sábado, 6 de janeiro de 2007

MURMÚRIOS DE LISBOA XII

O Desbotoamento de Lisboa

Ponte 25 de Abril - Tejo

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Amanhece em mim. Olho e olho-me.
E nesse puro instante de limpidez páro.
Respiro, mas não dou conta que respiro.
Suspendo-me e o tempo suspende-se comigo.

Deixo-me ficar, num esmagamento pateta e quase contente.

Mais um dia sem sentido na procura de ti.
Renascer de novo para poder dizer a palavra que falta,
a única que me redimirá de tudo o que foi reinventado.
O berço.
O tubo de ensaio onde colocarei a cor que me viu nascer.
E todos os cambiantes dela gotejam numa lenta agonia
sobre os telhados cansados da velha cidade.
Quando volto o olhar já tudo desapareceu, perco mais um dia.
Há sempre qualquer coisa que me impede
de assistir ao espectáculo todo.

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E o que fica é só Lisboa talhada a tijolo e suja,
enquanto lá ao longe no mar de prata
os cargueiros nascem parados para sempre num postal.

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