terça-feira, 30 de setembro de 2008

A Fantástica Fauna de Andrómeda

Anjo
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De acordo com a tradição judaico-cristã, os anjos são criaturas celestiais, superiores aos homens e mensageiros de Deus. São habitualmente representados com asas de pássaro e uma auréola luminosa, belos, delicados e irradiando um intenso brilho, por serem constituídos de energia. Têm também como função ajudar a humanidade no seu processo evolutivo.
A palavra anjo deriva do latim "angelu" e do grego "ángelos" que significa "mensageiro".
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Na tradição católica são citados apenas 3 Arcanjos na Bíblia: São Miguel (Quem como Deus), São Rafael (Deus Cura) e São Gabriel, o único anjo que é normalmente associado ao feminino, uma vez que as suas aparições estão sempre relacionadas com o nascimento. De resto, há algumas outras menções a anjos em geral:
--> 3 Anjos aparecem a Abraão
--> Isaías fala de Serafins
--> um anjo acompanha Tobias
--> A Virgem Maria recebe a visita angélica da anunciação do futuro nascimento de Cristo
--> o próprio Jesus refere-se a eles em diversos momentos, como quando sofreu a tentação no deserto e na cena do horto das oliveiras, quando um anjo lhe oferece o cálice da Paixão
--> São Paulo faz uma alusão a cinco ordens de anjos
Todos os outros anjos são considerados invenções do povo. Os anjos não possuem a capacidade de prever o futuro mas, como possuem uma inteligência muito superior à dos humanos, podem prever eventos físicos, visto que conhecem todas as regras físicas, como gravidade, densidade, velocidade, etc.
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No Cristianismo os anjos foram classificados em coros ou hierarquias angelicais, sendo a mais influente destas a estabelecida pelo Pseudo-Dionísio, o Aeropagita, entre os séculos IV e V, no seu livro De Coelesti Hierarchia. Muitos outros estudiosos ou teólogos se basearam nesta classificação e a mais utilizada até aos dias de hoje foi a proposta por S. Tomás de Aquino, que divide os anjos em 9 coros, agrupados em 3 tríades:
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Primeira Tríade
Os anjos mais próximos de Deus, que desempenham as suas funções diante do Pai.
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1. Serafins
O nome deriva do hebreu saraf (שרף), e do grego, séraph, que significam "abrasar, queimar, consumir". Também foram chamados de ardentes ou de serpentes de fogo.
É a ordem mais elevada da esfera mais alta. São os anjos mais próximos de Deus e emanam a essência divina no grau mais elevado. Assistem diante do Trono de Deus. Mantêm a ordem do cosmos e são descritos em Isaías como cantando perpetuamente o louvor de Deus e possuindo seis asas.
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2. Querubins
Do hebreu כרוב - keruv, ou do plural כרובים - keruvim, os querubins são seres misteriosos, descritos tanto no Cristianismo como em tradições mais antigas às vezes mostrando formas híbridas de homem e animal. Os povos da Mesopotâmia tinham o nome "karabu" para denominar seres fantásticos com forma de touro alado de face humana, e a palavra significa em algumas daquelas línguas "poderoso", noutras "abençoado".
No Génesis aparece um querubim como guardião do Jardim do Éden, expulsando Adão e Eva após o pecado original. Ezequiel descreve-os como guardiãos do trono de Deus e diz que o rufar de suas asas enchia todo o templo da divindade e assemelhava-se ao som de uma multidão de vozes humanas; a cada um estava ligada uma roda, e moviam-se em todas as direcções sem se voltar, pois possuíam quatro faces: leão, touro, águia e homem, e eram inteiramente cobertos de olhos, significando a sua omnisciência. Mas as imagens querubins que Moisés colocou sobre a Arca da Aliança tinham forma humana, embora com asas.
A partir do Renascimento passaram a ser representados muitas vezes como crianças pequenas dotadas de asas, chamados putti (meninos) em italiano.
Têm o poder de conhecer e contemplar a Deus, e serem receptivos ao mais alto dom da luz e da verdade, à beleza e à sabedoria divinas na sua primeira manifestação. Estão cheio do amor divino e derramam-no sobre os níveis abaixo deles.
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3. Tronos
Derivado do grego thronos, que significa "anciãos". São chamados também de erelins ou ofanins, ou algumas vezes de Sedes Dei (Trono de Deus), e são identificados com os 24 anciãos que perpetuamente se prostram diante de Deus e a Seus pés lançam as suas coroas. São os símbolos da autoridade divina e da humildade, e da perfeita pureza, livre de qualquer contaminação.
Tradições esotéricas cristãs identificam-nos com os Senhores da Chama da Teosofia ou os Elohim na escola Rosacruz, elevados espíritos que trabalham para o desenvolvimento e iluminação da mente humana, agindo como guardiães da humanidade.
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Segunda Ordem
Composta pelos Príncipes da Corte celestial, que operam junto dos governos gerais do universo.
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4. Dominações
As Dominações ou Domínios (do latim dominationes) têm a função de regular as actividades dos anjos inferiores, distribuem aos outros anjos as funções e presidem aos destinos das nações. Crê-se que as Dominações possuam uma forma humana alada de beleza inefável, e são descritos transportando orbes de luz e ceptros indicativos de seu poder de governo. A sua liderança também é afirmada na tradução do termo grego kuriotes, que significa "senhor", aplicado a esta classe de seres.
São anjos que auxiliam nas emergências ou conflitos que devem ser resolvidos de imediato. Também actuam como elementos de integração entre os mundos materiais e espirituais, embora raramente entrem em contato com as pessoas.
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5. Virtudes
As Virtudes são os responsáveis pela manutenção do curso dos astros para que a ordem do universo seja preservada. O seu nome está associado ao grego dunamis, significando "poder" ou "força", e traduzido como "virtudes" em Efésios 1:21, e os seus atributos são a pureza e a fortaleza. Orientam as pessoas sobre a sua missão. São encarregados de eliminar os obstáculos que se opões ao cumprimento das ordens de Deus, afastando os anjos maus que assediam as nações para desviá-las do seu fim, e mantendo assim as criaturas e a ordem da Divina providência. Eles são particularmente importantes porque têm a capacidade de transmitir grande quantidade de energia divina. Imersas na força de Deus, as Virtudes derramam bênçãos do alto, frequentemente na forma de milagres. São sempre associados com os heróis e aqueles que lutam em nome de Deus e da verdade. São chamados quando se necessita de coragem.
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6. Potestades
As Potestades ou Potências são também chamados de "condutores da ordem sagrada". Executam as grandes acções que tocam no governo universal. Eles são os portadores da consciência de toda a humanidade, os encarregados da sua história e da sua memória coletiva, estando relacionados com o pensamento superior - ideais, ética, religião e filosofia, além da política no seu sentido abstracto.
Também são descritos como anjos guerreiros completamente fiéis a Deus. Têm a capacidade de absorver, armazenar e transmitir o poder do plano divino.
Os anjos do nascimento e da morte pertencem a esta categoria. São também os guardiães dos animais. çlkçfl
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Terceira Ordem
Composta pelos anjos ministrantes, que são encarregues dos caminhos das nações e dos homens e estão mais intimamente ligados ao mundo material.
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7. Principados
Os Principados, do latim principatus, são os anjos encarregues de receber as ordens das Dominações e Potestades e transmiti-las aos reinos inferiores, e a sua posição é representada simbolicamente pela coroa e ceptro que usam. Guardam as cidades e os países. Protegem também a fauna e a flora. Como o seu nome indica, estão revestidos de uma autoridade especial: são os que presidem os reinos, as províncias, e as dioceses, e velam pelo cultivo de sementes boas no campo das ideologias, da arte e da ciência.
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8. Arcanjos
O nome de arcanjo vem do grego αρχάγγελος, arkangélos, que significa "anjo principal" ou "chefe", pela combinação de archō, o primeiro ou principal governante, e άγγελος, aggělǒs, que quer dizer "mensageiro". Este título é mencionado no Novo Testamento por duas vezes e a esta ordem pertencem os únicos anjos cujos nomes são conhecidos através da Bíblia: Miguel, Rafael e Gabriel. Miguel é especificamente citado como "O" arcanjo, ao passo que, embora se presuma pela tradição que Gabriel também seja um arcanjo, não há referências sólidas a respeito. Rafael descreve-se a si mesmo como um dos sete que estão diante do Senhor, classe de seres mencionada também no Apocalipse.
Considerado canónico somente pela Igreja Ortodoxa da Etiópia (a Igreja Católica considera-o um texto apócrifo), o Livro de Enoch fala de mais quatro arcanjos, Uriel, Ituriel, Amitiel e Baliel, responsáveis pela vigilância universal durante o perído dos Nefilim, os "anjos caídos". Contudo em fontes apócrifas estes são por vezes ditos como querubins.
O seu carácter de mensageiros, ou intermediários, é assinalada pelo seu papel de elo de ligação entre os Principados e os Anjos, interpretando e iluminando as ordens superiores para os seus subordinados, além de inspirarem misticamente as mentes e corações humanos para a execução de actos de acordo com a vontade divina. Actuam assim como arautos dos desígnios divinos, tanto para os Anjos como para os homens.
A cultura popular faz deles protectores dos bons relacionamentos, da sabedoria e dos estudos, e guerreiros contra as acções do Maligno.
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9. Anjos
Os anjos são seres angélicos mais próximos do reino humano, o último degrau da hierarquia angélica. São figuras importantes em muitas outras tradições religiosas do passado e do presente, e o nome de "anjo" é dado amiúde indistintamente a todas as classes de seres celestes. Os muçulmanos, zoroastrianos, hindus e budistas aceitam como facto a sua existência, sob variados nomes, mas com descrições e atributos semelhantes.
A tradição hebraica, de onde nasceu a Bíblia, está cheia de alusões a seres celestiais identificados como anjos, e que ocasionalmente aparecem aos seres humanos trazendo ordens divinas. São citados em vários textos místicos judeus, especialmente nos ligados à tradição Merkabah. Na Bíblia são chamados de מלאך אלהים (mensageiros de Deus), מלאך יהוה (mensageiros do Senhor), בני אלוהים (filhos de Deus) e הקדושים (santos). São dotados de vários poderes sobrenaturais, como o de se tornarem visíveis e invisíveis à vontade, voar, operar milagres diversos e consumir sacrifícios com o seu toque de fogo. Feitos de luz e fogo, a sua aparição é imediatamente reconhecida como de origem divina também pela sua extraordinária beleza.
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Short Story:
Despiu as asas e voou. Já não precisava delas. E depois, o fim.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

BACK

Voltei.
Cuidado!
Estive duas semanas a escrever sem parar com a pica toda.
Não tive distracções supérfluas como trabalho, vizinhos chatos, depressões ou televisão.
Fui só eu, muito mar, muita onda, gaivotas a dar cum pau, libelinhas às páletes, resmas de folhas brancas (literalmente), um lápis bem afiado (converti-me aos lápis, são o meu novo fétishe ... sou uma rapariga simples ...) e centenas de ideias a rasarem o ar à minha volta como balas no meio duma batalha em plena II Guerra Mundial.
Venho artilhada até ao tutano de milhares de palavras, pontuação e reflexões do mais estúpidamente idiota que é possível imaginar.
Estou com o gás todo.
Agarrem-me!
Ou agarrem-se!
It's show time!
I'm back.
fdklf
P. S. Não que isto interesse ao menino Jesus, mas pronto. Sou como o Jack Nicholson - faço a festa sozinha. Há loucuras bem piores ...
lfkdçfkl
A comparação com o Jack não é coincidência. Sábado escrevi um texto sobre esse senhor, que aparecerá por aqui brevemente. Nesse texto faço menção a Paul Newman e qual não foi a minha surpresa, quando no dia seguinte ouvi dizer que ele morreu. Há coincidências no mínimo estranhas.
jfdkfj
Fica por isso a homenagem, que não podia falhar.
Morreu o homem mais belo do planeta.
Um dos actores mais extraordinários de todos os tempos. Um virtuoso da representação.
Um homem que era o sinónimo absoluto de classe.
Um filantropo incansável.
Um ser humano perfeito, não apenas pela sua beleza mas sobretudo pelo seu talento e ainda mais pelo seu humanismo, humildade e dignidade.
Morreu Paul Newman.
Goodbye, blue eyes.
dfjkldsf

domingo, 28 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 16

VXVC
O último dia no Paraíso.
O mar está azul luminoso e coberto de diamantes cintilantes de sol.
Não me vou esquecer da areia, das conchas, dos búzios minúsculos, das estrelas do mar com pernas cortadas, das alforrecas, deste mar imenso, do céu azul, das nuvens de farrapos ou em grossos cachos ou a sarapintar o horizonte, do homem das bolas de berlim com creme e sem creme, da senhora dos pastéis de nata e de amêndoa, do céu de todas as cores, do sol amado na pele, dos castelos e das catedrais de Gaudi de areia molhada, das pegadas à beira-mar, do levante e das ondas de todos os tamanhos, das bandeiras verde, amarela e encarnada, das conquilhas apanhadas na maré baixa, de todas as marés e de todos os humores, do horizonte lá ao fundo com a serra, da curva da costa ao longe, dos passeios, dos pôres-do-sol deslumbrantes, das conquilhas saborosas, do casino, das bicicletas, da promenade, da avenida comprida bordejada de palmeiras, do mini-golf do hotel, da estrada para a Vila Real, da mata, do parque de campismo, dos mirones, do maluquinho da vila, do velho Carolino e seu espírito empreendedor, da casa dos frangos e seu Adónis suado, da Igreja e seu sino repicante, da feira e sua parafernália e barulheira infernal, da Senhora do Paraíso, bonita e digna passando entre os feirantes e os churros e os carrosséis, dos pescadores a regressarem do mar lutando por vezes com as ondas gloriosas e monstruosas, dos românticos e atrevidos conquilheiros traçando linhas mar dentro com as suas redes e as suas pernas destruídas com reumático, dos Marés Vivas que passam nos seus carros artilhados de bóias salva-vidas, da polícia marítima e suas motas todo-o-terreno, dos cafés do largo e seus “mirones” do socialite, dos cafés da Avenida, do chinês e seu néon brilhante, da araucária no jardim a balançar cada vez mais para o lado esquerdo ...
Não me esqueço nunca de nada ...
Até para o ano, Paraíso ...
HNNHN

sábado, 27 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 15


DSDSA
O dia nasceu nublado. A maré continua cheia, a transbordar e desta vez cresceu pela praia dentro, obrigando a dois recuos na direcção das dunas com a tralha toda atrás.

Pela tarde a praia encheu-se de gaivotas na areia. Os machos brancos e cinzentos são majestosos e metem respeito, rasando o areal ou pairando sobre a ondulação e poisando com um domínio aerodinâmico extraordinário. Podia observá-los todo o dia e não me cansaria. As pequenas saltitam pela areia e correm em fast forward, treinando vôos rasantes e baixos.
GFGFG
Jantou-se no Vicius, rústico, cosy e caseiro. Uma sopa de bacalhau inventada pela esposa do dono que explicou “Quando a minha mulher a fez, disse-lhe: ‘Andas sempre a inventar coisas!’ Mas comi três vezes seguidas!!” E era boa. Seguem-se uns bróculos gratinados, com camarões fritos. E para finalizar uma tarte de requeijão caseira. Divinal. Ele bem quis impinjir o cocktail de raia (que sabe a lagosta, aparentemente), mas não conseguiu. Não como espécies raras. E o bom do senhor lá explicava no seu inglês macarrónico a todos os estrangeiros que lá iam parar que “We are a small restaurant that serves typical portuguese food. We don’t have many courses but every meal is made with fresh ingredients bla bla bla” e lá tentava impingir o seu cocktail de raia ...
FFDSFG

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 14

SDSADFDSF
Os últimos dias no Paraíso são sempre nostálgicos.
O count down começou.

Para piorar as coisas, é sempre nos últimos dias que o tempo parece pôr-se melhor, como se para mangar da nossa despedida.
Passeia-se de bicicleta, mas estou perra e tenho medo das curvas. Longe vão os tempos em que voava por essas ladeiras fora sem medo de nada. Longe vão os tempos em que descia passadeiras à velocidade de Fórmulas 1 sem receio de ficar espalmada lá em baixo na areia, de nariz enterrado.
Durante o passeio de bicicleta vislumbramos o ocaso mais extraordinário de há muito tempo. O céu está magnífico, de um azul intenso, salpicado de grandes farrapos de nuvens em tons de rosa e roxo e o sol é uma bola de fogo descomunal, gigante e obesa, laranja intenso, a transbordar de vaidade perante o olhar cúmplice da irmã lua. É fácil perceber por que muitos povos antigos veneravam o sol, quando se o observa deste modo.
E o Paraíso não merece menos que isto.
Hoje o casino não foi generoso e recordo uma velha máxima – nunca repetir máquinas de um ano para o outro.
A noite acaba com uma caipirinha no 42, bar in da Avenida, onde se observa a night crowd.
FGFHFGH

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 13

FDF
De manhã a bandeira sangra encarnado e promete ondas espectaculares.
Na praia joga-se ténis a alta velocidade e leva-se uma coça de chicotadas das ondas.
Ao final da tarde já o mar está um caldo gigantesco e pacífico de leite, que esconde profundezas ricas em algas e nos brinda com ondas gordas, grandes e mansas, as minhas preferidas.
E depois algo absolutamente inusitado. Ao longe, observo um bando de gaivotas que esvoaçam excitadas e dou por mim a pensar que as algas devem esconder refeição farta de peixe. E nisto um vulto enorme no mar, mesmo por baixo do bando das aves. Uma barbatana negra e grande, que logo desaparece. Afino a vista. Trata-se de um peixe gigantesco, mas golfinho não é, porque é negro. E de novo subitamente uma barbatana enorme seguida de corpo que mergulha e desaparece no caldo. E depois outra. E depois mais outra e mais outra. Um cardume gigante de algo misterioso. Já outros veraneantes, seguindo o nosso olhar, contemplam a maravilha ao longe, em fila indiana, que salta seguindo o líder da rota, acompanhados pelas gaivotas, em algazarra esvoaçante.
HGHGH
O ocaso hoje pinta-se de verde e indigo e algum rosa.
Depois de bela caldeirada de tamboril, uma ida contrariada ao Casino resulta num lucro de 50 euros. Nada mau!
As máquinas do feiticeiro passarão, assim, a ser o novo vício.
HJGJG

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 12

DFSS
Ida à Vila Real para passeio e descoberta de estátua da Lutegarda Guimarães de Caires, socióloga e poetisa vilarealense, junto à marina.

Em redor da estátua, na base, este poema bonito:
“É que não há um céu de tal ‘splendor
Nem rio azul tão belo e prateado
Como o Guadiana, o meu rio encantado
De mansas águas suspirando amor!”
JHJHJ
De regresso à praia, tomo 3 banhos longos e aqueço ao sol como um lagarto feliz.
Gosto do Paraíso, não porque seja perfeito, longe disso. A casa está velha, o jardim já conheceu muitos melhores dias, há mirones estranhos na praia e conquilheiros demasiado atrevidos. Os supermercados não têm tudo o que queremos, é preciso arrastar com uma bilha de gás todos os anos, há sempre um estor estragado e mais umas pedras que cairam da varanda de cima.
Mas há o mar ... o mar ... o mar ... cujos humores conheço melhor que a palma das minhas mãos, porque devo ter olhado para ele muito mais vezes, há as gaivotas reais e majestosas a cruzarem os céus ou a mergulharem em loopings picados para pescar, há o areal cor de açúcar amarelo, as palmeiras e a velha, torta, mas resistente araucária, há os passarinhos a chilrear na velha palmeira da vizinha, os conquilheiros recortando as suas silhuetas contra o sol poente na maré vazia.
E há a liberdade. E a paz.
KJKJ

terça-feira, 23 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 11

FDF
Gaivotas em terra. Muitas. Poisam num espectáculo de grandiosidade aerodinâmica inigualável. E quando levantam vôo, levam o céu na ponta das asas.

Tenho concorrência. Pela segunda vez aparece a sereia de abundantes e orgulhosas gorduras, transbordantes de seu biquini diminuto. A sereia é, portanto, gorda, mas não se rala com isso e exibe suas carnes rafaelitas aos passeantes, que a devoram com olhares gulosos.
Sinto a falta do meu admirador mas o marinheiro não se avistou em parte nenhuma do areal.
KFLÇDKF
Hoje tenho duas missões: bronzear a barriga e as costas (uma trabalheira desgraçada ...) e conseguir fotografar uma libelinha em condições.
Tentei ficar imóvel, com o telemóvel em posição durante meia hora.
Tentei um pauzinho com uma uva espetada e o telemóvel em posição durante outra meia hora.
Rastejei pela areia qual soldado americano em plena selva vietnamita.

Havia 3 exemplares verdadeiramente magníficos, a esvoaçarem à minha volta, como que a mangar da minha paciência – uma safira verde enorme, um rubi médio e o topázio miniatura. A certa altura colocaram-se em paralelo, quais helicópeteros em formação de ataque, asas efémeras e transparentes a tremelicar ao vento.
Desisti, mas apenas por hoje. Tinha que trabalhar para o bronze.
KDJFLKJ

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 10


FLÇ~DF

Infelizmente, hoje acordámos para uma dura realidade - a mãe gata levou o seu filhote para outras paragens, pelo menos durante o dia. Os gatos poderão não regressar à base. Desejamos-lhes sorte nas suas 7 vidas periclitantes de gatos vadios.
fjgldfk
Antes das 2 já estamos na praia para levar com o vento nas fuças e sermos brindados com pequenos apontamentos de sol entre as grossas nuvens de Setembro. Raios luminosos descem dos céus como visões celestiais.

Experimenta-se a dança da pesca de conquilhas, com os pés a esgravatar a areia à beira-mar. Mas sem sucesso. São pequenas e esquivas. Os poucos conquilheiros avistados também vinham de mãos a abanar.

Passeia-se até à Praia Verde, cujo nome suponho provir da sua proximidade à mata. Habitat natural, julgo, da maior colónia de camaleões de Portugal. Mas os pobres estão em vias de extinção, graças ao entusiástico empreendimento imobiliário que se encarregou de lhes destruir lenta e afincadamente o poiso costumeiro. Nota-se. Quando era miúda lembro-me de os ver, horrorizada com os seus movimentos lentos, mas também maravilhada com as súbitas mudanças de cor assim que pisavam o parapeito cinzento do jardim. Há anos que não avisto nenhum.

FDFDF

domingo, 21 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 9


LKÇLK
Hoje, maravilha das maravilhas, agarrei o bichano desprevenido e peguei nele ao colo. Ficou paralisado de medo, com as patinhas todas abertas e senti-lhe a vibração do ronronar debaixo dos dedos, na região do pescoço. Quando o larguei saiu a correr disparado e foi-se esconder na sua casota.
Está cada vez maior e mais vivaço, trepa ao tronco da videira e lá fica pendurado, a fazer-se de Tarzan do Paraíso.
À noite, fica a espreitar nas escadas, à espera da chegada da mãe. Volta desiludido para dentro quando a mãe está atrasada.
fgggg
Milionésima visita a terras de nuestros hermanos para ir buscar gambas de Moçambique, grandes, gordas e suculentas, frescas, no ponto exacto e com o cheiro no dedão para ficar.
Confirma-se que o calor é sempre maior, mal se atravessa a fronteira.
Confirma-se o mesmo desplante orgulhoso, a eterna falta de civismo nas passadeiras para peões, a mesma tara de sempre por scooters barulhentas, a mesma hora da siesta, o mesmo tagarelar divertido de castanholas sevilhanas.
Confirma-se a presença de alforrecas no rio, a boiarem felizes próximo do ferry.
KJLJ

sábado, 20 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 8


LJLK
Antes da praia, substituição da merenda do gato e nova tentativa de aproximação. Ele aprochega-se, sissia miudamente e foge. Um mimo. A mãe quase que nos matava com o seu olhar rosa fulminante, quando se apercebeu que estávamos demaisado próximos do bichano. Quando saímos, lá estava ela no seu posto de sentinela habitual, debaixo de um carro estacionado na rua, agachada em posição de ataque.
Aparentemente o bichano já desce as escadas e segue a mãe até ao portão grande. Continua um mistério a possibilidade de ela já o ter introduzido na selva exterior.
jlk
As gaivotas vêm aos bandos a fugir das nuvens que se acumulam para outros lados. E as gaivotas têm sempre razão.

Passeio na praia porque o vento corre veloz. Constatação de que o Paraíso tem muito menos conchas que Tavira e que dantes talvez tivesse mais. O Paraíso desconchizou-se.
As crias de gaivotas esvoaçam sobre as ondas da beira-mar e os adultos pairam imponentemente no ar, com dificuldade em rumar contra o vento forte.
JHJH
Dada a impossibilidade de permanecer mais tempo a enfrentar a areia que nos atinge como setas afiadas de todas as direcções, foge-se da praia, e ruma-se às lojas em busca de mais vestidos de verão.
Na varanda, sem nada para pensar, a não ser revistas, cremes, cores de vestidos e missões impossíveis – fotografar libelinhas.
E aprecia-se o maravilhoso céu nublado de Setembro. Grossos mantos de nuvens reflectem rosas, azuis e roxos, enquanto a noite cai lenta e suavemente sobre o Paraíso. As luzes da Avenida acendem-se. O pagode chinês começa a intercalar o seu néon verde e encarnado e o casino acorda.
As ondas revoltas do mar cobalto rugem ao longe, inquietas.
O Paraíso está calmo. Os feirantes levantam as últimas tendas.
Toma-se a decisão de tentar pelo menos não perder um único entardecer do Paraíso. São todos deslumbrantes.
Dantes havia, parecia, tanto tempo para tanta coisa, quando o tempo era a última coisa em que se pensava.
Agora, que nos lembramos sempre dele e de o amaldiçoar, parece correr cada vez mais veloz, como se mangasse de nós e do nosso desespero.
JKKLJ

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 7

CVVC
Quando acordo espreito a varanda e solto uma exclamação de alegria e o sorriso de menina de 12 anos surge automaticamente na boca e nos olhos a dançar irrequieto – bandeira amarela. É a minha cor preferida na praia.
O amarelo das ondas que rugem, das correntes que puxam e provocam remoinhos, da água turbulenta e espumosa, onde se salta e cabriola até à exaustão.

O mar ruge e os gritos dos vendedores de bolas de berlim ecoam pela vila inteira. “Boliiiiiiiii Berlimmmmm! É com creme e sem creme!” Os veteranos dão uma voltinha graciosa no “i” de “Boli”, fazendo com que aquilo pareça um apito humano.
E o mar ruge e dança.
fkçdfk
Aleluia! Afinal o bichano ainda existe. São e salvo, foi surpreendido à hora do jantar, em cima do tronco da videira. Tentei chamá-lo, mas ele apenas imitou uma muito ténue amostra de ameaça sissiada, recuou e ficou parado, de olhos negros esbugalhados, sem fugir, mas sem sombras de vontade de se aproximar.
Aparentemente, a sábia mãe deixa-o na creche todas as noites, onde tem a certeza que ele está seguro e bem alimentado, enquanto faz as suas rondas nocturnas de chefe de família. de dia leva-o para lhe mostrar as agruras do mundo real. Bela e sábia mãe.
Mais tarde, de volta do jantar, surpreendemos mão e filho a fugirem nas escadas. Pelos vistos, a mamma, ou dorme com o seu rebento, ou vem dar-lhe aulas nocturnas.
HJKHJK

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 6


Ç~~
Constroem-se catedrais de Gaudi na areia molhada.
Depois leva-se com um banho forçado de água gelada à conta de uma onda traiçoeira que arrasa em 3 tempos os castelos.
Confirma-se que os pardais fizeram as pazes com a palmeira da vizinha do lado e voltaram a ninhar lá ao entardecer. Mas a chinfrineira não é a mesma de outros tempos, quiçá porque o bando se dividiu em várias facções. Os ramos agitam-se ao vento e a creche chilreia numa algazarra descomunal, disputando os melhores lugares para o sono dos justos. Sempre à hora certa, como relógios de precisão suíça.
Olho o mar e digo “Cheira-me a levante.”
Aparentemente a mãe gata levou o filho do quintal para o introduzir na selva da vida, porque o bichano não é avistado desde ontem à tarde. A partir de agora aprenderá que a vida é muito mais complicada do que a pacatez do nosso quintal das traseiras.
ÇLLÇ~
Hoje janta-se no melhor italiano do Paraíso, gerido por um verdadeiro italiano exuberante que canta pelo restaurante fora, sem vergonha e recebe seus convivas com boa conversa. As entradas de pão saloio com tomate são divinais e a famiglia regala-se com o minestrone saboroso, as massas caseiras a cheirarem a ovo e a mousse de chocolate de atirar à parede, poderosa.
No bar irlandês em frente os turistas regalam-se com os cocktails de palhinhas gigantescas, enquanto os plasmas passam dois jogos de futebol e a música é dos saudosos 50’s.
Uma ida apressada ao Casino e a máquina do Frog Prince presenteia-me com 10 euros de bónus e 1/3 do jantar pago.
O trio de jazz toca no Tropicana, enquanto se joga crapô na varanda e constato finalmente algo que já me andava a moer a cachimónia de há uns anos para cá – o Paraíso tem um efeito estranho no meu corpo, incho literalmente no segundo dia depois de chegar. Não há, portanto, bela sem senão e até o Paraíso tem paradoxos desconcertantes, como se fosse o preço a pagar por tudo o resto. E se assim for, é um preço perfeitamente acessível e justo :)
Ao deitar, ouço o mar rugir e dar-me razão. Conheço este mar melhor que a palma das minhas mãos.
ÇLLÇ~

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 5


LÇCKV
De saída para a praia, o National Geographic no quintal das traseiras.
A mãe gata, arisca e desconfiada, de olhos cor-de-rosa esbugalhados, vem ensinar ao filhote a sair do confroto da casota. Mas a criança é medrosa, apesar de brincalhona. Saltita e piparota no pequeno espaço, revolve o canteiro de terra, espreita para dentro do balde abandonado, empina-se nas costas da progenitora, mas nem pensar em descer os famigerados degraus.
A mãe espera, paciente. Avança no terreno, senta-se na base das escadas. Repete a operação n vezes, mas o gaiato deixa-se ficar teimosamente para trás e só se arrisca até ao portão branco, enquanto solta pálidos miares deliciosos.
jlkj
O admirador da praia confirma-se definitivamente. Hoje sou brindada descaradamente com dois assobios baixinhos. O rapaz é atrevido! Os mancebos jogam à bola e uma das balizas é estrategicamente colocada na minha direcção, para que o guarda-redes consiga apreciar a donzela (moi!) quando vai buscar as bolas.

fçlç~f
Avista-se o primeiro “helicóptero” desta temporada. Trata-se de um magnífico exemplar verde, debatendo-se ferozmente contra o vento, agarrado a um pauzinho espetado na areia, como se estivesse a combater um verdadeiro tsunami. Já desesperava pela falta deles. Estarão em vias de extinção? Esperemos que não. Para bem da continuação da beleza deste Paraíso.
fkdl~

terça-feira, 16 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 4


GHGH\~

Mas o Paraíso não tem este nome por acaso. No dia seguinte já se consegue ir à praia e está um dia espectacular.
Suspeito de admirador novito e confirma-se. O rapaz joga à bola com o seu companheiro perto da água enquanto vou a banhos. Fico agradavelmente surpreendida, dada a recente aquisição de um leve pneu, mas não dou muita importância ao caso. No Paraíso os admiradores são como as marés e os ventos, vão e vêm, vão e vêm e mudam de direcção num piscar de olhos.
LÇÇJL

Rumamos a Tavira para degustação de conquilhas, esse manjar de deuses menores e mais brincalhões, com os tios “bifes”, que nos vieram visitar. O bife ficou “agarrado”, como eu calculava. É homem de acepipes. A bifa torce o nariz e prefere mastigar alhos como quem mastiga mints, uns atrás dos outros, para me escandalizar e fazer o dono do bar soltar gargalhadas e esta máxima de vida “Somos todos diferentes, como os dedos das mãos. Se fôssemos todos iguais, seria muito aborrecido.” Tenho dito.
Passeia-se pela parte velha da vila e regressa-se pela ponte romana que, de acordo com a tabuleta, é erroneamente julgada romana mas remonta ao século XII, após a chegada dos mouros a terras de Portocalo. Do outro lado existe ainda um memorial em honra dos mui valorosos habitantes da vila que pereceram a defender as suas portas contra os ímpios.
kflkfd

Há um gato, esquecido ou abandonado ou perdido da mãe, que já foi avistada 3 vezes. Como a mãe, é branco de neve, silencioso como um fantasma e assustadiço como todos os felinos. A mãe deixou-o dentro dum velho cubículo de arrumações no quintal das traseiras. Deixamos-lhe leite e pão molhado. Ele come. E insiste em dormir cá fora num colchão improvisado com folhas secas caídas da videira e lixarada que o vento trouxe. Apanhamo-lo a dormir enrolado como um novelo invisível de brancura contra a cal das paredes. Deixámos-lhe um cesto com um pano resquício de velhas cadeiras de lona de praia, mas o bichano continua a preferir as folhas mortas. Manias de bichanos selvagens. Não foge, mas é tímido e muito arisco. Somos os primeiros humanos que vê, que privilégio! e que responsabilidade!

HJHJ

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 3


FDSF

O anjo Celso aparece de manhã para ressuscitar o esquentador e oferecer banhos quentes ao corpo cansado.

A única coisa que mexe são os céus, agitados por nuvens negras, e o vento que uiva nas esquinas.

A araucária está menos inclinada que noutros anos e ostenta 3 pinhas resistentes lá em cima.
Ao crepúsculo as gaivotas sobrevoam o Paraíso, prenúncio de mau tempo - “gaivotas em terra, tempestade no mar.” Tudo está silencioso, como na calmaria antes da tempestade.
fkldjsf
E depois o dilúvio cai sobre o Paraíso, como não há memória. A tempestade começa por volta das 9 da noite e só termina perto da 1 da manhã. Corre-se pela casa fora para avistar o espectáculo de relâmpagos que iluminam os céus como se fosse de dia. Os trovões ribombam e parece que destroem tudo à sua volta. E a água cai dos céus e não pára, escorre por valas e degraus, entope escoadouros e ameaça inundar a casa.
A Avenida está, como de costume, completamente alagada e já forma um rio com 2 pés de altura. A luz ameaça apagar-se umas quantas vezes, mas só pela meia-noite é que se vai de vez, obrigando a recorrer a velas antigas perdidas em gavetas.
Os funcionários da Câmara e os chineses do restaurante Pagode armam-se de pára-sol e andam feitos Indiana Jones em busca das bocas de esgotos. Mas das bocas nem sinal. Para iluminação improvisa-se com os faróis de um carro, mas só a chegada dos bombeiros salva a situação.
FDSF

domingo, 14 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 2

FKLÇK
No Paraíso há dias que começam cedo. Demasiado cedo.
Acordar às 7 por nenhuma razão aparente. Voltar a acordar às 7.30 com os malucos dos caças que passam a rasar o Paraíso com um ruído de motores potentes que provocam síncopes cardíacas. Voltar a acordar às 8 por uma razão forte – foguetes em honra da N. Sra. das Dores. Voltar a acordar às 9 porque o vizinho de cima acorda cedo e decide martelar num Domingo. Voltar a acordar às 10 com a banda filarmónica em parada, com sua fanfarra de cornetas e bombos pela Avenida principal.
Desistir totalmente de dormir por volta das 11.
É dia de compras e primeira volta de reconhecimento pelo Paraíso.
Tudo está no mesmo sítio, como deve ser. Há mais um buraco aqui e ali, promessas de novos condomínios para embelezar a paisagem.
A feira instalou-se de armas e bagagens e a partir das 5 da tarde já se sabe que seremos brindados com check sounds perfuradores de ouvidos. 1 ... 2 ... 3 ... sssommm ... sssommm ...
l~çl
O estômago protesta e por isso ruma-se ao café do Firmo para um almoço tardio. Procuram-se as primeiras conquilhas do ano, mas hoje já só há ameijoas. Confirma-se que o Sr. Firmo ainda está vivo e de boa saúde. Já não tem dentes nenhuns (nem dentadura, claro está, modernices ...) mas ainda ouve e vê muito bem e, apesar de se baralhar todo nos pedidos, não usa papel.
Cheira-me a chuva e acerto. Já o Sr. Firmo tinha dito que não gostava nada daquelas nuvens lá ao fundo. E ele lá sabe. Tem mais de 80 primaveras e não deve nunca ter saído do Paraíso. Para quê? ...
Na praia descobrimos passadeiras novinhas em folha, que nos conduzem quase até ao mar, um privilégio inimaginável noutros tempos. O Paraíso cosmopolitizou-se.
Mas lá ao longe, no mar, ainda resistem os pequenos barcos de pescadores engalanados com bandeiras multicores, que aguardam a procissão da Nossa Senhora.
kçlk

lklçfk
A tradição ainda é o que era. Mesmo que a pobre senhora tenha agora de fazer um desvio significativo na sua caminhada sofrida até ao mar, para não ter de passar no meio das barracas de churros, tendas de rifas e carrinhos de choque que berram os últimos êxitos da Kátia Vanessa.
E lá se ouve o moribundo grito das sirenes marítimas clamando a protecção de uma senhora vestida de azul escuro que caminha silenciosamente por entre toldos amarelos e verdes, detritos de turistas e altifalantes histéricos.

Também as ondas ainda rebentam da mesma maneira e emitem o mesmo som imperturbável, cíclico, retumbante, segundo a segundo, como um relógio doce e poderoso, persistente, intocável e instintivo.

E a areia tem sempre a consistência perfeita.

Chove durante 5 minutos, umas amostras de gotinhas.

kjlk

Ruma-se à melhor Churrascaria do universo, para recolher um apetitoso frango e confirmar se o Adónis suado ainda lá trabalha. Está mais velho, mais gordo, mais cansado e mais encarnado do calor, mas ainda sobrevive. Enquanto ele me explica a composição dos 4 molhos diferentes, a minha mente vagueia com a ideia das suas gotas de suor pingando com sensualidade máscula sobre a pele estaladiça das aves no espeto.

A noite é agraciada com a voz de ouro de Marco Paulo, 18 churros pelo preço de 6 porque “A feira tá boa, menina” e um magnífico fogo de artifício nunca antes visto por terras do Paraíso.

Quinze gloriosos minutos com banda sonora sincronizada ao milímetro e foguetes deslumbrantes de cor, originalidade, precisão, matemática e impacto visual. Ao som dos Enigma e com direito a palmas gerais no final. Extraordinaire.
O Paraíso civilizou-se.

llklç


sábado, 13 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 1


FLÇKDÇF
O primeiro relance do paraíso é sempre uma lista esbranquiçada ao fundo, muito lá ao fundo. E depois a tabuleta com o nome secreto do Paraíso.

Confirma-se que a casa ainda está de pé, apesar de haver mais uns quantos ossos espalhados pelo chão.

Há osgas que praticam vôos acrobáticos em queda livre desconcertante.
Há carreiros de formigas.
Resquícios de teias de aranha nos cantos dos tectos.
Vestígios de bichos da madeira no chão de tabuinhas, mas nem sinal deles. Encontra-se um heróico sobrevivente a navegar dentro duma frigideira na cozinha.
Há videiras secas.
Jardins esquecidos.
Pó de um ano inteiro. Branco, com cheiro a maresia.
Há feira e foguetes de final de festa.
Vestidos coloridos guardados no armário à espera de passearem à beira-mar.
E mar, deslumbrante, lá ao fundo.
fgçlfglç~
Dá-se uma volta pela feira à noite, depois das limpezas e do primeiro repasto.
Churros bem cheirosos, malas de pele falsa, carrinhos de choque e os carrosseis do costume e ... o progresso chegou ao Paraíso – os Delfins tocam no enorme palco negro montado para as festas de Verão.
O Paraíso absoluto e total. Fundamental.
JLKDJF

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

FÉRIAS!!!!

Este blog vai abrandar temporariamente para férias.
Permanecerá em piloto automático durante o restante mês de Setembro, até a pilota regressar do seu Paraíso secreto com as rubricas habituais e mais novidades!
Por isso, não deixe de vir aqui espreitar as Crónicas do Paraíso :)
fçld~f
Em Outubro, não perca:
* O novo ABC "A Fauna Fantástica de Andrómeda"
lklf
* Mais episódios da pesquisa "A Melhor Amiga de um Sniper", enquanto esta pseudo-autora se embrenha cada vez mais no mundo do crime, da morte e das armas mortíferas
lgkfkçdg
* Os "Novos Pecados Mortais", com mais pecados fresquinhos e tentadores
fdffdf
* Mais "Murmúrios de Lisboa" com anjos alfacinhas fresquinhos e surpreendentes e a adição de "No Name Nucas", uma foto-reportagem sui géneris ...
fdsfsdf
* E muitas mais surpresas fantásticas!!
lfklçdf
Despeço-me temporariamente com amizade e um agradecimento sincero a todos quantos vêm passar seus olhos por este cantinho da galáxia.
Obrigada!
Boas férias aos que vão. Bom trabalho aos que já regressaram.
lkdlç
May the force be always with you.
lkçg
Marta
çlkdg
kjgdfkl
P.S. And now, let's fucking dance!!!!
lfdlçfk

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Passo os dedos pelo dicionário ao acaso e aterro em ...

FANTASIA
lçkçgl

Torre da Regaleira - Quinta da Regaleira
çlgkçdfklg
Rapidamente nos esquecemos, como Peter Pan em Hook de Spielberg, que teve de ser lançado à força no seio dos Rapazes Perdidos, para se recordar que sabia voar, para se recordar de todos os poderes mágicos que detinha em criança.
Esse foi o génio de J. M. Barrie, quando concebeu a maravilhosa aventura de Peter e Wendy. Bastou-lhe observar as brincadeiras dos seus três pequenos amigos e retirar daí a inspiração para uma história de faz de conta intemporal e universal.
jlkjçklj
Façamos, portanto, como Barrie e abeiremo-nos de um parque infantil para espreitar crianças de 6, 7 anos a brincar. A idade é crucial. Não mais que 7, não menos que 6. Nessa idade mágica as crianças vivem num outro mundo, nunca reparaste? Então observa-as e verás.
Schiuuuu ... Abre a porta imaginária devagarinho. Não as perturbes. Não te intrometas. Observa-as atentamente e escuta-as com mais atenção ainda. Repara no que dizem umas às outras. Vê como se movem num mundo que só elas conhecem, que só elas conseguem penetrar. Verás como é possível ser-se tudo o que se deseja ser, mago, fada, marinheiro, conquistador, apenas com o poder da imaginação despojada de censura ou de consciência.
E recorda-te de ti. Consegues? Então sorri e talvez, por brevíssimos momentos, consigas regressar uma vez mais a esse lugar especial, onde tudo é possível.
lkçl
Mas cuidado.
Hoje em dia, já não se podem observar crianças alheias desse modo, ou corremos o risco de sermos catalogados como monstros ... adeptos de outras fantasias muito diferentes. Porque os adultos também as têm, de outra espécie e grau.
Para alguns não passarão nunca disso mesmo e há algumas que assim devem permanecer. Para outros, são realidades experimentadas com regularidade. Normalmente o seu número, complexidade e oportunidade de ocorrência aumenta proporcionalmente ao poder, seja ele económico, social ou político. Provavelmente, porque satisfeitas as necessidades de todos os degraus da Pirâmide de Maslow, o ser humano se liberta dos constrangimentos que o super ego lhe impõe na vida diária e solta as rédeas, muitas vezes sem olhar a meios para atingir os seus fins.
jfdklf
Mas, façamos ou não parte do grupo desses privilegiados, aventureiros ou abusadores, há sempre um pormenor que nos escapa, bem explícito na seguinte maldição, e digo bem, maldição chinesa:
"Cuidado com o que desejas, porque pode tornar-se realidade."
A fantasia, porque de fantasia se trata, é sempre perfeita. Na nossa imaginação, onde controlamos todos os seus ínfimos detalhes. Onde o argumento é da nossa exclusiva autoria. Mas transporte-se a fantasia, o sonho, para a realidade e poderá haver surpresas no mínimo que desiludam, no máximo perturbadoras.
gkçfklg
Faz então de conta que és Aladino e pede ao génio os teus três desejos.
Mas espera ... pondera bem o que vais desejar ...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

PALAVRAS EMPRESTADAS 43


gklçgk

"Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ... O tempo em que festejavam o dia dos meus anos! ..."

Álvaro de Campos - Aniversário
çfkdçkg
kglfçg
"Se alguma vez nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas de uma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez atenuada, pergunta ao vento, à onda, à estrela, ao relógio, a tudo o que passou, a tudo o que murmura, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala; pergunta-lhes que horas são: 'São horas de te embriagares. Para não seres como os escravos do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem descanso. Com vinho, com Poesia, ou com a virtude.' "

Charles Baudelaire - Poemas em Prosa
dçlfkçlkf
dççlfglçk
"Tudo, entre os mortais, tem o calor do irrecuperável e do fortuito. Entre os imortais, ao contrário, cada acto (e cada pensamento) é o eco de outros que no passado o antecederam [...] Nada pode ocorrer uma só vez, nada é preciosamente precário."
Jorge Luís Broges - O Imortal
dçjfkljg
jgklfg
"Do que gostaríamos era de continuar a comer e a beber, a dançar e a amar para sempre. No entanto, na terra dos Imortais, de Borges, há um homem que padeceu de sede durante sessenta anos: ninguém sentiu qualquer urgência em dar-lhe de beber. Outros vagueiam errantes, fantasmas de si mesmos. Entre os imortais, não haveria razão para crimes nem castigos infligidos por mão alheia, nem para ditaduras, desigualdades sociais ou enfadonhas equações da economia. Mas também nada tem fim, nada é único, 'não há coisa que não esteja como que perdida entre infatigáveis espelhos.' "
Notícias Magazine - 23 /12/07
jfkldsfj
dfjkls
"Deus disse: 'Cancelar o Programa GENESIS.' O universo deixou de existir."

Arthur C. Clarke - Revista Wired - Very Short Stories - Novembro 2006
fjdklf
çjlfkg

"do tempo. Inesperadamente, eu tinha inventado uma máquina"
Alan Moore - Revista Wired - Very Short Stories - Novembro 2006

dlfklçdf
dlçfkdlçfk
"Sou o teu futuro, criança. Não chores."
Stepehn Baxter - Revista Wired - Very Short Stories - Novembro 2006
dfkdlçf
dlçfkçlkf

"Óculos de detecção de mentiras aperfeiçoados. A civilização colapsa."
Richard Powers - Revista Wired - Very Short Stories - Novembro 2006
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dfjdklf
"Máquina do tempo atinge futuro!!! ... não encontra ninguém ..."
Harry Harrison - Revista Wired - Very Short Stories - Novembro 2006

terça-feira, 9 de setembro de 2008

MURMÚRIOS DE LISBOA LXXII

O Regresso das Estepes
kgfgj

Jardins Garcia de Orta - Parque das Nações
dkfjkld
"Players only love you when they're playing"
Fleetwood Mac
fkdlçfks
Sim, voltaste. Como a chuva. Como o sol. Voltaste. Não tive que fazer nenhuma promessa.
Os anjos ouvem as nossas preces, mesmo sem água benta.
Lá estava eu na paragem, à tarde, e tu ali, no meu último dia de trabalho antes das merecidas férias. Tu, de semblante aquilínio e com o jornal dobrado na mão. Tu e as tuas estepes, que prescrutam o horizonte. E a tua firmeza de rocha, sem vacilações. Essa firmeza de rocha que, agora já adivinho, esconde uma fragilidade que apenas os que sofrem conhecem.
Não te pude observar, porque te sentaste na minha linha de acentos, lá atrás. De vez em quando fingia observar um outro autocarro que parava ao lado, para poder sorrateiramente vislumbrar-te, mas pouco consegui.
Apenas sei que voltaste, e isso chega, Vladimir.
E apenas sei que aparentas estar bem, e isso também me chega.
fdkfk
Estávamos os dois sentados na mesma linha do percurso das nossas vidas totalmente dispares, mas havia algo a unir-nos, algo que tu desconheces. Uma fiada de palavras, de letras, de sinais ortográficos e de olhos que te escrevem e te lêem. Uma fiada de pensamentos que como um ténue fio de prata invisível, se cruza entre mim e ti, sem que tu o saibas.
Somos iguais, tu e eu, Vladimir. Frágeis na força, como dizia alguém que conheci há muito tempo. Com a nossa capa de fortaleza imensa, que ninguém adivinha, ninguém deve adivinhar, servir apenas para esconder a fragilidade imensa da folha tremelicando com o sopro dos suspiros alheios.
E uma canção, esta, que estava no mp3 quando o liguei e que achei que te acentava como uma luva.
dfç~kçg

sç~lsç~
Now here you go again
You say you want your freedom
Well who am I to keep you down
It's only right that you should
Play the way you feel it
But listen carefully to the sound
Of your loneliness
Like a heartbeat.. drives you mad
In the stillness of remembering what you had
And what you lost...
And what you had...
And what you lost
d~çlç~
Thunder only happens when it's raining
Players only love you when they're playing
Say... women... they will come and they will go
When the rain washes you clean... you'll know
glkglçg
Now here I go again, I see the crystal visions
I keep my visions to myself
It's only me
Who wants to wrap around your dreams and...
Have you any dreams you'd like to sell?
Dreams of loneliness...
Like a heartbeat... drives you mad...
In the stillness of remembering what you had...
And what you lost...
And what you had...
And what you lost
ghgfh
Thunder only happens when it's raining
Players only love you when they're playing
Say... women... they will come and they will go
When the rain washes you clean... you'll know
fdjdk
Fleetwood Mac

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

EM BUSCA DE PALAVRAS 40

Dead Man
lkdlç

lhkjh
"Todas as noites
E todas as manhãs,
Há quem nasça para o infortúnio
Todas as manhãs,
E todas as noites,
Há quem nasça
Para o doce prazer.
Há quem nasça
Para o doce prazer
Há quem nasça
Para a noite interminável."
William Blake
dçfldfº
Johnny Depp é um actor com uma série de características muito especiais, que o tornam para além de um dos melhores da sua geração, senão o melhor, um dos mais interessantes de sempre da história do cinema:

* O seu rosto é incaracterístico, caso raro, o que faz com que consiga assumir uma série de personagens totalmente diferentes, sem que as suas particularidades físicas se intrometam no caminho das do personagem

* Tem um bom gosto e um olho clínico a escolher filmes também raro nos actores que partilham a sua geração ou qualquer outra geração - temos sempre a certeza que um filme protagonizado por Johnny Depp, mesmo que o realizador não seja grande espingarda, será no mínimo interessante, no máximo uma peça de culto

* "Agarra" sempre os personagens através da morfologia do seu corpo e da sua voz, que altera consoante as circunstâncias, vindo por arrasto a personalidade. Esta particularidade pode resultar muito bem, mas também cria, na minha opinião, o seu único handicap - muitas vezes Depp peca por exagerar demasiado a atenção que dá à parte física do personagem, o que resulta num formato demasiado "burlesco" em alguns casos (gostava de o ver, para variar um bocado, num papel absolutamente normal, sem tiques e composições coreográficas ou de guarda-roupa).
kfçdlf
Dead Man não foge à equação a que Depp nos habituou. É um filme estranho, com uma atmosfera estranhíssima.
William Blake viaja de comboio até uma cidade nos confins da América, onde por acidente mata um homem e passa a ser um fugitivo. Pelo caminho encontra "Ninguém" ou "Aquele que fala sem dizer nada", um índio também ele expulso pela sua tribo porque viveu desde criança com o homem branco e deixou de pertencer a qualquer lugar.
"Ninguém", homem instruído na cultura dos brancos, pensa que William é o poeta William Blake já morto e toma-o sob a sua protecção, ensinando-lhe os caminhos sinuosos dos fora-da-lei.
Os dois serão perseguidos por um trio estranhíssimo de assassinos - um é quase uma criança, o outro adormece com um ursinho de peluche e o terceiro, nas palavras de um dos outros dois "fodeu os pais, matou-os, cozinhou-os e comeu-os".
Dead Man é a história de um homem demasiado comum que se vê subitamente lançado para um destino demasiado incomum - o de alguém que já nasceu morto e que aprenderá a "escrever" com balas a poesia da morte.
xklçk
Ah sim. E qualquer filme que tenha John Hurt, nem que seja por apenas 5 minutos, como é o caso, deve ser visto ;)

O que aprendi com Dead Man?:
* "A águia nunca perdeu tempo como quando quis aprender com o corvo."
* "A busca da visão é uma grande benção. Para tal, é preciso passar sem comida e água. Os espíritos sagrados reconhecem aqueles que jejuam: é uma boa forma de nos prepararmos para uma viagem."
klglçfgk
E o habitual cheirinho do filme:
fdsf