como não podia deixar de ser, calhou-me um pobre novato idiota, com uma imaginação desgraçada e completamente trapalhão. Charlie, ele arranja-me cada uma!
klfdjlfjlkfj
No início "olhava" para ele maravilhada e interessada. Fazia-me bem ao ego pensar que havia alguém algures que estava a ser testemunha da minha vida (não é também para isso que serve a religião?). Depois comecei a desconfiar seriamente da sua sanidade mental. Já me zanguei e indignei com ele a sério. Já lhe chamei os piores nomes e mandei-o passear e arranjar outro rato de laboratório. Mas já percebi que isso é impossível.
klfdjlfjlkfj
I'm stuck with him, Charlie. For better and for worse. In sickness and in health. In richness and in poverty. Until death takes me away.
klfdjlfjlkfj
Ultimamente, o tipo tem-se superado à larga. Já conseguiu pôr-me a berrar sozinha pró tecto "Só te ris de mim um dia no máximo! Mais do que isso, não!"
klfdjlfjlkfj
Charlie, tu sabes do que falo. Foste criado por um tipo americano chamado Charles Schulz que provavelmente te fez à sua imagem e estás condenado a dizer, pensar e fazer aquilo que ele muito bem entender.
klfdjlfjlkfj
Este gajo é doido varrido e começo a temer seriamente pela minha integridade. O que é que ele pretende? Eu sei, Charlie, sei que é pôr-me à prova, fazer-me passar por uma data de testes e brilhar numa qualquer reunião intergaláctica de cientistas tão ou mais loucos que ele. E devo acrescentar em meu abono que o tipo devia estar orgulhoso de mim, porque tenho aguentado com estoicismo e ainda não enlouqueci clinicamente.
klfdjlfjlkfj
Charlie, não sei o que hei-de fazer. Eu sou forte, mas às vezes não é uma questão de força. E porque é que só quando deixamos de acreditar nas coisas é que elas aparecem de repente, como se tivessem estado desde sempre escondidas atrás da porta à espera que deixássemos de as procurar?
klfdjlfjlkfj
E o que é que se faz quando se passou uma vida inteira a escutar até o som do silêncio, mas quando um anjo nos sussurra ao ouvido, já aprendemos a falar tão alto para que nos conseguíssemos fazer ouvir, que não o distinguimos dos ruídos de fundo que nos cercam?
klfdjlfjlkfj
Enfim, Charlie. Eu sei que tu compreendes estas minhas dúvidas existenciais. E sei que sabes que, apesar de todas as incongruências da vida, estou feliz. Como tu. Nos últimos tempos tenho-me sentido feliz por nenhuma razão, por nada que me tivesse acontecido, porque estava quieta no meu canto. E isso acho que é o mais importante.
klfdjlfjlkfj

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

OS ACTORES DE ANDRÓMEDA - PARTE I


Katharine Hepburn
-lfkm-çkllfk
“Everyone thought I was bold and fearless and even arrogant,
but inside I was always quaking.”

Katharine Hepburn foi a actriz mais oscarizada
e até há poucos anos também a mais nomeada de sempre
pela Academia (entretanto Meryl Streep já a ultrapassou).
Foi também a estrela mais sui generis de sempre,
com o seu ar de maria-rapaz e as suas ideias vanguardistas
(há pouco tempo foi editada uma biografia que afirma ter sido
lésbica e que o suposto mítico romance com Spencer Tracy
não passava de uma fantochada porque ele também era homossexual).

Coscuvilhices à parte, Katharine Hepburn foi um dos maiores
e mais consensuais monstros da Sétima Arte,
capaz das mais deliciosas, extravagantes ou dramáticas
transformações, escolhendo os papéis que interpretava
com olho de lince e oferecendo-nos sempre
heroínas inteligentes, maduras e íntegras.

Ela foi um exemplo de força e poder,
numa época em que a maioria das actrizes não faziam
mais do que decorar o argumento representando
louras bombásticas, morenas fatais ou ruivas divertidas.

Desde cedo ficou marcada como um ícone do feminismo
numa arte que, paradoxalmente às histórias de que
se serve como porta-estandarte, continuou até
muito recentemente a ser um pote de conservadorismo
sobretudo no que toca ao protagonismo das suas estrelas femininas.

Com uma personalidade de ferro, Katharine Hepburn
conseguiu impor-se como a rainha de todas as estrelas,
mantendo-se sempre fiel a si própria.
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So, long live the queen, in our hearts and our memories.
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terça-feira, 2 de janeiro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XI

O Velho Mar
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Torre S. Gabriel - Parque das Nações
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Hoje aconteceu uma coisa extraordinária. Ernest Hemingway entrou no autocarro. Curiosamente também na paragem do aeroporto, como o anjo. Começo a pensar que o aeroporto talvez seja um portal entre dimensões. Mas isso é outra história.
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Tinha o cabelo todo branco, uma barba magnífica, que lhe chegava ao princípio do peito, a pele do rosto tisnada pelo sol e uns intensos olhos azuis, daqueles que começaram por ser castanhos mas que acabaram da cor do mar que tanto contemplaram. Não era muito alto, nem muito forte e vinha vestido com um corta-vento azul escuro curto, umas calças de ganga deslavadas e uns ténis castanhos.
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Seria o velho pescador? Talvez fosse de facto o velho pescador, porque trazia um envelope grande na mão e saiu perto do hospital. Deviam ser as análises. É que o velho pescador sofre de cancro, sabem? Mas autor e personagem costumam confundir-se, por vezes.
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Sim, tenho a certeza que era o velho pescador de O Velho e o Mar. É que ele existe mesmo, sabiam? A partir do momento em que Hemingway começou a transportá-lo lenta e cuidadosamente, com um amor imenso do tamanho do mar, da sua cabeça para o papel, o velho abandonou definitivamente as ondas da imaginação e materializou-se aqui.
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A única maçada é que sofrerá eternamente de cancro e está condenado a carregar nas mãos pequenas (tinha mãos pequenas) e enrugadas envelopes com análises para o resto da vida. Mas também não se pode ter tudo ... Já foi uma sorte ter sido criado por Ernest Hemingway.
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Estava cansado, o velho pescador. Bem vi que ainda era um homem rijo e que o mar ainda ruge intensamente nos seus olhos, mas havia um leve desequilíbrio em todo o seu corpo, apenas perceptível a um olhar mais atento. Ou talvez fosse apenas o efeito natural de quem não está muito habituado a pisar terra firme.
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Queria muito ter-lhe tirado uma fotografia mas, enfim, o que teria ele pensado de mim se o tivesse abordado dizendo-lhe que me fazia lembrar muito um dos personagens mais extraordinários jamais escritos por alguém?
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Só gostava que o tivessem visto ... era o mar, se o mar fosse uma pessoa.
Conseguem imaginar? ...

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

PSICANÁLISE V

O Primeiro Dia do Resto dos Nossos Anos
Gostaria de deixar um sorriso a todos,
nestes dia que é igual a tantos outros mas que
por ser o primeiro, passa a ser especial.
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E quem melhor do que os meus amigos Peanuts?
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Que este ano seja tão imaginativo quanto o Snoopy
Tão persistente quanto o Charlie Brown
Tão lesto quanto o Woodstock
Tão filosófico quanto o Linus
Tão seguro quanto a Lucy
Tão sonhador quanto Sally
Tão talentoso quanto Schroeder
Tão autêntico quanto Peppermint Patty
Tão generoso quanto Marcy
Tão despreocupado quanto Pigpen