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Janela da Sé de Lisboa
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Don't move
Don't talk out of time
Don't think
Don't worry
Everything's just fine
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The Edge (Numb)
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Eu sei que isto já parece de propósito, mas garanto que não é.
Quando ele se sentou à minha frente com aquele sorriso delicioso e um ar absolutamente displicente e livre, fui transportada de repente para a Irlanda dos princípios dos anos 80, quando quatro miúdos se juntavam para formar uma das bandas míticas do século XX.
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Porque quem se sentou à minha frente foi The Edge, com 20 anos e ainda sem barba. Tive uma dificuldade enorme em disfarçar, nem queiram saber. Ainda por cima porque se sentou na beira do banco, com os braços apoiados nas pernas ligeiramente abertas, o tronco inclinado para a frente e de vez em quando olhava para mim com aquele sorriso impossível.
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Alguns minutos depois percebi que o sorriso fazia parte dele, como a pele pálida e translúcida, o cabelo negro de azeviche completamente revolto e enternecedor, o nariz pequeno e perfeito (como todos os narizes irlandeses, aliás), as feições moldadas a pincel suave e os olhos castanhos aguarelados de uma doçura espantosa, que tenho a certeza serem daqueles que viajam frequentemente entre o verde, o azul e o castanho, consoante a hora do dia e a luz que os ilumina.
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Era de estatura mediana, trazia um casaco preto daqueles de feicho éclair, fechado até meio do peito, por baixo do qual se vislumbravam pelo menos mais duas camadas de roupa, umas calças de ganga azuis escuras e uns sapatos grandes com atacadores desapertados, de um verde indefinido e gasto. E todo o seu corpo era música, mesmo quieto como estava.
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Apenas a sua cabeça girava em todas as direcções, parecendo procurar um qualquer rumo e de vez em quando acostava os olhos em mim, enquanto eu tentava observar-lhe todos os pormenores subrepticiamente, evitando que ele percebesse. Foi difícil, foi como tentar fixar a superfície de um lago inquieto, mas lá consegui. E foi então que uma ideia se me imiscuiu no espírito, quando ele me mostrou o seu sorriso maravilhoso pela terceira ou quarta vez. Cheguei a pensar se não estaria na presença do meu próprio anjo-da-guarda.
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Mas claro que esta ideia era completamente estapafúrdia. Se não, reparem - como é que o The Edge de 20 anos podia ser o meu anjo-da-guarda, se o The Edge de 50 ainda vive? Acabei por concluir que ele andava meio perdido porque perguntou a uma senhora se o aeroporto era já ali, uma paragem antes do destino. Tinha sotaque, mas falava um português muito aceitável.
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Depois o seu corpo tocou uma canção suave quando se levantou e se aproximou da porta. Saiu, ágil mas desengonçado, e dirigiu-se precisamente na direcção errada enquanto enchia a rua de música. Não resisti e olheio-o uma última vez. Ele estava a sorrir-me e podia jurar que desta vez era só para mim.
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E sabem que mais? Até que era bem capaz de ser o meu anjo-da-guarda, porque isso explica muita coisa. Explica, por exemplo, por que motivo eu escolho sempre o lado errado quando não sei onde estou e porque tenho um sentido de orientação de bradar aos céus. Explica porque tenho uma panca enorme pelos U2. Para além de que a minha bisavó Agnes era irlandesa - pormenor importante, creio eu.
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E explica sobretudo por que a minha vida por vezes parece um autêntico filme surrealista. É que ele provavelmente ainda não sabe que é o meu anjo. Ele ainda não sabe sequer que é um anjo. Ele nem sabe onde é o aeroporto! :)
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Mas não faz mal. :)
Everything's just fine.
1 comentário:
Apenas espero que o seu estado pontual de desorientação nada tenha a ver com o também famoso Whiskey :)
É hospedeira da TAP? :)
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