quinta-feira, 18 de setembro de 2008

CRÓNICAS DO PARAÍSO 6


Ç~~
Constroem-se catedrais de Gaudi na areia molhada.
Depois leva-se com um banho forçado de água gelada à conta de uma onda traiçoeira que arrasa em 3 tempos os castelos.
Confirma-se que os pardais fizeram as pazes com a palmeira da vizinha do lado e voltaram a ninhar lá ao entardecer. Mas a chinfrineira não é a mesma de outros tempos, quiçá porque o bando se dividiu em várias facções. Os ramos agitam-se ao vento e a creche chilreia numa algazarra descomunal, disputando os melhores lugares para o sono dos justos. Sempre à hora certa, como relógios de precisão suíça.
Olho o mar e digo “Cheira-me a levante.”
Aparentemente a mãe gata levou o filho do quintal para o introduzir na selva da vida, porque o bichano não é avistado desde ontem à tarde. A partir de agora aprenderá que a vida é muito mais complicada do que a pacatez do nosso quintal das traseiras.
ÇLLÇ~
Hoje janta-se no melhor italiano do Paraíso, gerido por um verdadeiro italiano exuberante que canta pelo restaurante fora, sem vergonha e recebe seus convivas com boa conversa. As entradas de pão saloio com tomate são divinais e a famiglia regala-se com o minestrone saboroso, as massas caseiras a cheirarem a ovo e a mousse de chocolate de atirar à parede, poderosa.
No bar irlandês em frente os turistas regalam-se com os cocktails de palhinhas gigantescas, enquanto os plasmas passam dois jogos de futebol e a música é dos saudosos 50’s.
Uma ida apressada ao Casino e a máquina do Frog Prince presenteia-me com 10 euros de bónus e 1/3 do jantar pago.
O trio de jazz toca no Tropicana, enquanto se joga crapô na varanda e constato finalmente algo que já me andava a moer a cachimónia de há uns anos para cá – o Paraíso tem um efeito estranho no meu corpo, incho literalmente no segundo dia depois de chegar. Não há, portanto, bela sem senão e até o Paraíso tem paradoxos desconcertantes, como se fosse o preço a pagar por tudo o resto. E se assim for, é um preço perfeitamente acessível e justo :)
Ao deitar, ouço o mar rugir e dar-me razão. Conheço este mar melhor que a palma das minhas mãos.
ÇLLÇ~

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