sábado, 20 de janeiro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XVII

A Queda
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Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian
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Sentado lá atrás, Takeda (vamos chamar-lhe Takeda – gosto da sonoridade e o nome tem conotações implicitamente relacionadas com o desenrolar da história) ponderava sobre o que tinha dentro do saco de supermercado.

Nada no seu semblante carregado faria adivinhar as revoluções catastróficas que explodiam no interior da sua alma, como cartuchos ateados de um intenso fogo-de-artifício.

Mas Takeda estava prestes a fazer algo que ninguém esperaria jamais. E depois … bem, depois nada seria jamais como até hoje.

Takeda bem sabia que uma vez dentro, não se pode sair. Mas ninguém o conhecia. Achavam que sim. Achavam que lhe liam os olhos cerrados e papudos de sapo, ligeiramente rasgados e passivos, tão claramente como um espelho. Mas o problema era exactamente esse. Para lá do espelho, ninguém penetrava e o que o espelho devolvia era sempre uma paz de espírito aparente.

Porque, pensou Takeda, berrando lá dentro de si com toda a força: “É bom que tenham cuidado comigo!” Com ele e com o que estava dentro do saco de supermercado.

Imóvel, sentado lá atrás, enfiado no seu kispo azul céu, nas suas calças de bombazina castanhas e nos seus sapatos abotifados impecavelmente engrachados, Takeda era a personificação da estátua mais serena do Buda. A única diferença é que ainda tinha todo o seu cabelo preto, fino e curto, no devido lugar.

Quando saiu observou atentamente o pessoal do Departamento de Jardinagem da Câmara, espalhado pelo relvado à sua direita, atarefados a varrerem folhas estaladiças e a arrancarem ervas daninhas. Do outro lado um rapaz novo empurrava um carro do lixo. Ficou a observá-lo, enquanto se dirigia para o fim do carreiro e desaparecia na esquina.

Era preciso ter cuidado com a própria sombra.

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