quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

OS ACTORES DE ANDRÓMEDA - PARTE I


Richard Burton

“You may be as vicious about me as you please.
You will only do me justice.”

Poucas palavras conseguirão descrever o gigante
que Richard Burton era.
Portentoso será talvez uma boa escolha.
Porque ele não nos entrava simplesmente
na sala de cinema ou em casa.
Ele rasgava o écran como um touro enraivecido
e sugava-nos tudo até ao tutano, até ficarmos sem fôlego,
com o coração a cavalgar desenfreadamente.

Para mim, Richard Burton sempre foi o contraponto
inglês de Marlon Brando, mais do que o nobre Olivier.
Havia uma urgência incontrolável, uma sensibilidade
que quase doía olhar, em tudo o que fazia,
no arrasoado de palavras que se soltavam dos seus lábios
como uma torrente imparável e destemida, que prendiam
qualquer um ao lugar, sem defesas.

Dizia ele que tinha tido apenas sorte.
Que conhecia outros 50 actores galeses tão bons ou melhores ainda,
com um físico, uma presença e uma voz similares,
mas que por um mero acaso da sorte lhe tinha calhado a si
a oportunidade de mostrar ao mundo o seu talento.
Talvez tivesse razão. E se assim foi, sorte a nossa.
Mas duvido que tivesse razão :)

Elizabeth Taylor não lhe resistiu por duas vezes.
O que proporcionou ao mundo um romance real
magnífico entre duas feras soberbas,
que se digladiavam constantemente – tudo começou
no megalómano Cleópatra, com ele a fazer
de Marco António de cabeça perdida pela imperatriz.
Em Quem Tem Medo de Virginia Woolf os dois
atingiram um nível de representação de tal ordem,
que sempre me interroguei sobre de que forma
é que conseguiriam desembaraçar-se dos respectivos
personagens quando chegavam a casa, ou se aqueles
eram uma extensão das suas próprias personalidades.

Laurence Olivier disse que um actor deveria ser capaz
de criar um universo na palma da sua mão.
Eu diria que Richard Burton o conseguia fazer
apenas através da dolorosa intensidade do seu olhar
ou com a profundidade e poder da sua voz, outra que ficará
marcada para sempre nos ouvidos de quem foi seu espectador.

No, I can´t be vicious about you, Richard …

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