segunda-feira, 1 de setembro de 2008

EM BUSCA DE PALAVRAS 39


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Se Platoon é um filme de uma simplicidade quase ingénua, Apocalipse Now é um delírio artístico quase surrealista. Verdade seja dita que Francis Ford Coppola é muito diferente e um realizador muito mais complexo e rico do que Oliver Stone.
Dito isto, se foram precisos muitos tomates para fazer Apocalipse Now (a história do "making of" do filme é tão ou mais conturbada do que o próprio filme), também é preciso tomates para o ver, mais do que uma vez, no meu caso. Porque não se sai imune nem de cérebro limpo, nem capaz de se voltar a repetir a experiência tão cedo.
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Alguns exemplos?
- Martin Sheen, o protagonista, teve um ataque cardíaco em plena rodagem, deixando Coppola em pânico sem saber se iria ter de refazer o filme todo
- Dennis Hopper estava 24 horas por dia completamente pedrado e aquilo que se vê no écran é isso mesmo - Dennis Hopper completamente pedrado em todas as cenas esotéricas em que aparece a dizer os seus diálogos (não sabemos se havemos de rir ou chorar ou reflectir sobre a vida)
- A cena da bebedeira de Martin Sheen é real, ou seja, Coppola embebedou o actor, pôs a a câmara a filmar e o que se vê é Martin Sheen pôdre de bêbedo a chorar baba e ranho, num dos actos mais assustadoramente altruistas que algum actor jamais fez em nome da arte
- Marlon Brando esteve meses a negociar uma aparição que no total se conta por uns 15 minutos se tanto, e aparece sempre vestido de preto e envolto em sombras porque a sua gordura lendária começava já a tomar proporções assustadoras e foi uma das exigências que fez - de resto, todas as cenas que filmou não estavam no argumento e tudo o que o Coronel Kurtz diz é improvisado na hora, enquanto Coppola lhe vai fazendo perguntas por trás da câmara e o manda falar sobre isto e aquilo - que o resultado desses cerca de 15 minutos de "ad lib" num filme que dura umas 3 horas, seja das coisas mais incríveis que um actor já fez no cinema, é a prova (se, por esta altura, prova ainda fosse precisa) do génio de Brando (e as próprias filmagens feitas para o documentário sobre a rodagem do filme "Hearts of Darkness" em que Brando e Coppola discutem e estudam o personagem em conjunto são outro filme por si só imprescindível a qualquer cinéfilo).
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- A deixa mais conhecida do filme e uma das mais famosas da história do cinema - "I love the smell of Napalm in the morning" podia ser o slogan de promoção da própria película - mas quem, no seu perfeito juízo, é que concebe uma sequência em que uma formação de helicópteros pulveriza uma aldeia com napalm ao som das "Valquírias" de Wagner sopradas por potentes colunas acopladas aos ditos cujos, só porque o Tenente-Coronel Bill Kilgore (Robert Duvall magnífico!) é californiano e está com desejos de descer à praia para ir surfar nas ondas, enquanto os seus homens atiram rajadas a tudo o que mexe para lá do matagal????!!!!
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Termino com Coppola sic: "Eu tinha tudo. Tinha até Marlon Brando, um "joker" extraordinário e não estava a conseguir fazer nada. A verdade é que eu não fazia a mínima ideia do que estava a fazer."
E desta loucura absurda nasceu o que é considerado um dos grandes filmes do século XX ... é caso para dizer ... estes yanks não batem nada bem da bola ... e ainda bem ...
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Para quem nunca viu e devia ver JÁ!!!:
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