Capítulo 6. AND ON MY LEANING SHOULDER SHE LAID HER SNOW-WHITE HAND
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A sua singeleza continuava a provocar-lhe um sentimento de desprezo. Emily fazia parte do lado fraco da vida, dos noventa e oito por cento da humanidade que se limitavam a arrastar-se todos os dias, tentando sobreviver com um sorriso nos lábios ao entediante e patético desenrolar das suas vidinhas desprovidas de significado.
Apesar disso, conseguia achar-lhe graça. Por baixo de uma aparente apatia, a voz dela fora-lhe revelando a sua alma como uma cebola cheia de camadas cada vez mais surpreendentes. Ela nem se apercebia disto, claro. Estava demasiado embrenhada nos seus medos mesquinhos para notar que, à medida que a sua voz se desenvolvia, também toda a sua força interior vinha lentamente ao de cima.
Apesar disso, conseguia achar-lhe graça. Por baixo de uma aparente apatia, a voz dela fora-lhe revelando a sua alma como uma cebola cheia de camadas cada vez mais surpreendentes. Ela nem se apercebia disto, claro. Estava demasiado embrenhada nos seus medos mesquinhos para notar que, à medida que a sua voz se desenvolvia, também toda a sua força interior vinha lentamente ao de cima.
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Uma noite sonhou de novo com a voz que o perseguia. Acordou mais uma vez alagado em suor e com o tronco já fora do colchão, na iminência de arrastar o resto do corpo numa queda vertiginosa para o chão. Os braços voaram pelo ar, tentando agarrar o espaldar da cama. Só percebeu que gritara quando ouviu Clara abrir a porta. Mas antes que ela tivesse tido tempo de se aproximar, já ele conseguira erguer-se para cima do colchão.
Soltou uma gargalhada.
"Não te preocupes, querida Clara. Ainda não foi desta que consegui partir o pescoço. Mas amanhã é outra noite."
Como de costume, Clara saiu sem dizer palavra. E então lembrou-se. A voz do sonho era a de Clara, uma voz com rosto mas sem corpo, uma voz angustiante que o perseguia pelos corredores da casa soltando um grito revoltado que o fez, mesmo então e acordado, tapar os ouvidos. E no fim da casa estava Emily de braços abertos, sorrindo e murmurando uma ladainha suave, como se o quisesse chamar. E ele corria para os seus braços, mas não conseguia alcançá-la.
"Que patético …"
Teve vontade de chamar Clara de volta e perguntar-lhe porque era tão fria.
"Frígida. Deves ser frígida, querida Clara."
E chorou, baixinho. Chorou de raiva porque queria enfiar um balázio na cabeça. Mas também chorou de impotência porque a vontade de morrer, aquela certeza absoluta de que queria acabar com tudo, se fora desvanecendo aos poucos e ele já não sabia se teria coragem para o fazer.
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"Mal isto conteceu, sentiu, pela primeira vez naquela manhã, um bem estar físico; as patinhas encontravam um apoio firme e, como constatou com alegria, obedeciam-lhe completamente; esforçavam-se mesmo por levá-lo aonde quisesse; e já acreditava que estava iminente a melhoria definitiva de todo o seu sofrimento. Mas, no preciso momento em que, balançando num movimento suspenso, não muito afastado da sua mãe, se viu frente a frente com ela, no chão, esta, que parecia ter ficado mergulhada em si mesma, pôs-se de pé num salto, os braços completamente esticados, os dedos abertos, e gritou:" (32)
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"Emily …"
"Quer parar por hoje?"
“Quero. Você percebe o que está a ler?”
“Como?...”, não estava certa de ter percebido a interrogação.
“Se percebe o que está a ler? Se está a tomar atenção ao que está a ler, ou se se limita a debitar texto?”
Ficou sem saber o que responder porque, mais uma vez, ele acertara em cheio.
“Eu …”
“Emily … Já fez enormes progressos desde que cá está, mas ainda lhe falta uma etapa muito importante.”
Manteve-se silenciosa. Não sabia o que havia de responder, porque ele a apanhara de surpresa.
“Lembra-se do primeiro livro que eu lhe pedi para ler?”
Como é que se podia esquecer? …
“Sim …”, será que ele iria pedir-lhe para ler aquela monstruosidade outra vez?
“Por acaso teve curiosidade em saber que raio de livro é aquele?”
Não … E subitamente percebeu onde ele queria chegar. Como um professor paternalista e atento, John estava a passar-lhe um atestado embaraçoso de preguiça mental.
“Não …”
Soltou uma gargalhada.
"Não te preocupes, querida Clara. Ainda não foi desta que consegui partir o pescoço. Mas amanhã é outra noite."
Como de costume, Clara saiu sem dizer palavra. E então lembrou-se. A voz do sonho era a de Clara, uma voz com rosto mas sem corpo, uma voz angustiante que o perseguia pelos corredores da casa soltando um grito revoltado que o fez, mesmo então e acordado, tapar os ouvidos. E no fim da casa estava Emily de braços abertos, sorrindo e murmurando uma ladainha suave, como se o quisesse chamar. E ele corria para os seus braços, mas não conseguia alcançá-la.
"Que patético …"
Teve vontade de chamar Clara de volta e perguntar-lhe porque era tão fria.
"Frígida. Deves ser frígida, querida Clara."
E chorou, baixinho. Chorou de raiva porque queria enfiar um balázio na cabeça. Mas também chorou de impotência porque a vontade de morrer, aquela certeza absoluta de que queria acabar com tudo, se fora desvanecendo aos poucos e ele já não sabia se teria coragem para o fazer.
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"Mal isto conteceu, sentiu, pela primeira vez naquela manhã, um bem estar físico; as patinhas encontravam um apoio firme e, como constatou com alegria, obedeciam-lhe completamente; esforçavam-se mesmo por levá-lo aonde quisesse; e já acreditava que estava iminente a melhoria definitiva de todo o seu sofrimento. Mas, no preciso momento em que, balançando num movimento suspenso, não muito afastado da sua mãe, se viu frente a frente com ela, no chão, esta, que parecia ter ficado mergulhada em si mesma, pôs-se de pé num salto, os braços completamente esticados, os dedos abertos, e gritou:" (32)
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"Emily …"
"Quer parar por hoje?"
“Quero. Você percebe o que está a ler?”
“Como?...”, não estava certa de ter percebido a interrogação.
“Se percebe o que está a ler? Se está a tomar atenção ao que está a ler, ou se se limita a debitar texto?”
Ficou sem saber o que responder porque, mais uma vez, ele acertara em cheio.
“Eu …”
“Emily … Já fez enormes progressos desde que cá está, mas ainda lhe falta uma etapa muito importante.”
Manteve-se silenciosa. Não sabia o que havia de responder, porque ele a apanhara de surpresa.
“Lembra-se do primeiro livro que eu lhe pedi para ler?”
Como é que se podia esquecer? …
“Sim …”, será que ele iria pedir-lhe para ler aquela monstruosidade outra vez?
“Por acaso teve curiosidade em saber que raio de livro é aquele?”
Não … E subitamente percebeu onde ele queria chegar. Como um professor paternalista e atento, John estava a passar-lhe um atestado embaraçoso de preguiça mental.
“Não …”
“E não tem curiosidade em saber? Eu sei que foi uma tortura, mas os medos existem precisamente quando o seu objecto nos é desconhecido. Alguma vez reflectiu sobre este aspecto da vida?”
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(32) A Metamorfose - Franz Kafka
2 comentários:
- OK teleseguro fala a Marta?
- Marta!
- É só para lhe dizer para quando largar os seguros, tenha sempre cuidado consigo e nunca corra riscos desnecessários. ok?
- Obrigado Marta. Gosto do seu pelo e dos seus brilhos. Sabe Marta é que também sou um bicho muito muito curioso .)
- Ups!!! Era no de baixo.
- Desculpe Marta também sou muito distraido :)
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